BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Lula (PT) reuniu nesta sexta-feira (20) ministros e líderes do governo no Congresso Nacional no Palácio da Alvorada numa mistura de reunião com confraternização de fim de ano, em meio a pressão de deputados por mais espaço no governo.
Já é dado como certo em Brasília de que, no início do próximo ano, ocorrerá uma reforma ministerial. Lula, apesar de não ter falado diretamente disso na reunião, reforçou a possibilidade de mudança na comunicação, ao convidar o marqueteiro Sidônio Palmeira para o encontro -ele é cotado para substituir Paulo Pimenta (PT) na Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência).
Ao falar da importância de 2025, Lula disse ser natural que haja mudanças. Alguns ministros entenderam se tratar de uma sinalização de reforma ministerial, outros, mais da questão fiscal, segundo relatos colhidos pela reportagem.
Ao contrário das tradicionais reuniões ministeriais, esta ocorreu na residência oficial do presidente e foi acompanhada de um almoço. A fala de Lula não foi transmitida, como de praxe, mas ele falou sobre o pacote de gastos e fez gestos ao mercado financeiro.
A cúpula da Câmara dos Deputados defende que o presidente intensifique sua participação na articulação do governo e quer ainda ser contemplada na reforma ministerial. Eles avaliam que Lula terá de fazer trocas nos assentos do Palácio do Planalto, hoje ocupados por petistas, se quiser melhorar a relação com o Congresso.
Congressistas do centro se queixam ainda da concentração de ministérios da área finalística com integrantes do PT, enquanto o partido tem uma bancada que representa cerca de 15% das 513 cadeiras da Câmara.
Eles dizem ainda que, nessas trocas ministeriais, é preciso considerar que o contexto hoje é outro do início do governo Lula e, sobretudo, da votação da PEC da Transição naquele momento.
Na ocasião, o petista distribuiu nove ministérios para obter o apoio de três partidos de centro e de direita que não pertencem ao centrão, o PSD, o MDB e a União Brasil. Em 2023, atraiu duas siglas do centrão, o PP e o Republicanos, com mais dois ministérios.
Na avaliação de um cardeal no centrão, essa configuração da Esplanada não saiu “equilibrada” desde a transição. Agora, isso fica evidenciado ainda maior, segundo ele, com as entregas de cada partido nas votações do Congresso Nacional e sua representatividade na Esplanada.
Lula agradeceu na reunião o empenho de seus ministros na aprovação do pacote de gastos, que acabou desidratado no Congresso. Ele citou nominalmente o titular da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e o chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT).
A votação na quinta-feira (19) de grande parte do pacote de contenção de gastos proposto por Haddad reforçou a necessidade de Lula melhorar sua relação com o Legislativo. A consequência direta do enfraquecimento das medidas foi a redução da economia para os cofres públicos.
Os congressistas blindaram emendas obrigatórias contra bloqueios, afrouxaram o comando para combater supersalários, derrubaram boa parte das mudanças no BPC (Benefício de Prestação Continuada) e excluíram a medida que permitiria à União reduzir os repasses futuros ao FCDF (Fundo Constitucional do Distrito Federal).
Mesmo com as concessões, o governo precisou reforçar a articulação, destacar uma tropa de ministros para mobilizar as bancadas e acenar com a liberação de emendas extras para conseguir o apoio necessário para o pacote avançar nas duas Casas ainda neste ano.
Os ministros chegaram e fizeram teste para Covid, porque a primeira-dama, Janja, e o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT), estiveram com a doença na última semana, mas testaram negativo antes da reunião. Alguns levaram flores de presente, como a ministra da Gestão, Esther Dweck.
O mandatário, no início do encontro, chamou Simone Tebet (MDB), titular do Planejamento, Haddad e Costa para acompanhar a gravação do vídeo com Gabriel Galípolo, que será o titular do Banco Central, na biblioteca do Alvorada. Segundo relatos, foram pegos de surpresa.
Depois, todos foram para o almoço, que se deu em mesas redondas no salão do palácio. Galípolo, por exemplo, estava entre o advogado-geral da União, Jorge Messias, e o controlador-geral da União, Vinicius Carvalho.
Em sua breve fala, ele repetiu que é momento de “colheita”, sem novos anúncios, e que deve ser respeitado o espaço fiscal. Ele lembrou que entregou seus outros governos com superávit.
Segundo relatos, ele falou ainda na importância da defesa da democracia, e disse ainda ainda estar feliz com a ordem de prisão contra Walter Braga Netto, general de quatro estrelas preso por envolvimento em tentativa de golpe em 2022.
Lula afirmou ainda que quer realizar em 8 de janeiro um novo ato pela democracia, em referência aos ataques golpistas que destruíram as sedes dos três Poderes em Brasília, em 2023.
A reunião desta sexta também teve um clima mais descontraído do que as anteriores, sem tantas cobranças como de hábito.
Janja foi a única pessoa, além de Lula, a discursar. Em sua fala, ela disse que estava muito feliz de estar ao lado do presidente e relatou como foram os dias de internação em São Paulo. Ela disse estar com sensação de dever cumprido de trazer o presidente bem de volta.
Normalmente, a reunião ministerial ocorre no Palácio do Planalto, mas o presidente ainda não despachou do seu local de trabalho desde que voltou de São Paulo. Ele teve de viajar para fazer uma cirurgia de emergência por hemorragia na cabeça, e ficou fora de Brasília por mais de uma semana.
Após liberação dos médicos, na quinta, voltou para a capital e ficou descansando na residência oficial. A única restrição ao presidente, segundo a equipe médica, é de exercícios físicos.
Esta foi a terceira reunião do ano. Na primeira, em março, ele cobrou redução do preço dos alimentos, ampliação do crédito para a parcela mais pobre da população fomentar a compra da casa própria pela classe média e impulsionar investimentos.
Em agosto, por sua vez, Lula liberou seus auxiliares a apoiarem candidatos nas eleições municipais deste ano, mas sugeriu que ataques a adversários sejam evitados.
MARIANNA HOLANDA, CATIA SEABRA E VICTORIA AZEVEDO / Folhapress