SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – A Prefeitura de Maceió descarta riscos imediatos de colapso nas 35 minas de exploração de sal-gema que foram desativadas da empresa Braskem e que estão na gênese do desastre ambiental enfrentado pela cidade desde 2018.
Seis meses depois do rompimento parcial da mina 18, que deixou a capital alagoana em alerta em dezembro de 2023, o cenário é de estabilidade nos poços de sal-gema. As minas seguem sendo monitoradas, sem apresentar alterações que indiquem riscos iminentes de colapso.
Apesar de não haver risco iminente, a região segue com risco potencial de novos abalos sísmicos, informou a Defesa Civil de Maceió.
“Até o momento nada indica que possa haver um risco iminente, mas o cenário pode mudar a qualquer momento como foi com a mina 18. […] Como o cenário não é normal, há risco potencial”, disse, em nota, a Defesa Civil.
A mina 18 registrou colapso às 13h15 de 11 de dezembro de 2023, após semanas sob monitoramento após abalos sísmicos. A área afetada, no bairro do Mutange, já havia sido desocupada. Não houve vítimas.
Um relatório da Defesa Civil de Maceió divulgado em janeiro apontou que a cratera aberta sob a lagoa Mundaú após o colapso da mina 18 possui 78 metros de comprimento, 46 metros de largura e 7 metros de profundidade. Grosso modo, a área corresponde a cerca de metade da área de um campo de futebol oficial e quase dez vezes o volume de uma piscina olímpica.
Análise realizada em fevereiro pela Braskem indicou que a mina 18 foi preenchida naturalmente após o colapso. Segundo a empresa, novas avaliações técnicas estão sendo realizadas para confirmar esta condição.
A Braskem informou que vem adotando as medidas para o fechamento definitivo dos poços de sal, conforme plano apresentado às autoridades e aprovado pela Agência Nacional de Mineração. A previsão de conclusão é para o segundo semestre de 2026.
Os trabalhos estão concluídos em 17 das 35 cavidades. Dentre as 13 cavidades que possuem a recomendação de preenchimento, cinco foram preenchidas, duas estão com trabalhos em andamento e seis estão em fase de planejamento.
Outras cinco cavidades tiveram o status de autopreenchimento natural confirmado. As demais estão sendo tamponadas e pressurizadas naturalmente, sendo que em sete delas o trabalho já foi concluído.
Sobre os impactos ambientais na lagoa Mundaú, a Braskem informou que estudos não indicaram alterações nos parâmetros de qualidade de água entre o período da coleta e monitoramentos anteriores ao rompimento parcial da mina 18.
A exploração mineral da Braskem está na gênese do desastre ambiental que atingiu cinco bairros da capital alagoana, com afundamentos do solo e rachaduras em imóveis registradas desde 2018.
Segundo a Braskem, cerca de 40 mil pessoas foram atingidas pelo problema, com 14 mil residências dentro da área de evacuação.
Os primeiros relatos sobre os danos no solo em Maceió surgiram em meio de tremores de terra no dia 3 de março de 2018. Na ocasião, o abalo fez ceder trechos de asfalto e causou rachaduras no piso e parede de casas, apartamentos e estabelecimentos comerciais.
Em 2019, o Serviço Geológico do Brasil, órgão ligado ao Ministério das Minas e Energia, concluiu que as atividades de mineração da Braskem em uma área de falha geológica causaram o problema.
Na época, a mineradora tinha em área urbana 35 poços de extração de sal-gema, material usado para produzir PVC e soda cáustica. Os poços estavam pressurizados e vedados, porém a instabilidade das crateras causou danos ao solo, que foram visíveis na superfície.
Um termo de reparação de R$ 1,7 bilhão foi assinado entre a Prefeitura de Maceió e a Braskem em julho de 2023 e homologado pela Justiça.
Os recursos serão uma compensação pelos prejuízos sofridos pela cidade com a perda de equipamentos públicos e arrecadação tributária, fruto do afundamento dos bairros. A conclusão dos pagamentos está prevista para dezembro.
JOÃO PEDRO PITOMBO / Folhapress