Macron nomeia mais jovem premiê na história da França e o 1º abertamente gay

MADRI, ESPANHA (FOLHARPESS) – O presidente da França, Emmanuel Macron, nomeou o agora ex-ministro da Educação, Gabriel Attal, como novo premiê nesta terça-feira (9). Aos 34 anos, Attal se torna, assim, o primeiro-ministro mais jovem da história moderna do país europeu, além de primeiro homem abertamente gay a ser indicado ao cargo.

Empossado à tarde, o primeiro movimento de Attal no novo cargo foi viajar para visitar a região de Pas-de-Calais, no norte, afetada por inundações recentes.

“Caro Gabriel Attal, sei que posso contar com a sua energia e o seu empenho para implementar o projeto de reformas e regeneração que anunciei. Em fidelidade ao espírito de 2017: superação e audácia. A serviço da nação e dos franceses”, escreveu Macron em suas redes sociais.

Attal substitui Élisabeth Borne, que renunciou ao cargo de primeira-ministra na segunda-feira (8). Borne se despediu do cargo com uma mensagem para as mulheres: “Mantenham-se firmes! O futuro é de vocês”.

O novo premiê afirmou nesta tarde que a educação continuará a ser sua prioridade também como primeiro-ministro. E definiu três eixos para melhorar a economia francesa em tempos de alta da inflação: trabalho, juventude, e o que chamou de uma “simplificação drástica da vida das nossas empresas e de nossos empresários”.

Sua missão parece ser dar nova vida ao segundo mandato de cinco anos de Emmanuel Macron, iniciado em maio de 2022. Sem maioria no Congresso, o presidente depende do primeiro-ministro para fazer avançar suas propostas —na França, o premiê aplica as ações governamentais definidas pelo presidente da República, que também o nomeia.

O movimento, ao que tudo indica, integra a remodelação governamental que Macron havia dito que pretendia promover no mês passado. Medidas como a troca de premiê não necessariamente levarão a grandes mudanças políticas, mas sinalizam um desejo do líder de tentar superar a crise causada pela aprovação de algumas leis profundamente impopulares no ano passado, como a reforma da Previdência e a dura lei de imigração.

Para a imprensa francesa, ao indicar Attal, Macron demonstrou que precisa da popularidade do novo primeiro-ministro. O jornal Le Monde, por exemplo, destacou que o presidente “rompeu com o seu padrão habitual ao escolher um perfil político para o cargo”. Em nomeações anteriores, Macron teria, de acordo com a publicação, optado por funcionários estatais e especialistas que seriam “depois relegados à categoria de simples colaboradores, destinados a nunca ofuscá-lo”.

Identificado com o grupo mais à esquerda do partido liberal centrista Renascimento, Attal começou sua carreira no movimento Jovem Socialista antes de mudar para a sigla de Macron. Tornou-se um nome familiar na França como porta-voz do governo durante a pandemia de Covid-19.

Desde que entrou no governo, ainda como secretário do ministro da Educação, em 2018, o deputado teve uma carreira considerada impecável, e passou pelo ministério do Orçamento antes de passar a comandar a pasta de Educação, em julho de 2023.

Ali, sua primeira ação foi proibir a túnica muçulmana abaya, que cobre quase todo o corpo, com exceção do rosto e das mãos, nas escolas públicas. A medida lhe trouxe grande popularidade, inclusive entre eleitores conservadores.

Nas palavras do Le Monde, Attal é um “formidável comunicador, obcecado por sua imagem, que aperta o nó da gravata ou fecha nervosamente o botão do paletó sempre que precisa falar em público”. Os integrantes de seu gabinete, apelidados de “quarteto fantástico” e de “power rangers”, são os mesmos quatro desde 2018, e o acompanham de ministério em ministério.

Attal mora com o secretário-geral do Renascimento, Stéphane Séjourné, 38. O casal se conheceu em 2015, assumiu o relacionamento dois anos depois e hoje tem uma união estável. Há dois meses, falando na televisão francesa, Attal contou como foi falar sobre o assunto com os pais. “Pai, me apaixonei por um menino”, ele teria dito.

Seu genitor, um produtor de cinema descendente de tunisianos, morreu em 2015. Sua mãe vem de uma família russa.

Jordan Bardella, 28, presidente do Reunião Nacional (RN) —o partido de ultradireita que tem Marine Le Pen como sua principal expoente—, criticou a escolha do novo premiê. “Ao nomear Gabriel Attal, Macron quer agarrar-se à sua popularidade nas pesquisas para aliviar a dor do inevitável fim do seu governo. Em vez disso, ele corre o risco de levar consigo o ministro da Educação em sua queda.”

A mudança, segundo analistas, também é uma forma de melhorar as chances do Renascimento nas eleições do Parlamento Europeu. Os resultados do pleito marcado para junho devem se inclinar mais à direita, de acordo com pesquisas de intenção de voto.

Stéphane Séjourné, o marido de Attal, declarou nesta terça, inclusive, que “com a ascensão de populistas de extrema direita em quase toda o continente, a Europa corre o risco de se tornar ingovernável”. Séjourné é o atual líder do Renew Europe, uma coalizão de partidos centristas, liberais e pró-europeus do Parlamento Europeu.

A remodelação do governo francês deverá intensificar ainda a corrida dos aliados de Macron para sucedê-lo nas próximas eleições presidenciais, em 2027. São potenciais candidatos os ministros do Interior, Gérald Darmanin; da Economia, Bruno Le Maire; e o ex-primeiro-ministro Édouard Philippe.

Ao contrário desses, convencidos de que em 2027 a divisão entre direita e esquerda dominará os debates, Attal defende que o espaço central aberto por Macron sobreviverá e, quem sabe, continuará a liderar o país. É preciso, no entanto, combinar com Le Pen, cujo partido vem crescendo continuamente a cada novo pleito.

IVAN FINOTTI / Folhapress

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