SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou em um comício desta quarta-feira (17), a 11 dias das eleições presidenciais, que sua derrota nas urnas poderia desencadear uma guerra civil no país.
“O destino da Venezuela no século 21 depende da nossa vitória em 28 de julho. Se não querem que a Venezuela caia em um banho de sangue, em uma guerra civil fratricida, produto dos fascistas, vamos garantir o maior êxito, a maior vitória da história eleitoral do nosso povo”, afirmou Maduro durante o ato em Caracas.
O líder do regime, que aparece em desvantagem nas pesquisas de opinião enquanto busca um terceiro mandato de seis anos, vem subindo o tom de seus discursos nos últimos dias. Na quinta-feira passada (11), ele já havia feito referência a uma guerra.
“Em 28 de julho se decide entre guerra ou paz, guarimba [tipo de protesto com barricadas usado pela oposição] ou tranquilidade, projeto de pátria ou colônia, democracia ou fascismo. Estão preparados? Estão preparadas? Eu estou preparado. Tenho amor pela Venezuela, tenho experiência, não tenho medo nem do demônio. Deus vem comigo”, afirmou ele em um comício no estado de Aragua, no norte do país.
A última declaração ocorre no momento em que a tensão aumenta no país. Também nesta quarta, membros da oposição afirmaram que o chefe de segurança de María Corina Machado, mais vocal crítica do regime, foi preso a 11 dias das eleições presidenciais de 28 de julho.
“Foi sequestrado o chefe de segurança de María Corina Machado, Milciades Ávila”, afirmou na rede social X o Vamos Venezuela, partido fundado por Machado. “Na madrugada de hoje, funcionários do regime entraram à força na casa onde ele se encontrava, violando todo o procedimento legal.”
De acordo com opositores do regime, Ávila, um ex-policial que trabalhava com Machado há dez anos, é acusado de violência de gênero por tentar proteger a líder e o candidato que entrou na corrida em seu lugar, Edmundo González, após um comício.
“Seu suposto delito? Ter protegido María Corina e Edmundo em La Encrucijada de Cagua, Aragua, colocando-se à frente de uma deputada estadual e uma funcionária da Prefeitura de Mariño, sem tocá-las, que queriam agredi-los enquanto comiam sanduíches de pernil”, afirmou Perkins Rocha, assessor legal da campanha.
Um vídeo que circula nas redes sociais mostra um grupo de mulheres tentando confrontar González, Machado e sua equipe. O prefeito da cidade posteriormente homenageou as manifestantes, e o estabelecimento foi fechado, assim como vários outros que atenderam a líder da oposição.
“Aquele ato foi uma provocação planejada para nos deixar desprotegidos a 11 dias de 28 de julho”, continuou Machado. “Faço um alerta ao mundo sobre a escalada de repressão de Maduro contra aqueles que trabalham na campanha ou nos ajudam em qualquer parte do país.”
Na manhã desta quinta (18), a opositora voltou às redes sociais para denunciar uma suposta tentativa de atentado contra sua equipe em Barquisimeto, capital do estado de Lara. “Nossos carros foram vandalizados e cortaram a mangueira dos freios. Agentes do regime nos seguiram desde [o estado de] Portuguesa e rodearam a região onde pernoitamos.”
Em um vídeo, Machado mostra dois carros com manchas de tinta e com escritos como “sem mais bloqueios”, no que parece ser uma referência às sanções internacionais contra a Venezuela. Em um deles, esvaziaram o óleo do motor; no outro, cortaram a mangueira de freio, diz ela.
“É claramente um atentado à vida de quem utiliza esse veículo”, diz ela. “A dez dias das eleições presidenciais de 28 de julho, poucas horas depois do sequestro do nosso chefe de segurança, Milciades Ávila.”
A líder venceu as primárias da oposição em outubro, mas foi impedida por um tribunal de concorrer nas eleições por suposta fraude, o que ela nega. González, que aparece à frente de Maduro nas pesquisas de opinião, entrou na disputa após a primeira alternativa para substituir Machado, Corina Yoris, afirmar que ter sido impedida de se inscrever no sistema eleitoral.
Três dias antes da prisão de Ávila, a oposição denunciou outros nove detidos em quatro estados do país ligados a Machado.
Um porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos disse que Washington estava preocupado com a prisão de Ávila. “Prisões sem o devido processo vão contra o espírito do acordo da rota eleitoral de outubro de 2023”, disse o funcionário, citando o documento assinado entre oposição e regime que ficou conhecido como Acordo de Barbados.
A ONG Foro Penal, dedicada à defesa de presos políticos, informou na terça-feira (16) que contabiliza 102 prisões ligadas à campanha da oposição. “Isso reflete um claro padrão de atuação contra ativistas, militantes ou mesmo colaboradores, pessoas que prestam serviços a essa opção política”, disse o diretor da organização, Gonzalo Himiob.
Maduro, que busca um terceiro mandato de seis anos, frequentemente afirma que a oposição conspira para derrubá-lo. No início do mês, o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela e vice-presidente de Hugo Chávez entre 2007 e 2008, Jorge Rodríguez, afirmou que prefeitos independentes que declararam apoio a Maduro foram ameaçados. “Mais uma vez, a direita quer semear violência no país”, afirmou no X.
O Ministério da Comunicação da Venezuela e o Ministério Público não responderam imediatamente a pedidos de comentário da agência de notícias Reuters sobre a prisão de Ávila.
Redação / Folhapress