Maduro pede auditoria de eleição a Supremo controlado por chavismo

CARACAS, VENEZUELA (FOLHAPRESS) – Pressionado doméstica e internacionalmente para que torne públicas as atas eleitorais do pleito presidencial e acusado de fraude pela oposição, o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, pediu nesta quarta-feira (31) que o Tribunal Supremo de Justiça audite as eleições. Ocorre que a máxima instância judicial é dominada pelo chavismo.

Falando em Caracas, Maduro acusou os opositores de vandalizarem o país e promoverem uma onda de violência. Também afirmou que está pronto para divulgar as atas, mas não deu prazo para isso.

“Estou disposto a ser convocado por esse tribunal, interrogado por todas as partes, investigado”, disse ele. “Sou o presidente eleito da República Bolivariana de Venezuela.”

Quase concomitantemente às falas do líder do regime, o chefe do Ministério Público, o chavista Tarek William Saab, discursava e dava sinais da onda de repressão organizada no país contra o que o regime descreve como atos de violência e depredação.

“Não vai ter clemência, vai ter Justiça”, afirmou ele enquanto mostrava uma porção de vídeos de depredação de casas e espaços públicos que afirma terem sio gravados a partir do pós-eleição.

Mais cedo, a missão da ONU na Venezuela organizada pelo Conselho de Direitos Humanos da organização e com mandato até o próximo mês de setembro, manifestou preocupação com o cenário social.

Em nota, disse que tem conhecimento de “grupos de segurança pública e pessoas vestidas como civis que, identificadas inicialmente como membros dos ‘colectivos’, disparam com arma de foto contra pessoas que estejam se manifestando [contra o regime]”.

O chamados “colectivos” são grupos sociais que trabalham em projetos de organização comunal criados na época de Hugo Chávez (1954-2013), mas que a oposição e alguns especialistas independentes dizem que se transformaram em grupos paramilitares que, armados, atual à margem da lei para fazer cumprir as ordens da ditadura.

A missão da ONU diz ter informações de atos de violência contra civis em 17 do 23 estados na Venezuela e na capital. Afirma ainda que tem conhecimento de ao menos seis pessoas mortas e outras dezenas de feridos. O Ministério Público venezuelano, por sua vez, diz que prendeu ao menos 749 pessoas e que um policial morreu nos confrontos.

Após uma campanha opositora que surpreendeu a todos pelos grandes atos organizados pelo país, a Venezuela foi às urnas no último domingo (28). Quase seis horas após o fim da votação, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anunciou que Maduro teria sido eleito com 51,2% dos votos e que o opositor Edmundo González teria reunido 44,2%.

O resultado se baseia em apenas 80% dos votos e foi divulgada pelo CNE sem qualquer detalhamento por estado, município ou centro de votação no país, como dita o regramento eleitoral. A comunidade internacional, incluindo países como Brasil e Colômbia, tem insistido para que Caracas divulgue esses documentos.

Nicolás Maduro, no entanto, foi prontamente proclamado presidente para um terceiro mandato, de 2025 a 2031, na segunda-feira (29).

A oposição reuniu ampla porcentagem das atas, já que as testemunhas das mesas de votação têm direito de recebê-las ao final da auditoria dos votos ainda nos centros eleitorais. Com esses dados, a campanha afirma que o eleito foi González, com pelos menos 66% dos votos.

Uma das declarações mais esperadas sobre o pleito presidencial ocorreu na madrugada desta quarta-feira por parte do Carter Center, organização que era basicamente o único grupo internacional independente convidado como observador para as eleições.

Após retirar sua equipe de país, o Carter Center publicou comunicado em que afirma que o processo não foi democrático e que seu grupo de especialistas não poderia corroborar os resultados porque não tem acesso justamente a essas atas.

MAYARA PAIXÃO / Folhapress

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