SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A mãe de Alexei Navalni pediu ao presidente Vladimir Putin que libere o corpo do ativista de oposição russo, morto sob circunstâncias nebulosas na sexta-feira passada (16).
Em um vídeo divulgado no YouTube, Ludmila Navalnaia, 69, diz: “Eu apelo a você, Vladimir Putin, a decisão depende só de você. Deixe-me enfim ver meu filho. Eu exijo que o corpo de Alexei seja entregue imediatamente, para que eu possa enterrá-lo de uma forma humanitária”.
O apelo da mãe, que mora na Rússia e está na cidade próxima da cadeia em que Navalni morreu, ecoa pedidos semelhantes feitos pelos aliados e advogados do ativista. Ele foi gravado em frente à prisão conhecida como Lobo Polar, no Ártico, para onde o opositor foi levado no fim de 2023.
Segundo esse aliados, na segunda (19) os investigadores do caso afirmaram que a liberação ainda vai demorar 14 dias, para fins de exames químicos. Isso levantou entre esses aliados a hipótese, dita com todas as letras pela viúva Iulia num vídeo gravado na segunda, de o governo russo está esperando o efeito de um veneno usado para matar Navalni se dissipar.
Em 2020, o ativista foi envenenado enquanto ajudava uma campanha oposicionista na Sibéria. Sua cueca foi encharcada num quarto de hotel com o agente neurotóxico Novitchok (novato, em russo), desenvolvido na antiga União Soviética e de uso conhecido por agentes secretos na Rússia.
Navalni, que acusou Putin diretamente pelo ataque, foi tratado na Alemanha e voltou a Moscou em janeiro de 2021, para nunca mais sair da prisão. Ele havia violado a liberdade condicional em uma sentença suspensa, na visão da Justiça, por ter deixado o país em coma. Depois, sua pena foi aumentada até chegar a 30,5 anos.
Na sexta, dois dias depois de aparecer aparentemente saudável e fazendo piadas em uma audiência virtual, Navalni caiu inconsciente durante uma caminhada, segundo seus carcereiros. Morreu na sequência, após tentativas de ressuscitação, por causas não determinadas. Ele tinha 47 anos, mesma idade de sua mulher.
Ninguém sabe onde está seu corpo ou quem está fazendo a necropsia. Para Iulia, isso é prova da manipulação do Kremlin. O porta-voz de Putin, Dmitri Peskov, disse nesta terça que as acusações dela são “infundadas e vulgares”, mas que não responderia sugerindo que ela está sob o impacto da morte.
Também nesta terça, a viúva pediu para que os governos ocidentais não reconheçam a eleição presidencial russa a ser realizada de 15 a 17 de março. Putin é o vencedor presumido do pleito, que deve ter outros três concorrentes autorizados dentro do sistema político russo.
E, segundo a agência Tass, o irmão de Navalni, Oleg, teve mais um procedimento criminal aberto contra si. Ele já havia sido condenado no mesmo caso em que Alexei recebeu sua primeira condenação, em 2014, e colocado numa lista de criminosos procurados em 2021. Não há detalhes sobre a nova acusação. Oleg está foragido, supostamente morando em Chipre.
Por fim, os governos da França e da Polônica convocaram os embaixadores russos em seu território para pedir explicações acerca da morte do opositor, como forma de manter pressão sobre o Kremlin.
IGOR GIELOW / Folhapress