SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A família da catadora de laranjas Mariana Moreira, 25, está em São Paulo desde o começo do ano para tentar concluir o tratamento de um dos filhos, de três anos, que precisa de uma cirurgia para corrigir uma hérnia umbilical.
Moreira é de Santo Antônio de Posse, na região metropolitana de Campinas, a 140 km da capital. A procura pelo procedimento começou no ano passado, diz ela, mas os exames feitos em sua cidade não apontaram causa para o desconforto do menino.
“Também não saíam os resultados, tudo demorava.” Ela contava sua história, na manhã desta sexta-feira (14), sob uma passarela da estação Belém do metrô, na Radial Leste, onde dormiu na noite passada com o marido e os três filhos. O local fica atrás de um ponto de ônibus, perto da esquina com a rua Monteiro Caminhoá.
“Antes eu estava na Sé, mas lá acontece muita coisa, é difícil ficar com criança.” A reportagem viu a família dormindo sob a passarela por volta das 5h desta sexta. As cinco pessoas dormiam juntas sobre cobertores empilhados e estavam cercadas por um carrinho de bebê e brinquedos.
“Liguei para o 156 às sete da noite, eles deram até três horas para passar aqui. Não veio ninguém. Quando o metrô fechou, o pessoal da segurança ligou para me ajudar. Era meia-noite, mas também não apareceram. Podem ter achado que era mentira.”
A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social afirmou à reportagem que uma equipe foi até a Radial Leste e com a rua Monteiro Caminhoá, às 20h24, e não encontrou Mariana, a família dela ou qualquer outra pessoa em situação de rua.
Ainda de acordo com a pasta, orientadores foram acionados para mais duas abordagens na Radial. Um chamado resultou no encaminhamento, à 0h49 desta sexta (14), de um homem que estava na altura do número 1.800 para o Centro de Acolhida Morada do Sol. O outro chamado referia-se à altura do número 3.832 e, às 5h57, não foi encontrada pessoa em situação de rua.
Na altura do número 96 da rua Monteiro de Caminhoá, à 1h09, uma mulher foi abordada e encaminhada para o Hotel Natal, segundo a prefeitura.
O atendimento procurado no 156, central de serviços da prefeitura, foi o Serviço Especializado de Abordagem Social. Além da própria pessoa na rua, qualquer cidadão pode indicar um local em que haja alguém precisando de acolhimento. O atendimento é reforçado, segundo a administração municipal, quando as temperaturas são iguais ou estão abaixo dos 13ºC.
A madrugada de quinta para sexta na capital ficou na média dos 13ºC, com tempo frio e seco. A situação deve se agravar no fim de semana, com o afastamento de um ciclone extratropical, que causou mortes, ventania e a queda de temperatura, e a chegada de uma massa de ar polar.
Segundo um vendedor que ajudou a família com sanduíches, café e suco, nenhuma equipe abordou a família desde as 4h desta sexta, horário em que ele começou a trabalhar. Por volta das 8h30, Mariana começou a acordar os filhos para levá-los ao núcleo de convivência São Martinho, a 800 metros dali, que oferece banho e refeições.
Mariana relatou que o atendimento na capital é a esperança para solucionar o problema do filho, porque foi em um dos serviços de consultório de rua, da pasta municipal de Saúde, que conseguiu encaminhamento para o caso.
“Dói mais quando ele pula e corre. Já passou pelo hospital Menino Jesus e foi encaminhado para o Sorocabana, na Lapa. Só falta sair a vaga para a anestesista.” Ela espera, no atendimento, receber uma data para a cirurgia.
A família já dormiu ao relento em outros períodos desde que chegou à capital. “Foram duas semanas na rua quando viemos para cá”, disse Mariana. “Ficamos um tempo no CTA [centro temporário de acolhimento] 18, no Canindé, mas acabou o prazo e tivemos que sair.”
Enquanto isso, ela disse que tenta novas vagas para a família. “Vim pra cá [no Belém] porque achei que seria mais fácil passarem as moças do coletinho.” As profissionais da prefeitura fazem busca ativa por pessoas que precisam de acolhimento.
Mariana espera que, com a liberação de agenda, a cirurgia aconteça entre agosto e setembro. Depois disso, pretende deixar São Paulo com a família. “Quero voltar para a casa da minha mãe.”
LUCAS LACERDA / Folhapress