Maeve Jinkings mostra versatilidade ao estrelar ‘DNA do Crime’ como policial

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Uma policial federal dividida entre a burocracia e o trabalho de campo. Uma mãe dividida entre a vida profissional e os compromissos maternos. Uma mulher dividida entre a satisfação pessoal e as cobranças matrimoniais. Assim é a Suellen, personagem da atriz Maeve Jinkings, coprotagonista da série “DNA do Crime”, criada pelo cineasta Heitor Dhalia para a Netflix.

“Ela fica na divisão entre o trabalho e a maternidade. Essa foi das coisas que mais me interessaram na curva da personagem, a maneira como ela insiste com o desejo dela. Ela não abre mão desse ofício”, afirma a atriz, em entrevista em vídeo à reportagem.

A lembrança não é distante da atriz. Tanto na vida real quanto na ficção. Em 2016, ela interpretou em “Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho, a filha da jornalista Clara (personagem de Sônia Braga). A jovem tinha um claro ressentimento pela mãe, também ela uma mulher dividida entre a vida maternal e a vida profissional, que a distanciou da casa e dos filhos para suas pesquisas de campo.

Na vida real, a atriz é filha de Leila Jinkings, uma fotojornalista paraense numa época de poucas mulheres na profissão, que trabalhou com figuras importantes do MDB, quando o partido era símbolo da abertura política e da redemocratização. Jinkings acredita que se não fosse a convivência com a mãe –que também lutou pela preservação de um edifício de estilo moderno chamado “Aquarius”– jamais teria perseverado em uma carreira tão dura como a de atriz.

A sua trajetória que começou em 1999 e inclui trabalhos com nomes como Carlos Reinchenbach. “Falsa Loira” (2007) é seu primeiro longa. A atriz considera, entretanto, que seu salto foi com “O Som ao Redor”, de Kleber Mendonça Filho.

A personagem de “DNA do Crime” é bastante distinta da dócil Mila, de “Os Outros”, série de Lucas Paraizo, que fez sucesso recentemente na Globoplay. Como também da Suellen de “Pedágio”, filme de Carolina Markóvicz, que teve exibição na última Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Jinkings considera a cobradora de pedágio “a antítese da Suellen de DNA”.

“Ela é uma sobrevivente. Tem um filho gay. Ela entende que é um desvio e precisa ‘consertar’ esse filho para que ele seja funcional. Ela precisa fazer tudo certo para ter uma chance na vida. Ela é uma mãe solo, superexplorada [no trabalho], [ele] é um menino preto, retinto.”

Em “Pedágio”, trata-se de uma Suellen com menos capacidade de elaboração e menos condições de se impor que a de “DNA do Crime”. A personagem da série da Netflix, uma policial federal de Foz do Iguaçu, já em sua primeira aparição, diz o que quer e a que veio: voltar ao trabalho de campo. O detonador de seus conflitos. Ou de suas fronteiras.

Fronteiras que não separam, mas que unem, essência de “DNA do Crime”. Situada na histórica Tríplice Fronteira, a série tem como locações a Cidade do Leste, no Paraguai, e Foz do Iguaçu, no Brasil e na Argentina.

Na série criada pelo cineasta Heitor Dhalia, diretor-geral do projeto, não é o Paraguai quem exporta o crime, mas o Brasil quem faz o percurso. E também da investigação. Por meio da trilha das amostras de DNA, a equipe de policiais federais encabeçada por Benício (Rômulo Braga) –cuja obsessão é vingar o assassinato de um companheiro– e Suellen desvelam uma trama que conecta um roubo realizado em Cidade do Leste com uma série de outros crimes.

Criando, assim, a maior investigação contra roubos a patrimônio da história do Brasil. O seriado –que tem como roteiristas Bruno Passeri, Bernardo Barcelos, Davi Kolb, Rosana Rodini e Mariana Vielmond– tem toda sua trama investigada inspirada em casos reais.

“O uso de DNA me interessou nessa investigação tão complexa, [mas me interessa] também o DNA como metáfora da natureza mais profunda do ser humano. No final, fui entendendo que a série também era sobre fronteiras. Fronteira sobre países, certo e errado e a fronteira factual”, afirma Dhalia. Trata-se de uma história brasileira, com um tema brasileiro. Nossos personagens são personagens da polícia, do crime, da fronteira.”

O diretor afirma que a série opera em duas vertentes. De um lado, há o aspecto de thriller investigativo e cinematográfico, com cenas de ação, assaltos, explosões. De outro, o aspecto da dramaturgia clássica. “São duas escolas clássicas”, afirma o diretor.

A primeira advém das tragédias do dramaturgo grego Sófocles, autor da trilogia tebana, que contém as peças “Édipo Rei”, “Édipo em Colono” e “Antígona”. “Das sete tragédias, seis são [com personagens] suicidas”, afirma Dhalia, que destaca o caráter obsessivo das personagens sofoclianas. Como Antígona, que confronta a ordem de Creonte para dar um enterro ao próprio irmão, sabendo que aquilo a levaria a um desenlace fatal. E, como Benício, cego pelo desejo de vingar o parceiro morto.

“Outra linha é aristotélica das personagens que vão se transformando”, diz Dhalia. Dela faz parte a personagem Suellen, de Jinkings.

A série –com oito episódios na primeira temporada, disponíveis a partir de 14 de novembro– tem início na Tríplice Fronteira, mas vai expandir-se, numa espécie de geopolítica do crime organizado brasileiro. “A série inaugura essa coisa do tema fronteira no Brasil, abre um novo imaginário cinematográfico.”

Como também, por meio de Suellen, pretende discutir o papel da mulher nas corporações policiais. “Qual a questão da Suellen? A da maternidade ligada à profissão de alto risco” afirma. Ela deseja, segundo o diretor, o privilégio que todo pai tem. “Se você for pai, você vai tocar sua carreira. Trata-se de um privilégio dado como natural. Ela quer ter o que todo o homem tem. É uma personagem que traz um debate muito interessante.”

A atriz –que frequentou clube de tiro e conversou com policiais para compor a personagem– destaca a surpresa que teve ao conversar com policiais da Interpol e descobrir que as mesmas se valiam das expectativas e clichês masculinos a seu favor nas investigações.

Jinkings destaca também as cenas de embate com seu marido na ficção, vivido pelo ator Erom Cordeiro. “As DRs deles estão construídas de maneira tão generosa”, afirma. “Eu gosto muito dessas cenas. Conseguiram manter uma integridade. Acho muito legítimo o que esse marido cobra e o que essa mulher coloca”.

DANILO THOMAZ / Folhapress

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