Maior site de profissionais do sexo do país tem regras rígidas para seus funcionários

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Maior plataforma de busca de profissionais do sexo do Brasil e segunda maior do mundo, o Fatal Model atua sob o mote “segurança, respeito e empoderamento”. A empresa diz trabalhar pelo respeito tanto de garotas de programa que anunciam no site como de quem busca por entretenimento adulto.

Para evitar preconceito em relação ao universo em que a companhia está inserida, os 315 funcionários que trabalham no Fatal Model, com sede em Pelotas (RS), precisam seguir regras.

Durante o expediente, colaboradores não podem falar palavrão ou usar termos pejorativos, e muito menos fazer brincadeiras relacionadas a sexo. Precisam também evitar elogios a colegas de trabalho, especificamente se dirigidos a características físicas.

Em entrevista à Folha, a porta-voz do Fatal Model, Nina Sag, que também atua como profissional do sexo, conta que desde o processo seletivo a companhia privilegia habilidades técnicas e perfil. “É preciso estar alinhado aos valores de respeito e segurança que a empresa quer passar”, diz.

Nina destaca que as profissionais do sexo são estigmatizadas e se sentem inibidas para dizer qual sua profissão até mesmo em um consulta médica. Segundo ela, o Fatal Model busca normalizar a atividade profissional.

Além do cuidado com os funcionários, Nina conta que o Fatal Model também se preocupa em produzir conteúdos educativos para os contratantes e as próprias profissionais do sexo.

“No nosso conteúdo para as anunciantes, a gente diz assim: ‘Você não precisa se expor tanto’. Porque não é só isso [o corpo] que vai chamar a atenção do cliente. Há orientação também em relação à forma como ela escreve o anúncio, para que adote uma postura de respeito próprio”, diz.

Segundo ela, além dos aspectos físicos da profissional, pesquisa realizada pela empresa revelou que educação e simpatia estão no segundo lugar entre os critérios para contratação do serviço.

Aliás, o Fatal Model periodicamente faz levantamentos de comportamento, o que subsidia a estratégia de anunciantes e ajuda a compreender de forma mais geral o mercado de prostituição no Brasil.

Nina conta que os sites de entretenimento adulto ganharam tração durante a pandemia, por causa das limitações do isolamento, e hoje isso tem colaborado para diminuir os tabus sobre o assunto.

Com relação às plataformas de buscas por profissionais do sexo, especificamente, Nina diz que elas contribuem para tirar mulheres das ruas, além de afastá-las de eventuais riscos em casas noturnas.

Nesse sentido, a empresa diz trabalhar para aperfeiçoar seus sistemas de segurança para os dois lados do mercado: o de anunciantes e o de contratantes.

Pelo lado dos clientes, Nina explica que o grande diferencial do Fatal Model foi ter implementado métodos de verificação para impedir que chegasse até o contratante uma mulher diferente daquela que ele viu em fotos.

Inovações tecnológicas como essa levaram a um crescimento da empresa nos últimos anos. Fundada em 2016 por três sócios que preferem não ser identificados, hoje o Fatal Model lidera o mercado, segundo a Similarweb, empresa internacional de tecnologia da informação.

Além disso, é o terceiro site de conteúdo adulto com mais acessos no país. No ranking geral, o site está entre os 30 com mais acessos no país, disputando espaço inclusive com o varejo online, plataformas de streaming e portais de notícias.

Em meio ao boom de crescimento, a empresa faz investimentos. Hoje, a companhia patrocina produtos da internet de assuntos gerais, chegando a anunciar no Flow Podcasts, e eventos de futebol.

A empresa tem visto no mundo esportivo um filão. O Fatal Model patrocina o Esporte Clube Vitória, além de clubes das Série B e C do Campeonato Brasileiro. Além disso, está presente na Série A por meio de publicidade na NeoQuímica Arena.

13% da população brasileira acessa o Fatal Model

Sem revelar o seu faturamento, o Fatal Model tem hoje 26 milhões de usuários ativos, o que corresponde a cerca de 13% da população brasileira. O número de profissionais do sexo anunciantes chega a 27 mil, espalhados por todos os estados do país.

Embora a grande maioria dos anunciantes seja mulheres, a plataforma também tem ofertas de trabalhos por homens.

Questionada sobre a forma com a qual o Fatal Model fatura, e se está dentro da legalidade, Nina diz que a plataforma funciona como um local de anúncios, assim como ocorria no passado com os espaços de anunciantes nos jornais.

No Brasil, apesar da falta de regulamentação que garanta direitos trabalhistas aos profissionais do sexo, prostituição não é crime. O rufianismo, contudo, que é o aliciamento, exploração sexual e participação nos lucros, é ilegal. No caso do Fatal Model, a companhia não está enquadrada na prática.

Nina conta que a empresa fatura de duas formas: apesar de a plataforma disponibilizar espaços gratuitos de anúncios, quem quer destaque no site deve pagar, assim como funciona em outras plataformas.

Além disso, os clientes têm acesso limitado ao número de fotos e informações disponibilizadas pelas anunciantes. Se eles quiserem acessar conteúdos premium, têm a opção de assinar um plano.

Nina diz que o Fatal Model não faz imposições às anunciantes, e elas têm a liberdade na plataforma de estipular preços por hora, quais serviços estão dispostas a oferecer e locais onde aceitam se encontrar com os clientes.

As negociações e os pagamentos ocorrem diretamente entre anunciante e contratante, sem passar pela plataforma, que não fica com nenhuma fatia do que as anunciantes recebem.

Evolução do entretenimento adulto

Os números do Fatal Model expõem o rápido crescimento dos sites de entretenimento adulto no Brasil nos últimos anos. Há aproximadamente 15 anos, 4% dos internautas do país procuravam sites com conteúdo adulto, segundo pesquisa da Hitwise.

Já em 2018, 22 milhões dos brasileiros admitiam consumir conteúdos pornográficos, de acordo com levantamento da Quantas Pesquisas e Estudos de Mercado, realizado a pedido do canal a cabo Sexy Hot.

Hoje, dos dez sites mais acessados do Brasil, dois são de conteúdo adulto: xvideos e Pornhub, conforme levantamento feito em outubro do ano passado pela plataforma Semrush.

STÉFANIE RIGAMONTI / Folhapress

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