Malária cresce no mundo e pode piorar com mudança climática

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O número de casos e mortes por malária aumentaram em todo o mundo após a pandemia da Covid-19 e o quadro pode se agravar ainda mais devido às mudanças climáticas, segundo novo relatório da OMS (Organização Mundial da Saúde)

Em 2022, estima-se que 249 milhões de pessoas foram diagnosticadas com a doença e 608 mil morreram em decorrência dela. Em 2019, período pré-pandemia, foram registrados 233 milhões de casos e 576 mil mortes. Mais de 90% dos casos e óbitos se concentraram no continente africano.

Além das interrupções causadas pela Covid, a OMS atribui o aumento a fatores como resistência a medicamentos e inseticidas, crises humanitárias, restrições de recursos e atrasos na implementação de programas.

O relatório destaca a relação da doença com as mudanças climáticas. Apesar de ter pouca informação sobre o impacto da crise a longo prazo, a OMS explica que alterações na temperatura, umidade e precipitação aliadas a eventos climáticos extremos, como ondas de calor e enchentes, favorecem a proliferação do mosquito transmissor.

À medida que o clima aquece, os mosquitos começam a se reproduzir em áreas que antigamente não o faziam porque as temperaturas eram mais baixas, acrescenta Cláudio Marinho, chefe do departamento de parasitologia do ICB-USP (Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo).

A malária é uma doença infecciosa causada por protozoários que são transmitidos pela fêmea do mosquito Anopheles, também conhecido como mosquito-prego.

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que são necessárias mais do que nunca respostas sustentáveis e resilientes à malária junto a ações urgentes para desacelerar o ritmo do aquecimento global.

No Brasil, o relatório aponta uma “redução substancial” de casos no ano de 2022 — menos 29 mil diagnósticos em relação a 2021.

Mas como no país a malária está espalhada pela região da Amazônia brasileira, que é extensa, não há uma queda uniforme, diz o pesquisador Marcus Lacerda, médico infectologista da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD).

“Os números refletem uma pequena diminuição, na prática, uma estabilidade do número de casos, mas você tem locais que tiveram diminuição e locais que tiveram aumento. A população indígena Yanomami, por exemplo, foi uma região que teve um destaque de aumento de casos nos últimos anos”, afirma o especialista em saúde pública.

Áreas indígenas concentraram mais de 25% dos cerca de 123 mil casos de malária registrados no Brasil em 2022, segundo dados do Sivep-Malária (Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Malária).

A meta da OMS é reduzir ao menos 90% dos casos de malária até 2030 em relação a 2015 e erradicar a doença em pelo menos 35 países endêmicos em sete anos. O Ministério da Saúde, no Brasil, visa a erradicação até 2035.

“A crescente resistência do Plasmodium vivax, parasita protozoário que é o causador da malária, aos medicamentos existentes atualmente é um dado muito importante e muito preocupante”, diz Marinho. Segundo ele, no país já existe resistência a drogas antimaláricas e, para combater a tendência, é necessário o tratamento precoce.

Isso é um desafio junto ao diagnóstico precoce, afirma Lacerda. Segundo ele, também é difícil controlar novas epidemias que ainda estão acontecendo, mas sobretudo controlar em áreas onde o número de casos tem diminuído.

“Manter o financiamento público, o interesse das autoridades em eliminar a doença é um desafio permanente, não só do governo federal, mas dos governos do estado e dos municípios”, diz o infectologista.

Como boa notícia, o relatório aponta a implementação gradual da primeira vacina contra a malária recomendada pela OMS (RTS,S/AS01) em três países africanos, o que levou a uma redução substancial na malária grave e uma queda de 13% nas mortes na primeira infância.

Em outubro de 2023, a organização também recomendou uma segunda vacina segura e eficaz contra a malária (R21/Matrix-M).

GEOVANA OLIVEIRA / Folhapress

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