Mamãe foi encontrar o papai lá no céu, consola irmão mais velho em Alagoas

UNIÃO DOS PALMARES, AL (FOLHAPRESS) – Breno Vitório, 18, segurava Nicollas Gabriel, 5, e tentava reconfortar o menino que há poucas horas recebeu alta do hospital. Ele estava no acidente na Serra da Barriga, em União dos Palmares (AL), neste domingo (24), que deixou ao menos 18 mortos.

Uma dessas vítimas foi a mãe dos irmãos, a doméstica Josefa Marcelino, 43.

A família teve sete envolvidos no acidente, sendo que quatro receberam alta: além de Nicollas, saíram do hospital seus irmãos Beatriz, 23, e Ana Luiza, 4, além do primo Anthony, 10. Ainda estão internados uma tia e outro primo. Eles não correm risco de vida.

“Vou lhe mostrar a mamãe. Ela foi encontrar o papai lá no Céu, tá certo?”, explicou Breno antes de descer Nicollas até perto do rosto de Josefa durante o velório dela.

Pouco depois, Nicollas saiu correndo para a rua, que estava cheia de pessoas que lamentavam a partida de Josefa. Breno então se apoiou na parede e mexeu um pouco na mão dela.

“Não é fácil, mas alguém precisava ter essa participação [de organizar o velório] e fui eu. Estive no HGE, no Hospital Geral da Mata, no IML… E agora estou aqui alinhando os detalhes do velório e do sepultamento. Ainda nem tive tempo de entender tudo o que está acontecendo”, disse ele à reportagem.

Breno havia conversado com a reportagem ainda antes de reconhecer o corpo da mãe no IML. Ele já tinha visto o corpo no local do acidente, quando os bombeiros perguntaram se ele teria condições. A partir dali, conta, pareceu terse transmutado somente para resolver o problema.

“Minha mãe era uma pessoa muito querida, como vocês podem ver. A rua está cheia. Perdi meu pai há três anos e agora perco ela também. Pelo menos vou guardar comigo as últimas palavras que trocamos. Eu pedi a ela a bênção e ela disse: ‘Deus te abençoe, meu filho’. Sei que ela vai continuar comigo”, falou.

Foram diversos cortejos espalhados pela cidade de União dos Palmares nesta segunda-feira. A maioria das vítimas do acidente morava na cidade. As ruas estavam cheias e as pessoas acompanhavam o carro funerário até o cemitério, como é tradicional no interior do Nordeste.

Entre os mortos velados nesta segunda estava o motorista Luciano de Queiroz Araújo, 47. Ele dirigia o ônibus.

A viúva, Maria das Graças de Queiróz Silva, 50, mostrou áudios de WhatsApp enviados por ele dias antes. Neles, Luciano dizia que teve problemas no veículo na última terça-feira (19). “Amor, o carro quebrou. ‘Pocou’ [estourou] a mangueira. Estou aqui tentando ajeitar”, diz o trecho.

“Uma vez, o ônibus já tinha quebrado durante uma viagem, mas antes da subida. Na terça-feira, ele me mandou esse áudio dizendo que estava com problemas mecânicos. Eu quero justiça pelo que aconteceu e pela memória do meu marido”, afirmou a viúva.

JOSUÉ SEIXAS / Folhapress

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