SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Campeonato Inglês teve sua primeira edição iniciada em 1888, finalizada com o triunfo do Preston North End. Foram necessários 136 anos até que um time o levasse quatro vezes consecutivas.
O feito coube ao Manchester City, que conquistou neste domingo (19) o certame de 2023/24. Com uma vitória por 3 a 1 sobre o West Ham, gols de Phil Foden (2) e Rodri, sustentou a liderança na competição hoje conhecida pelo nome Premier League, sobrevivendo a uma disputa palmo a palmo com o vice-campeão Arsenal.
Obteve, assim, o histórico tetra, que ficou fora do alcance dos cinco tri anteriores. Huddersfield Town (1924/1925/1926), Arsenal (1933/1934/1935), Liverpool (1982/1983/1984), Manchester United (1999/2000/2001) e novamente Manchester United (2007/2008/2009) pararam na trinca, algo que o City (2021/2022/2023/2024) conseguiu evitar.
E a hegemonia foi estabelecida em um momento no qual o Inglês é amplamente reconhecido como a melhor liga nacional do mundo. Tornou-se um sonho dos boleiros disputar o campeonato que reúne os maiores orçamentos, vários dos melhores jogadores e alguns dos principais treinadores, entre eles o principal, Pep Guardiola.
Considerado um técnico transformador do jogo de futebol no século 21, o ex-meio-campista catalão chegou em 2016 à agremiação azul de Manchester, onde rapidamente estabeleceu uma cultura de posse de bola, toques precisos e títulos. Desde sua contratação, o clube conquistou seis edições do Inglês, quatro da Copa da Liga Inglesa, duas da Copa da Inglaterra, duas da Supercopa da Inglaterra, uma da Liga dos Campeões, uma da Supercopa Europeia e uma do Mundial.
A genialidade de Pep, é verdade, tem à sua disposição fundos praticamente ilimitados. O City é desde 2008 propriedade do Abu Dhabi United Group, fundado e comandado pelo xeque Mansour bin Zayed al Nahyan, integrante da monarquia dos Emirados Árabes Unidos. Na prática, o clube é da família real, que despejou 2,27 bilhões de euros (R$ 12,62 bilhões, na cotação atual) até ver a esperada glória continental, com o título europeu, no ano passado.
Neste ano, a tentativa de bi na Liga dos Campeões foi interrompida nas quartas de final, em disputa de pênaltis com o Real Madrid. Porém o triunfo doméstico, com um tetra inglês que ninguém conseguira desde a invenção do futebol pelo povo idem, configura mais uma temporada histórica.
Não que a edição 2023/24 do torneio tenha sido realizada sem controvérsias. O Everton e o Nottingham Forest perderam pontos pela quebra de regras financeiras. E, embora tenham evitado o rebaixamento, a discussão sobre os critérios dessas punições -e de não punições anteriores- não foi embora.
O próprio City, segundo anunciou a Premier League no ano passado, quebrou mais de cem regras financeiras entre 2009 e 2018. A liga também acusou o clube de não cooperar com a investigação. Mas, após 16 meses, ainda não foi marcada uma audiência sobre o caso, o que ampliou o escrutínio em torno dos processos de governança da Premier.
Os dirigentes da equipe negam quaisquer irregularidades. Porém o sexto título inglês em sete anos só intensifica as questões a respeito das condições em que o estrelado elenco foi montado. Também suscita indagações sobre a demora na condição do processo -que, ao menos em tese, poderia resultar até na expulsão da liga, hipótese pouco realista.
A Premier League lida ainda com intensa oposição ao VAR, o árbitro de vídeo, que, comparado ao brasileiro, é uma máquina de agilidade e precisão. Segundo o Wolverhampton, embora o sistema tenha sido criado em boa-fé, houve “numerosas consequências negativas que estão prejudicando a relação entre os torcedores e o futebol”.
O clube propôs a abolição do VAR, e a questão será debatida em assembleia marcada para 6 de julho. Uma mudança depende do voto de 14 dos 20 integrantes da liga, mas, independentemente do resultado, parece que os ingleses também sentem falta do grito de gol sem revisão.
Após cuidadosa revisão, os torcedores azuis puderam celebrar neste domingo os gols de Foden e Rodri contra o West Ham. E vibraram com a conquista de mais um troféu. Ainda que haja questionamentos em torno do caminho que levou a isto, o Manchester City é o primeiro tetra de um campeonato iniciado no século retrasado.
MARCOS GUEDES / Folhapress