Marçal e Doria rejeitam comparação explorada nas redes e por adversários

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Eu não tenho nada a ver com o [João] Doria. O Doria é da turma do [Ricardo] Nunes. Então, se ele fez isso [doava seu salário de prefeito], eu já não vou fazer em homenagem a não seguir o caminho dele”, afirmou Pablo Marçal (PRTB) na sabatina Folha/UOL em julho.

A prática, porém, é outra. Empresário milionário como o ex-governador, Marçal se cercou de ex-secretários dele, adotou o discurso de outsider da política, esteve na casa dele em busca de conselhos e diz que vai ganhar a eleição para a Prefeitura de São Paulo no primeiro turno —desde 1988, isso só ocorreu em 2016, com João Doria.

Rejeitada por ambos, a comparação entre Marçal e Doria tem aparecido nas redes e sido explorada por adversários dadas as semelhanças de duas figuras midiáticas que invadiram o mundo político tradicional e, com um quê de extravagância e modernidade, despertaram curiosidade no eleitor, disparando nas pesquisas.

Embora estivessem disputando a Prefeitura de São Paulo, nenhum dos dois escondeu a verdadeira pretensão de chegar ao Palácio do Planalto.

Como “João trabalhador” fez em 2016, Marçal também exalta o liberalismo e a geração de empregos, apresentando como credencial o próprio sucesso no mundo dos negócios. Em 2017, Doria exibiu sua carteira de trabalho para rebater Lula (PT), tática que Marçal tem usado na campanha.

Outro aspecto que une as duas figuras é a relação ambígua com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Doria surfou no bolsonarismo e se elegeu em 2018 com o mote “BolsoDoria” para depois romper com o ex-presidente na pandemia e se tornar o odiado “calça apertada” para o público da direita conservadora.

Marçal, por sua vez, alinha suas falas e práticas com os valores bolsonaristas e flerta com o apoio do ex-presidente, cujo candidato oficial é Nunes. Também o apoiou em campanhas, embora tenha feito algumas críticas em 2022, quando pretendia concorrer à Presidência e evitou se posicionar entre Bolsonaro e Lula.

Quem convive com o ex-governador, no entanto, aponta diferenças no estilo de cada um, argumentando que Doria é educado e não exibe sua fortuna com arrogância, como faz o influenciador. Ressaltam ainda que o dito ex-coach é envolvido com uma série de suspeitas de fraude e picaretagem, além de estar cercado por pessoas supostamente ligadas ao PCC e ter sido condenado em um esquema de golpe bancário.

Há três meses, Doria recebeu Marçal em sua casa a pedido de um amigo comum. A aliados o ex-governador disse que a conversa foi um constrangimento e não poupou críticas a Marçal.

Segundo relatos, Marçal não apresentou propostas para a cidade quando questionado por Doria, mas disse ser melhor que os demais candidatos e que iria ser presidente. O ex-governador, até pela própria experiência, recomendou humildade e que Marçal revisse sua candidatura e buscasse se aproximar de Nunes.

Nas redes, Marçal postou que esteve com Doria para “saber os erros que encerraram a trajetória política dele”.

Em debate no último dia 19, Tabata Amaral (PSB) chamou Marçal de Doria 2.0. “Quando a gente olha ao seu redor, o que a gente vê, na verdade, é a equipe do Doria. Até a calça está mais apertadinha”, disse ela.

“Vamos encerrar o governo Doria agora, está dando 10 anos de governo Doria”, respondeu Marçal em referência à continuidade entre Doria, Bruno Covas (PSDB) e Nunes (MDB), já que um era vice do outro. No debate da TV Gazeta e MyNews, no domingo (1º), Marçal voltou a dizer que “esse governo é do Doria até hoje”.

Aliados de Marçal lembram que o coordenador da campanha de Tabata, Orlando Faria (PSDB), também integrou a gestão Doria.

A comparação foi explorada ainda pelo ministro e ex-governador Márcio França (PSB), que apoia Tabata e foi um antagonista de Doria. França chamou Marçal de “Doria mal educado” e publicou um vídeo sobre o “MarçalDoria”.

“Você vota na mesma calça apertada e ganha uma larga traição, uma mentira voltando para São Paulo. Lá vem o velho lobo na nova pele de cordeiro”, afirma.

Em grupos de WhatsApp bolsonaristas, há comentários de que “esse Marçal lembra muito o Doria” e torcida para que “não seja um novo Doria”. O influenciador também foi definido como “um Doria sem trava na língua” e “um Doria com embalagem nova”.

Um dos coordenadores da campanha de Marçal, Filipe Sabará, outrora chamado de miniDoria dada a sintonia com o ex-tucano, de quem foi secretário na prefeitura e chefe do fundo social no governo, rechaça a comparação: “de igual, eles só têm o branco do olho”.

“A diferença é que Marçal cuida de gente, é um cara focado em mudar a vida das pessoas. O Doria faz relacionamento empresarial”, diz à Folha.

Sabará rompeu com o ex-governador em 2019, antes mesmo de Doria migrar para a oposição a Bolsonaro.

Filiado ao Republicanos, partido que apoia Nunes, Sabará também foi secretário-executivo no governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) até deixar o cargo em junho deste ano. Com Doria e Tarcísio, ele atuou na área do desenvolvimento social –Sabará é o fundador de uma ONG voltada a moradores de rua.

Em 2017, Sabará ficou ligado à polêmica da farinata, chamada de “ração humana” pelos críticos. Antes defensor do biscoito que seria distribuído a famílias de baixa renda, hoje ele atribui a ideia a Doria. Um vídeo em que Sabará prova a farinata e não faz uma expressão positiva viralizou na época. “Vai do gosto de cada um”, ele diz.

“A minha participação nessa história foi só aprovar a lei contra desperdício de alimentos, eu simplesmente era o secretário que estava combatendo a fome”, justifica.

Outra polêmica envolvendo Sabará foi a sua tentativa de se candidatar a prefeito em 2020 pelo Novo, que derrubou a própria campanha e o expulsou, acusando-o de ter mentido sobre sua formação acadêmica. Sabará também foi acusado de ocultar patrimônio por ter corrigido sua declaração à Justiça Eleitoral de R$ 15 mil para R$ 5 milhões. Ele contesta as acusações e diz ter sofrido perseguição.

Braço direito de Doria como chefe de gabinete e secretário particular, Wilson Pedroso estava aconselhando a campanha de Nunes até ser contratado por Marçal no início de agosto. Ele, que integrou a gestão Doria na prefeitura e no governo além de coordenar suas campanhas, se filiou ao PSDB em 1990, mas se desfiliou no fim de agosto.

Dias antes de ser anunciado como coordenador de estratégia de Marçal, Pedroso esteve na convenção de Nunes, em 3 de agosto. Como mostrou o Painel, da Folha de S.Paulo, ele também já respondeu Marçal nas redes sociais, defendendo o prefeito e, de forma irônica, acusando o influenciador de criar “falsas narrativas”.

Pedroso justifica sua presença na equipe de Marçal por atuar profissionalmente com campanhas eleitorais, tendo publicado um livro sobre o tema.

CAROLINA LINHARES / Folhapress

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