Marçal provoca Boulos com carteira de trabalho, mas se recusa a mostrá-la à Folha de S.Paulo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O influenciador Pablo Marçal (PRTB) adotou a carteira de trabalho como um dos símbolos de sua campanha em busca da Prefeitura de São Paulo, mas se recusa a mostrá-la para a Folha.

Desde agosto, quando usou o objeto para provocar o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) durante debate eleitoral, o autointitulado ex-coach fez diversas referências ao documento e o utilizou em peças publicitárias, sugerindo que pessoas de esquerda não gostam de trabalhar.

A reportagem também pediu que Boulos, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), o apresentador José Luiz Datena (PSDB) e a deputada federal Tabata Amaral (PSB) compartilhassem a carteira, mas os candidatos se recusaram ou não retornaram.

No debate de agosto, Marçal mostrou o documento para o psolista e disse que iria exorcizá-lo, depois de chamá-lo de “vagabundo”, fazendo coro às acusações inverídicas de que Boulos nunca teria trabalhado. O conflito escalou e quase chegou ao contato físico, quando o influenciador seguiu o adversário pelo palco empunhando a carteira de trabalho.

Ambos sentaram lado a lado, já fora da câmera principal, e Marçal continuou a mostrar o documento para o psolista que, irritado, tentou tirá-lo das mãos do empresário. Cortes da cena foram muito explorados pela campanha do influenciador e viraram memes, viralizando nas redes sociais.

Apenas no perfil do Instagram, segundo levantamento do Datafolha e da empresa Codecs, Marçal fez 15 posts diferentes com menções ao episódio. O de maior engajamento registrou 1.488.011 interações e foi visto 41,3 milhões de vezes. As menções ao termo “carteira de trabalho” também explodiram nos dias seguintes ao debate, 137% a mais que o registrado no mês anterior.

Ao UOL a candidata a vereadora pelo PRTB Karen Vasconcelos afirmou ser dona da carteira que Marçal usou para atacar Boulos no debate.

O influenciador trouxe consigo e exibiu o que seria o seu documento em outra ocasião, alguns dias depois do debate promovido pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Em entrevista a jornalistas, Marçal folheou a carteira, dizendo que trabalhou 13 anos como funcionário CLT e que seu primeiro emprego foi como operador de som em uma igreja.

Nunes afirmou à reportagem que mostraria sua carteira de trabalho, mas não encontrou o documento em sua casa, segundo sua assessoria.

O prefeito já explorou o tema em sua propaganda na TV, durante o horário eleitoral, ao falar sobre criação de empregos.

“Como carteira de trabalho está na moda nesta eleição, é sempre bom informar: Ricardo fez São Paulo bater o recorde histórico de geração de emprego”, afirma a peça. Na propaganda, uma pilha de carteiras de trabalho se transforma nos prédios de São Paulo.

Em seguida, Nunes alfineta Marçal indiretamente. “E, olha, não teve nenhuma mágica, nenhuma ideia mirabolante, eu fiz o que sempre fiz na minha vida inteira: planejar, executar e colher os resultados”, diz no vídeo.

Tabata também publicou no X, antigo Twitter, um vídeo no qual mostra a carteira de trabalho, no mesmo dia do debate em que Marçal e Boulos discutiram. Isso porque a candidata Marina Helena (Novo) também desafiou a deputada a compartilhar o documento.

“Tem candidato no debate me ‘desafiando’ a mostrar minha carteira de trabalho. Deve ter achado que me pegou”, escreveu Tabata.

Marçal adotou a carteira como símbolo de campanha, mas empresas das quais consta como sócio ou administrador, como mostrou a Folha, sofrem uma série de processos por não registrar a carteira de funcionários e acumulam condenações.

Durante o programa Roda Viva, Marçal foi questionado pelo fato de algumas de suas empresas não terem nenhum funcionário registrado. Na ocasião, ele respondeu que “a maior parte é terceirizado, porque a gente mexe com muita tecnologia”.

Os processos verificados pela reportagem, porém, mostram que há relatos de funcionários como pintores, faxineiras e jardineiros que processam suas empresas pela falta de registro.

Um dos casos virou, inclusive, objeto da campanha de Boulos. O processo citado pelo psolista é contra o Resort Digital, em Porto Feliz (SP), empresa do grupo de Marçal, que tem o autointitulado ex-coach como administrador.

Além de não ter carteira assinada, um trabalhador contratado para ser gestor da fazenda disse ter sido expulso pouco antes do Natal de 2021 do local, no dia 22 de dezembro, no meio da noite, com a mulher e os três filhos. Segundo o relato do trabalhador, a família passou a noite na recepção de uma pousada da região.

Redação / Folhapress

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