RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – Vice-presidente de futebol do Flamengo, Marcos Braz tem usado seu cargo como vereador para “preparar o terreno” na Câmara Municipal em relação ao projeto rubro-negro de estádio.
A Câmara é um dos pontos-chaves para o projeto sair do papel. Isso porque o clube tem articulado com o prefeito Eduardo Paes um projeto de lei de “potencial construtivo”, onde a verba arrecadada financiará as obras do estádio.
Ciente disso, Braz tem conversado com vereadores para desobstruir eventuais negativas. As conversas abrange não apenas seus aliados de direita, mas também partidos de esquerda e do “centrão”.
Além disso, Braz teve seu pedido atendido para a criação de uma comissão para tratar do tema estádio. O vice de futebol que presidirá a comissão, que avaliará as questões relativas ao futuro projeto.
No jogo estratégico, o vereador rubro-negro do PL, inclusive, não se opôs ao projeto de São Januário que corre na casa. A primeira de duas votações sobre o potencial construtivo do estádio do Vasco ocorreu na última quinta-feira (6) e Braz votou favoravelmente, fazendo, porém, uma ressalva, deixando claro que aguarda uma retribuição não só dos parlamentares vascaínos como dos demais:
“Vou deixar clara minha posição em relação ao estádio do Vasco. É um projeto que apresenta números satisfatórios, importantes. Agora, sendo vice-presidente de futebol do Flamengo, quero dizer que espero a coerência, a correção, da mesma forma quando o projeto do Flamengo estiver aqui dentro. Nós aqui já debatemos esse assunto. Não vou falar em um acordo, mas com o mesmo sentimento de que esses projetos são bons para a cidade. Espero só que os vereadores que irão votar a favor do estádio do Vasco, onde também vou votar a favor, que eles honrem o que foi tratado aqui em relação ao Flamengo”, disse Braz.
PAES PRESSIONA CAIXA
Eduardo Paes tem se posicionado como um aliado do Flamengo. O prefeito já praticamente selou o acordo de potencial construtivo com o clube, restando apenas iniciar os pormenores burocráticos para iniciar todo o rito do projeto de lei.
O político, que concorrerá à reeleição na Prefeitura, também tem feito pressão na Caixa Econômica Federal. Isso porque o terreno do Gasômetro, onde o Flamengo deseja construir seu estádio, pertenceu ao banco estatal.
A Caixa, porém, tem feito jogo duro para o Rubro-Negro, que sinalizou com proposta de cerca de R$ 250 milhões. Inicialmente, o valor não agrada ao banco, que também não estipulou um valor considerado satisfatório para avançar nas conversas.
Paes, por sua vez, ameaça até mesmo desapropriar o terreno caso a Caixa não colabore. A região portuária e central do Rio de Janeiro tem sido a “menina dos olhos” do prefeito, que tem feito muitos investimentos e utilizado a área como instrumento político.
O QUE É POTENCIAL CONSTRUTIVO?
A legislação urbanística da cidade determina limites para edificações nas diferentes regiões ou seja, quanto poderá ser construído em um terreno em cada bairro. No caso de um estádio de futebol, nem todo esse limite é utilizado já que não há construção no gramado, por exemplo.
Em São Januário, um total de 197 mil metros quadrados de construção autorizada pela legislação não serão utilizados. O projeto permite que essa área seja negociada para ser aplicada em outras regiões, onde a área máxima construída seria menor pela legislação local.
O índice de aproveitamento desse potencial varia de acordo com a área. Na transferência para a região da Avenida Brasil, por exemplo, cada metro quadrado transferido de São Januário vai gerar um aproveitamento de 1,73 metro quadrado. Ou seja, quem adquirir 100 metros quadrados de potencial poderá construir 173 metros quadrados em um terreno na Avenida Brasil.
Já os trechos da Barra da Tijuca terão aproveitamento significativamente menor: cada metro quadrado transferido de São Januário poderá se transformar em áreas construídas que variam de 0,21 a 0,52 metro quadrado. Ou seja, 100 metros quadrados de São Januário virariam de 21 a 52 metros quadrados, dependendo do trecho.
No caso do Flamengo, o potencial construtivo a ser utilizado é o da sede da Gávea, na Zona Sul. Ainda não há, porém, uma definição das regiões disponíveis para receber esse potencial e ainda falta um aval do projeto de estádio para ele ser direcionado pela Prefeitura para a Câmara Municipal.
BRUNO BRAZ / Folhapress