BRASÍLIA, DF, E BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Um grupo de publicitários ligados ao PT tem usado sua experiência com a vitória de Lula nas eleições presidenciais de 2022 -e também com a derrota de Fernando Haddad em 2018- para reforçar a equipe de campanha de Sergio Massa, ministro da Economia da Argentina, e tentar conter o avanço do ultraliberal Javier Milei no país vizinho.
Entre os aprendizados, estão como lidar com o que chamam de “estética fálica” da ultradireita em geral, o que inclui o gesto de fazer “arminhas” com as mãos popularizado por Jair Bolsonaro (PL) e as motosserras do candidato argentino. A ferramenta utilizada na construção civil passou a ser levada por apoiadores às carreatas depois que ele apelidou de “plano motosserra” sua proposta de reduzir abruptamente os gastos públicos.
A ideia é aproveitar os acertos e erros que esses marqueteiros adquiriram no Brasil e também em outros países onde atuaram contra a ultradireita, como na eleição de Gustavo Petro na Colômbia no ano passado. Além deles, há estrategistas de várias outras partes do mundo, como a Espanha -onde os conservadores acabam de perder a chance de eleger um premiê.
O reforço chegou depois das eleições primárias, em 13 de agosto, quando Milei superou as duas principais forças políticas do país, o peronismo e o macrismo, contrariando as previsões das pesquisas. Individualmente, ele teve 30% dos votos válidos, contra 21% de Massa e 17% de Patricia Bullrich -ambos disputaram votações internas nas suas coalizões.
Os brasileiros têm atuado principalmente na análise de dados da pesquisas e de métricas dos perfis de Massa nas redes sociais, além de produzirem conteúdos para as plataformas. O ministro do presidente Alberto Fernández tem em seu desfavor o fato de comandar uma economia em crise que, com uma inflação anual de 124%, empurra cada vez mais argentinos para a pobreza.
A campanha de Massa também convidou Esther Solano, professora de relações internacionais da Unifesp, para dar uma palestra sobre o bolsonarismo, fenômeno que ela estudou a fundo. “Me chamaram para conversar porque há muitas similaridades entre Milei e Bolsonaro. Essa coisa disruptiva, da antipolítica, da mobilização da juventude, do discurso da liberdade, mas ao mesmo tempo [a difusão de] valores conservadores”, diz a cientista social espanhola.
Do outro lado, eles lidam com um grupo de jovens da geração Z que, de suas casas ou do oitavo andar de um arranha-céu em Porto Madero, em Buenos Aires, pensam todos os dias em como fazer o ultraliberal viralizar. O perfil El Peluca Milei, por exemplo, administrado pelo jornalista Tomas Redrado, 23, dispara memes diários aos seus 4,4 milhões de seguidores no YouTube, no TikTok e em outras redes sociais.
Para ajudar na contraofensiva, a equipe de Massa chegou a chamar o publicitário baiano Sidônio Palmeira, responsável pelo marketing da campanha vitoriosa de Lula no ano passado. Antes, ele já tinha ajudado a eleger e a reeleger na Bahia os petistas Jaques Wagner (2006 e 2010) e Rui Costa (2014 e 2018), hoje ministro da Casa Civil.
Palmeira preferiu, no entanto, não entrar numa campanha que já estava em curso desde junho. Quem voou a Buenos Aires, então, foi seu sócio na agência de publicidade Leiaute Propaganda e conterrâneo Raul Rabelo, filho de militantes do PC do B que também ajudou a eleger Lula e já havia atuado na campanha derrotada de Haddad à Presidência em 2018.
Foi nessa época que ele conheceu Otávio Antunes, outro integrante da atual “brigada antifascismo” na Argentina, como o grupo se nomeia internamente. Filiado ao PT e até então se definindo como “jornalista operário”, Antunes era o chefe de comunicação da Fundação Perseu Abramo, ligada à legenda, e cobria a caravana que Lula fez pelo Nordeste antes de o então ex-presidente ser preso, em abril daquele ano.
Ambos trabalharam juntos na corrida eleitoral em que Bolsonaro saiu vitorioso. Foram chamados num momento em que o PT estava com verba curta, insuficiente para contratar megamarqueteiros como João Santana e Duda Mendonça, que comandaram as campanhas do partido de 2002 a 2014.
Depois, a dupla trabalhou de forma alinhada nas eleições de 2022, Rabelo com Lula, e Antunes com Haddad pelo Governo de São Paulo -ocasião em que o ex-prefeito novamente saiu derrotado por um bolsonarista, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Antunes atuou ainda ao lado do esquerdista Gustavo Petro, na Colômbia, e do liberal Efraín Alegre, no Paraguai. O primeiro saiu vitorioso e o segundo, derrotado.
Na campanha paraguaia, estava também Halley Arrais, um terceiro nome ligado ao PT escalado pelo argentino Massa. No ano passado, o publicitário coordenou o marketing do petista Edegar Pretto ao Governo do Rio Grande do Sul. Antes, foi diretor de arte da campanha vitoriosa de Haddad pela Prefeitura de São Paulo, em 2012, e da reeleição de Dilma Rousseff, em 2014.
Mais recentemente, coordenou a comunicação da campanha de Alegre à Presidência do Paraguai e do petista Edegar Pretto ao Governo do Rio Grande do Sul, ambos derrotados.
Os três nomes já haviam sido adiantados pela Globonews. Procurados, eles não responderam aos pedidos de entrevista.
O clima no governo Lula é de preocupação com o avanço de Milei, que já prometeu inclusive sair do Mercosul. O presidente tem uma relação próxima com o atual líder argentino, Fernández, que já o visitou três vezes desde que ele assumiu o cargo. No fim de agosto, o próprio Massa se reuniu com o brasileiro.
CATIA SEABRA E JÚLIA BARBON / Folhapress