Marrakech parece seguir vida ‘normal’ após terremoto que matou quase 3.000

MARRAKECH, MARROCOS (FOLHAPRESS) – No terceiro dia após o terremoto de magnitude 6,8 que matou mais de 2.800 pessoas no Marrocos, a maior parte dos habitantes de Marrakech segue sua vida normalmente, como se nada tivesse acontecido.

Um dos destinos preferidos dos brasileiros em férias —qualquer vendedor sabe dizer “obrigado” em português—, a maior cidade próxima ao epicentro do abalo foi pouco afetada, e o turismo parece transcorrer normalmente.

A maior parte das construções que caíram por aqui foram na antiga cidade medieval, que é Patrimônio Mundial da Unesco, e no bairro judaico. Ambos os locais seguem com escombros nesta segunda-feira (11).

Algumas reportagens estimam que morreram na cidade pelo menos 17 pessoas, mas não se trata de um número oficial, que não foi divulgado. Tampouco se sabe a extensão do número de feridos. Não houve relatos de morte de nenhum turista ou nos hotéis da cidade.

No principal hospital, o Mohammed 6º, nome do atual rei de Marrocos, centenas de pessoas aguardavam notícias sobre feridos, mas a instituição se negou a passar o número de mortos ou de pessoas ali atendidas desde o terremoto de sexta-feira (8).

Há uma única pessoa em Marrakech autorizada a fornecer essas informações: o médico Abdelhakim Mustaid, diretor regional do Ministério da Saúde. Mas ele se encontra igualmente inacessível, com números de telefone fora do ar. Nas entrevistas que concedeu até agora, não falou a respeito.

Alheios a isso, vendedores abordam estrangeiros nas ruas normalmente, enquanto centenas de pessoas agora sem casa se preparavam para enfrentar, nesta segunda-feira, sua quarta noite dormindo nas ruas.

No bairro judaico, por exemplo, Amine Atmalak tentou vender tapetes à reportagem. Segundo ele, cinco pessoas morreram nas vizinhanças. Foi bem pior na vila de 300 pessoas onde mora sua família. “Perdi 17 parentes”, ele diz. “Estou contando os primos distantes também. A aldeia está totalmente destruída, com exceção da mesquita.”

Segundo Atmalak, o perigo ainda não passou totalmente nos bairros antigos de Marrakech. “Se chover, muitas casas podem cair ainda. A meteorologia, porém, não prevê chuvas nos próximos dias.

Hafid Bakalla negocia passeios no bairro antigo. “Safari até Merzouga de três dias e duas noites, a última passada em tendas do deserto e três horas de viagem em cima de dromedários. Café da manhã e jantar incluídos, tudo por € 90 [R$ 477]”, diz ele.

Ou visita de um dia às impressionantes cachoeiras de Ouzoud, a € 30 (R$ 159). “O terremoto não afetou nada. Veja, hoje já fiz 11 reservas para o safari amanhã”, conta Bakalla, a 50 metros da entrada para as tumbas saadianas dos séculos 16 e 17, essas sim fechadas devido a estragos causados na sexta-feira.

Segundo Hamid Yachou, outro agente de viagens, não houve cancelamentos em seu negócio, e as reservas para o mês de outubro estão a todo vapor. “Hoje mais cedo, um grupo pediu para ir à região montanhosa ao sudoeste, mas expliquei que ali tinha sido o epicentro do terremoto. Eles nem sabiam”, explicou Yachou, que agora sugere passeios para o sudeste de Marrakech, como o vale de Ourika.

Nenhum grande hotel da cidade, ou o aeroporto, registrou estragos. Tampouco nos pequenos hotéis da cidade velha, chamados riads, que se caracterizam pelo estilo de construção árabe, com um vão ao ar livre no centro em torno do qual ficam os quartos.

Mas, pela proximidade com as casas derrubadas, alguns hóspedes preferiram sair e buscar hotéis maiores ou mais novos. Foi o caso do riad Ksar Saad, onde as pessoas de três quartos preferiram não voltar na madrugada de sábado.

“Fora isso, não houve cancelamentos e as reservas estão normais”, conta o recepcionista Hssain Ait-Said, acrescentando que havia apenas dois quartos livres nesta segunda, dos doze que o riad possui.

As turistas holandesas Iris Hoogesteger e Krista Schormans, ambas de 23 anos, passaram pelo terremoto em uma suíte de um dos grandes hotéis de Marrakech. Desceram à rua e voltaram para dormir cerca de três horas depois.

Nesta segunda, porém, em vez de irem à piscina ou fazer um passeio pela região, elas encontraram tempo para comprar uma dúzia de garrafas de água e distribuí-las para famílias abrigadas em torno da praça Sidi Hmed el Kamel.

“Na quarta-feira, nós entraremos num avião e voltaremos à segurança de nossas casas. Mas essas famílias vivem aqui. Sentimos que era a coisa certa a se fazer”, disse Iris.

IVAN FINOTTI / Folhapress

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