Me expressei mal e fui mal-interpretado, diz Galípolo sobre falas de Selic

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou nesta quinta-feira (22) que suas falas recentes sobre mudanças na taxa Selic foram mal-interpretadas por agentes do mercado, mas que precisava estar disponível para receber críticas.

“Vim agora de uma fala em que me expressei mal e tive uma interpretação inadequada, ainda que tenha repetido várias vezes: Estou reafirmando minha fala anterior”, disse o favorito a ser o próximo presidente do Banco Central, durante evento com alunos da (FGV) Fundação Getulio Vargas, em São Paulo.

Mais cedo, uma declaração de Galípolo durante evento da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores) mexeu com o mercado financeiro e foi um dos fatores para a de alta de 1,97% do dólar.

Em declaração considerada menos “dura” por agentes do mercado, o diretor do Banco Central disse “discordar respeitosamente” das interpretações de que a instituição ficou em situação difícil em relação aos juros após declarações recentes falas de seus diretores –em especial as dele próprio.

“Na minha interpretação, posição difícil para o BC não é ter que subir juros. Posição difícil é inflação fora da meta, que é uma situação desconfortável. Subir juros é uma situação cotidiana para quem está no BC”, afirmou no evento automotivo.

Nas últimas semanas, o mercado financeiro tem analisado de perto declarações de Galípolo e do atual presidente do Banco Central, em busca de sinalizações sobre a política de juros. Na terça-feira, por exemplo, um aparente desencontro entre os dois gerou alta no dólar.

O diretor do BC reconheceu aos estudantes que existia uma certa expectativa para entender se as declarações dele manteriam o mesmo tom –declarações dele consideradas mais duras contra a inflação têm levado à interpretação de que haverá subida de juros.

Na FGV, Galípolo voltou a afirmar que o Banco Central usaria as ferramentas necessárias para atingir a meta de inflação.

“Espero que tenhamos conseguidos deixar claro que, a partir do cenário que temos hoje, a alta de juros está na mesa”, disse.

O diretor do BC evitou perguntas sobre política fiscal, mas afirmou que “todos estão vendo o tamanho do esforço” feitos pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad (PT) para atingir o equilíbrio nas contas públicas.

Nos últimos dias, a avaliação de que os juros irão subir pelo menos 0,25 ponto percentual na próxima reunião do Banco Central setembro ganhou força entre agentes financeiros.

Levantamento feito nesta semana pela Folha com 24 instituições mostra que 6 esperam uma primeira elevação da Selic em setembro, quando ocorre o próximo encontro do Copom (Comitê de Política Monetária). Na mesa das apostas, já há instituições projetando alta de 0,5 ponto percentual nos juros no próximo mês.

Embora esse movimento ainda seja minoritário, com a maioria esperando manutenção da Selic em 10,50% até o fim do ano, e nenhuma das casas esperando corte da taxa, muitas instituições consultadas pela reportagem disseram que estão em processo da reavaliação das projeções.

A meta de inflação perseguida pelo BC é de 3%, definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional, órgão federal ligado ao Ministério da Fazenda), com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo.

LAURA INTRIERI / Folhapress

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