SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Thaiane Goes, 27, chegou a pesar 140 kg. Foi em 2022 que ela resolveu iniciar o processo de emagrecimento. “Sempre fui gorda, desde criança. Minha família tem histórico de obesidade e, conforme fui crescendo, não perdia, só ganhava”, conta.
Goes é uma das participantes da versão brasileira do reality show de emagrecimento Quilos Mortais, cujo original é dos Estados Unidos. O programa acompanha pessoas que lidam diariamente com os desafios de saúde impostos pela obesidade e está disponível no serviço de streaming Max.
Dividido em seis episódios, o programa mostra ela e outros oito pacientes acompanhados por cinco médicos especialistas em metabolismo, cirurgia bariátrica e do aparelho digestivo desde o início do processo até os meses pós-cirúrgicos.
No caso de Goes, foi ao perceber falta de ar ao fazer um mínimo esforço físico, autoestima baixa e se sentir limitada por não conseguir praticar vôlei que decidiu recorrer à cirurgia bariátrica. “Queria recuperar a saúde”, diz em entrevista à Folha de S.Paulo. “Envolve estética também, mas meu foco principal foi saúde.”
“É um processo muito difícil, tem vezes que dá vontade de desistir”, afirma. “Depois de semanas que fiz a cirurgia, tive um grande resultado. Agora, estou na fase de perder bem pouco, mas preciso continuar focada na dieta e academia.”
A médica escolhida para fazer o acompanhamento de Goes foi a cirurgiã Marta Lima. Hoje especialista em tratamento cirúrgico da obesidade, ela mesma já se viu recorrendo ao procedimento para emagrecer. Na época da faculdade, por volta dos 25 anos, ela chegou a pesar 110 kg.
“Uma professora me chamou para conversar e disse ‘você está bem mesmo? Te vejo cansada, ficando hipertensa. Já pensou em bariátrica?’. Imediatamente, eu neguei, falei ‘imagina, eu não preciso disso'”, relembra.
Foi só ao passar muito mal um dia e achar que iria infartar que Marta resolveu se inteirar mais sobre o procedimento e decidiu se operar. Hoje, ela quer conscientizar o público sobre a bariátrica e combater o estigma associado ao procedimento e à obesidade.
“Foi a melhor coisa que fiz. Não é nem um pouco fácil ou simples, mas representa um ganho de vida. Nada na medicina, na minha visão tanto antes quanto depois de me tornar médica, traz a mudança que a bariátrica faz em todos os aspectos. Tudo em você muda.”
Segundo dados divulgados em 2022, o Brasil deverá ter, em 2030, quase 30% de sua população adulta com obesidade. A projeção foi feita pela World Obesity Federation, organização internacional voltada para redução, prevenção e tratamento da obesidade.
“Como profissional de saúde, já tive esse discurso de ser algo mutilador, ruim ou que é visto como fracasso. Agora, minha missão é falar ‘gente, não é, não funciona assim, vem aprender mais'”, conta. “Acredito que ignoramos muito o potencial devastador da obesidade. É, sim, uma doença, mas tem tratamento. Quero que as pessoas saibam que dá para enfrentar de maneira menos sofrida, porque a cirurgia é vista como fracasso ou culpa.”
Já para Thaiane, que perdeu cerca de 60 kg, assistir à produção americana a ajudou a aceitar televisionar seu processo. Agora, ela quer fazer o mesmo com quem ver seu esforço dando frutos na telinha: “A inspiração vem da persistência, de saber que a convicção vai ter resultado”.
MARIA PAULA GIACOMELLI / Folhapress