RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Parte dos servidores públicos se prepara para passar festas de fim de ano com os colegas de trabalho, atuando em serviços ininterruptos como saúde e segurança pública. Enquanto estão nos plantões, eles lidam com a distância da família no Natal e no Réveillon e atendem a casos que dizem ser comuns nesta época do ano, como brigas e intoxicação alcoólica.
O médico José Alfredo Padilha passa o início de cada ano nos postos de saúde da orla de Copacabana há mais de duas décadas. Ele é servidor da prefeitura do Rio há 30 anos e coordena a área de saúde na chamada Operação Réveillon.
A preparação para o evento dura de dois a três meses e se intensifica às vésperas do Ano-Novo, segundo o médico. No dia 31 de dezembro, ele e outros profissionais fazem um plantão de 12 horas, que começa às 17h e vai até às 5h do dia 1º de janeiro.
Em Copacabana, há quatro postos ao todo. Eles contam com uma diversidade de profissionais da área da saúde e de especialidades médicas, como ortopedista, anestesista e cirurgião como é o caso de José Alfredo. Os postos também estão equipados para pequenos procedimentos cirúrgicos e terapia intensiva, com material de parada cardíaca.
Segundo o médico, 90% dos casos são resolvidos ali mesmo, sem que seja necessário levar o paciente a um hospital.
“Postos ficam em apoio às áreas de maior concentração de público. Aprendemos com o tempo que não dá para ficar na zona quente, bem de frente ao palco, porque coloca nossa equipe em risco e é difícil saírem as ambulâncias de lá.”
Um dos casos mais comuns, de acordo com o médico, é de pessoas com doenças cardiovasculares que passam mal durante a festa. Muitos ficam o dia todo sob o sol para garantir um lugar melhor perto do palco, o que prejudica a saúde de quem já está debilitado. Ele diz que também há muitos episódios de intoxicação alcoólica ou por entorpecentes.
Além da virada, José Alfredo esteve em postos de saúde de outros grandes eventos no Rio, como o show da Madonna, em maio, e a cúpula do G20, em novembro.
Ele diz que, ao longo dos anos, a preparação para o Réveillon se tornou mais eficiente. A equipe de saúde passou a dedicar mais tempo de estudo para identificar possíveis problemas e implementar soluções.
Antes, por exemplo, era comum que o posto de saúde recebesse casos de esfaqueamento durante a festa. Para contornar a situação, foi determinado que todos os participantes da festa passassem por uma revista com detecção de metal nas ruas próximas à orla. Os casos caíram consideravelmente, segundo José.
“O desafio é perceber todos os agravos à saúde que possam aparecer, para identificar e dar suporte”, afirma.
O médico diz ainda que nunca fez questão de participar da comemoração do Ano-Novo, já que não gosta de festa e prefere passar trabalhando. Os filhos foram acostumados a viver esse dia longe do pai, de acordo com ele.
É diferente de Wendel Matos, do Corpo de Bombeiros de Goiás. Para ele, os plantões se tornaram mais difíceis com o passar do tempo, já que a distância da família passou a pesar mais.
“Entrei jovem, estava vibrando e queria ajudar. Hoje, sou pai, tenho minha esposa. Complica um pouquinho, ainda mais porque, quando estou me preparando para sair nessas festas de fim de ano, meus filhos já perguntam se vou voltar para casa ou não. O coração começa a apertar”, diz.
Quando precisa estar no quartel durante o Natal ou Ano-Novo, Wendel e os colegas de trabalho costumam organizar um evento junto às famílias, para que fiquem próximos aos filhos. Mas, se ocorrer uma emergência, a equipe precisa sair o mais rápido possível para cumprir o serviço.
De acordo com o bombeiro, as ocorrências mais comuns nesse período de fim de ano são acidentes de trânsito. Muitos são causados por pessoas que, para chegar mais rápido às festas em família, acabam ultrapassando a velocidade permitida e sofrem colisões.
Segundo Wendel, é difícil lidar com essas situações mais trágicas. Ele afirma que, nesses casos, o Natal e o Ano-Novo ficam marcados como uma lembrança ruim. “Toda vez que se encontrar para fazer a ceia ou comemorar a passagem de ano, a família vai se lembrar de um falecimento ou de um acidente grave.”
No caso da segurança pública, o sargento Fabrício Costa, da brigada militar do Rio Grande do Sul, diz que os casos mais comuns em fim de ano são as brigas. Ele atua no policiamento há seis anos e, ao longo desse tempo, já fez alguns plantões durante o período festivo.
No Natal, há menos ocorrências do que o normal, segundo Fabrício. Já no Réveillon, além das brigas, há mais casos de perturbação do silêncio, quando algum barulho incomoda a vizinhança até altas horas da madrugada. O soldado diz que, por outro lado, o furto se torna menos comum nessa data, já que a rua fica repleta de agentes.
A equipe nem sempre consegue se reunir para fazer a ceia, mas, quando podem, tentam estar juntos. “Comemoramos entre nós, fazendo uma pequena ceia no horário da janta, quando tivermos disponibilidade e sem ocorrência”, afirma.
LUANY GALDEANO / Folhapress