SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A perspectiva do início iminente do ciclo de queda dos juros pelo BC (Banco Central) em agosto, ou no mais tardar em setembro, tem injetado ânimo nos investidores quanto ao potencial desempenho positivo das ações na Bolsa de Valores nos próximos meses.
A aprovação pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) do novo regime de meta de inflação reforçou ainda mais a expectativa dos agentes financeiros em relação à redução da taxa Selic no curto prazo. As taxas dos juros futuros, que embutem as apostas do mercado sobre a condução da política monetária, tiveram forte queda na sexta-feira (30).
As projeções de bancos e corretoras para o Ibovespa, o principal índice acionário da B3, variam entre os 125 mil e os 140 mil pontos para os próximos seis a 12 meses, o que embute um potencial de valorização de quase 20% no caso das estimativas mais otimistas.
Incorporando a melhoria do cenário macroeconômico desde o início do ano, no acumulado do primeiro semestre, o Ibovespa teve valorização de 7,6%, aos 118.087 pontos. O que não significa que o potencial de alta tenha se esgotado.
O Santander divulgou na segunda-feira (26) projeção que prevê o Ibovespa aos 140 mil pontos em junho de 2024, o que corresponde a uma valorização de 18,5% em 12 meses.
“A gente está com uma visão bem positiva [para a Bolsa] nos próximos 12 a 18 meses. Estamos no início de um bull market [ciclo de forte alta das ações] no Brasil”, afirma Aline Cardoso, chefe da área de pesquisa e estratégia de ações do Santander.
A provável queda dos juros é um dos principais fatores que embasam a visão positiva do Santander para a Bolsa. O banco conduziu um estudo que buscou analisar o comportamento da Bolsa nos últimos nove ciclos de corte de juros, entre 1999 e 2020.
O trabalho indicou que, 12 meses após o primeiro corte, a Bolsa subiu, em média, 21%. E que, passados 24 meses, a alta média das ações sobe para 43%. “Os ciclos de redução dos juros são muito poderosos para a performance da Bolsa”, afirma a especialista.
Juros mais baixos se refletem em um custo de capital menor para as empresas tocarem suas operações, com queda nas despesas financeiras para fazer frente ao pagamento dos juros, e provável revisão para cima nos crescimentos dos lucros, diz Aline.
Estrategista da RB Investimentos, Gustavo Cruz acrescenta que a Selic menor reduz a atratividade das emissões de renda fixa para o investidor pessoa física, que, com isso, tende a direcionar a atenção de volta para os ativos de maior risco que embutem uma expectativa maior de rentabilidade como as ações.
Cruz aumentou no fim de junho de 120 mil para 125 mil pontos a projeção para o Ibovespa no final de 2023, o que embute uma valorização de 5,85%. “Algumas indefinições saíram da frente, dando mais espaço para a valorização de ativos de risco”, afirma.
Ele aponta o andamento do arcabouço fiscal no Congresso como uma importante sinalização positiva para o mercado sobre a condução da política econômica pelo governo Lula. “O arcabouço não resolve o problema fiscal, mas vai na direção correta e não piora a situação do Brasil nos próximos anos”, diz.
O estrategista acrescenta que a aprovação pelo CMN da nova meta de inflação também impacta positivamente o sentimento dos agentes financeiros. “A decisão deixa o caminho aberto para que o BC tenha autonomia para perseguir a meta.”
Em meados de maio, a XP também já havia aumentado de 128 mil para 130 mil pontos a projeção para o Ibovespa em dezembro, o que corresponde a uma alta de 10,1%.
A queda dos juros futuros nas últimas semanas foi apontada pelos analistas da XP para justificar a revisão para cima na estimativa para o índice de ações.
A expectativa da XP é que o BC inicie o corte de juros em agosto, com a Selic em 12% no final de 2023 e em 11% em junho de 2024.
“Olhando para o futuro, achamos que podemos estar diante de um ciclo mais favorável para ativos brasileiros frente a essa perspectiva de queda de juros”, dizem os analistas da XP em relatório.
“SMALL CAPS” E SETORES CÍCLICOS SÃO APONTADOS ENTRE AS MELHORES APOSTAS NA BOLSA
As ações conhecidas no mercado como “small caps”, de empresas de menor porte, que costumam ter uma relação maior com a economia doméstica, são citadas pelos analistas da XP entre as que devem ter um desempenho destacado frente aos pares.
Setores cíclicos mais sensíveis às oscilações nos juros, como papel e celulose, varejo e transportes também são apontados entre aqueles que devem apresentar um desempenho acima da média.
Aline, do Santander, cita o setor de consumo discricionário, que é aquele mais influenciado pelos ciclos da economia, entre as principais apostas do banco para a Bolsa. Nesse sentido, empresas de varejo e construção civil são candidatas em potencial, diz a especialista.
Na carteira recomendada de julho da Santander Corretora, representantes dos dois setores, como Hypera, Vivara, Multiplan e Cyrela, compõem o portfólio sugerido de ações.
GUIDE REVISA PROJEÇÃO PARA BAIXO COM FRUSTRAÇÃO SOBRE QUEDA DOS JUROS
A Guide Investimentos, por sua vez, revisou no dia 26 de junho para baixo a projeção para o Ibovespa em dezembro, de 150 mil para 140 mil pontos.
Segundo Fernando Siqueira, chefe da área de pesquisa da Guide, apesar de a expectativa de queda dos juros favorecer a valorização do Ibovespa, a estimativa anterior incorporava uma queda da Selic já a partir do segundo trimestre, o que não ocorreu.
Além disso, a queda das commodities, tanto do minério de ferro quanto do petróleo, as duas mais relevantes para a Bolsa brasileira, foi mais acentuada do que o esperado, acrescenta Siqueira.
“Apesar da redução da projeção, ainda vemos um potencial de valorização elevado para o Ibovespa ao longo de 2023”, assinala o especialista. Ele diz ainda que, apesar do desemprenho fraco da economia brasileira nos últimos trimestres, o lucro das empresas do Ibovespa vem crescendo de
forma consistente.
“A queda dos juros historicamente impulsionou os ativos brasileiros, principalmente ações e fundos imobiliários. Acreditamos que neste ciclo a história irá se repetir e a queda da Selic deve contribuir para trazer de volta o fluxo para ativos com maior potencial de valorização, como ações e fundos imobiliários.”
LUCAS BOMBANA / Folhapress