SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O pré-Carnaval de São Paulo, realizado neste fim de semana, foi de contrastes. Megablocos concentraram milhares de foliões, enquanto cordões tradicionais viram o público diminuir. Ao mesmo tempo, houve aumento de 33% no número de ambulantes e em alguns locais a impressão foi de que havia mais vendedores do que moradores e turistas em festa.
Neste ano, a prefeitura ampliou de 15 mil para 20 mil o número de credenciais para ambulantes. Na contramão, como mostrou a Folha, a gestão Ricardo Nunes (MDB) registrou 118 cancelamentos de desfiles de blocos até a última quarta (31).
Minguado em diversos pontos da cidade, o pré-Carnaval frustrou quem esperava faturar, como os irmãos Michelle, Rodrigo e William Santana de Souza. Até a tarde de domingo (4), após mais de três horas na rua Henrique Schaumann, na zona oeste, as vendas de latas de bebidas estavam no zero.
É o terceiro ano em que a família se cadastra para a venda de bebidas na folia e o primeiro de vendas tão fracas. No sábado (3), na rua Fradique Coutinho, venderam R$ 100. “No ano passado, o faturamento foi de R$ 400 a R$ 600 no pré-Carnaval”, comparou Rodrigo, 28.
Para Michelle, 31, o cancelamento de vários blocos pode ter contribuído para a queda. “Acaba concentrando mais gente em menos lugares.”
Na lista de desistências estão blocos que costumam levar uma multidão às ruas, como o bloco Meu Santo É Pop, Domingo Ela Não Vai e Bloco da Preta.
Sem tantas opções, chamava a atenção o deserto entre um bloco e outro nas largas e interditadas vias de bairros como Pinheiros.
As grandes aglomerações de foliões ficaram restritas aos megablocos com suas estrelas, como o Acadêmicos do Baixo Augusta, que levou uma multidão ao centro da capital neste domingo para celebrar seus 15 anos.
Mas, mesmo nesses megablocos, comerciantes saíram decepcionados. “É o bloquinho dos ambulantes”, resumiu a vendedora Thaís Félix, 18, no parque Ibirapuera, antes da apresentação de Alceu Valença no sábado (3).
Com a grande oferta e a baixa demanda, a opção foi tentar chamar a atenção de quem caminhava rumo ao bloco. “Ô, rapaz, tá faltando um energético aí para dar uma animada”, gritava o vendedor Vinícius da Silva, 25.
“Investi R$ 700 e não vendi R$ 100”, disse a vendedora Jéssica Vital da Silva, 33, enquanto acompanhava o trio da cantora Lexa na avenida Marquês de São Vicente, na zona oeste. “Está todo mundo de caixa cheia”, afirmou em referência ao isopor.
Questionada no início da tarde deste domingo sobre as queixas dos ambulantes, a prefeitura afirmou que cabe à empresa patrocinadora do Carnaval de Rua o treinamento, orientação e apoio aos vendedores nos blocos de rua. O governo municipal disse ainda não ter recebido nenhuma das queixas citadas nesta reportagem.
Em relação à fiscalização, a gestão Nunes disse que não foi constatada nenhuma irregularidade e que são “2.400 fiscais, que atuam de forma rigorosa para impedir a entrada de vidros ou outros objetos cortantes, contundentes e demais produtos que possam oferecer risco”.
FESTA DE DEBUTANTE
O ponto alto da festa na capital foi a “festa de debutante” do Acadêmicos do Baixo Augusta. Com o lema Resiste amor em SP, o megabloco convidou milhares a celebrarem seus 15 anos de fundação.
Emblemática rainha do cortejo que toma a rua da Consolação, a atriz Alessandra Negrini vestiu traje de gala para a ocasião e, com balões presos à fantasia, dançou valsa.
O repertório musical do evento foi comandado por Simoninha, puxador do Baixo Augusta, e Criolo, que hipnotizou o público ao cantar sobre as delícias e dores da vida na cidade mais populosa do país. “Essa festa é de vocês”, destacou o artista oriundo do Grajaú, a zona sul de São Paulo.
No sábado, os destaques foram as apresentações no parque do Ibirapuera. Chico César animou o público com seu Estado de Folia e, ao subir no trio do bloco Bicho Maluco Beleza, Alceu Valença foi ovacionado.
“Quando a gente começou esse bloco aqui, o Carnaval era desse tamaninho. Agora é desse tamanhão”, comemorou em frente a milhares de paulistanos e turistas que balançavam asas de borboleta, capas e coroas cantando seus hits.
BRUNO LUCCA, STEFHANIE PIOVEZAN, CLAYTON CASTELANI E MARIANA ZYLBERKAN / Folhapress