RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Sandro Alves Silva, 37, pai da menina Kamila Vitória Aparecida de Souza Silva, 12, relembrou, bastante emocionado, uma das últimas conversas que teve com a filha: o pedido do presente de Natal.
“Ela tinha entrado para o grupo da juventude da Igreja Universal, e estava em um time de vôlei. Estava muito feliz que iria ter um campeonato e me pediu de presente de Natal uma joelheira. Eu vou dar para ela”, disse Sandro, secando as lágrimas.
Kamila foi morta durante tiroteio na favela Del Castilho, zona norte do Rio de Janeiro, na noite desta quinta (5), após ser atingida por um tiro em uma das pernas. O disparo rompeu a artéria femoral e ela chegou a se socorrida com vida, mas não resistiu.
“Na hora do tiroteio tinha muita criança na quadra. Era período de férias, e mesmo quando não tinha férias ela já chegava pedindo para ir brincar na quadra com as amigas de queimada. Elas estavam brincando, eu estava perto, era muito tiro. Ouvi ela gritando ‘pai, pai’. Na hora, não vi que ela estava ferida, mandei ela ficar deitada porque era muito tiro”, disse
“Colocamos ela no carro, com uma vizinha. Ela só gemia, queria dormir. Eu sacudia ela e falava para não dormir. Depois, quando chegou ao hospital, ela teve uma parada cardíaca e não resistiu”, contou.
Sandro ainda disse que a última foto de Kamila foi segurando a irmã de cinco meses no colo, em um shopping. “A gente foi ao shopping na noite de quarta-feira [4]. Essa foi a última foto dela, quando ela me pediu a joelheira. Ela era muito ligada à mãe. O que aconteceu, eu deixo nas mãos de Deus”, afirmou.
O corpo de Kamila deve ser velado e sepultado neste sábado (7) no Cemitério de Inhaúma, na zona norte. O caso foi registrado na 23ª DP (Méier) e será encaminhado para a Delegacia de Homicídio da Capital.
De acordo com moradores, cinco homens encapuzados desceram de um carro e atiraram contra pessoas que estavam em uma praça. Os disparos atingiram Kamila e um homem, que teve um ferimento de raspão no braço.
A Polícia Militar afirmou, em nota, que “informações preliminares informam que a região foi cenário de um confronto entre integrantes de quadrilhas rivais. De imediato, o comando do 3° BPM determinou o reforço no policiamento na região”. A corporação também afirmou que não realizava operação na região no momento do tiroteio.
Em nota, a Polícia Civil disse que “os agentes ouviram parentes e estão em busca de mais informações para identificar a origem do disparo que atingiu a vítima e esclarecer as circunstâncias dos fatos”.
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Redação / Folhapress