SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A criança de sete anos ferida durante uma ação da Polícia Militar em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, na manhã do último dia 17, segue internada em um hospital municipal na manhã desta quinta-feira (25).
O menino ficou ferido na altura do supercílio, durante uma troca de tiros entre policiais militares e criminosos, segundo a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos). As circunstâncias são apuradas.
A permanência no hospital foi confirmada pelo advogado da família, o criminalista André Lozano. Segundo ele, a criança deve realizar exames no Hospital das Clínicas, na zona oeste, nesta manhã. O exame serve para avaliar a extensão do ferimento e se haverá alguma sequela.
“Há a esperança de alta, mas isso dependerá da realização de um exame no HC. Isso mostra a gravidade da lesão, o que preocupa a família”, disse Lozano.
Em nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) declarou que todas as circunstâncias do caso são investigadas por meio de inquérito policial, instaurado pelo 89º Distrito Policial (Jardim Taboão). “As providências de Polícia Judiciária estão em andamento com depoimentos, requisições de laudos periciais, análise de imagens e expedição de ofícios, dentre outras medidas pertinentes”.
O ouvidor das polícias de São Paulo, Claudio Aparecido, classificou a ação como “desastrosa”.
Na quarta o menino seguia com a mãe em direção à escola quando ambos se viram, segundo a PM, diante a uma troca de tiros na rua Melchior Giola, no centro de Paraisópolis, quadra na favela com comércios e escolas.
Lozano relatou que mãe e filho tentaram se proteger atrás de um veículo. Pouco tempo depois a mãe percebeu o ferimento no filho.
O menino foi socorrido até uma unidade de saúde básica em Paraisópolis e, na sequência, transferido para o Hospital Municipal do Campo Limpo. Desde o dia do ocorrido a criança e a mãe são escoltadas por policiais militares, que se revezam na porta do quarto.
“Em qualquer país civilizado do mundo não se atira quando tem passagem de transeuntes. Porque o objetivo da polícia é proteger, não é matar. Agora, quando há crianças, se mostra uma operação completamente desvirtuada e uma falta de treinamento, com violência exagerada, sendo que isso não é um ato isolado. Existem muitos elementos que demonstram que, sim, os policiais agiram de forma no mínimo ilegal, para não dizer criminosa”, disse Lozano no dia da ação policial.
Mesmo em horário de entrada escolar, os policiais militares informaram em boletim de ocorrência terem disparado 11 vezes, sendo seis tiros de pistola e cinco de fuzil efetuados por um tenente, um sargento e um soldado. Os policiais alegam que os bandidos atiraram cerca de dez vezes contra eles.
Horas depois de o menino ser ferido, a Polícia Militar convocou a imprensa para uma entrevista coletiva. O porta-voz da PM, coronel Emerson Massera, negou que a criança tivesse sido atingida por um disparo da arma de um dos agentes.
Massera, inclusive, chegou a citar o resultado de uma tomografia a qual o menino havia passado.
“Não sabemos ainda o que feriu essa criança, pode ser sido um disparo dos bandidos ou pedaço de reboco, estilhaço ou uma queda”, disse o coronel. “As imagens das câmeras corporais, porém, nos dão certeza de que o menino não estava na linha de ação dos policiais”, acrescentou.
Todos os policiais envolvidos na ocorrência usavam câmeras nos uniformes, segundo a corporação. As gravações, porém, só serão divulgadas ao fim do inquérito, em até 30 dias.
O coronel Massera diz ter visto as imagens e relata ter observado a criança e sua mãe na rua quando o tiroteio começou. Segundo ele, os PMs estariam na frente da dupla quando algo atingiu o menino na cabeça, impossibilitando, ainda de acordo com Massera, que os policiais tenham responsabilidade na ocorrência.
“Tudo o que estamos falando é esclarecimento inicial. Ao longo das investigações alguma informação pode ser modificada, claro”, declarou o porta-voz da PM.
PAULO EDUARDO DIAS / Folhapress