SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Menos de 1% das inscrições para uma vaga de emprego acabam em contratação na plataforma da Gupy, a plataforma de recrutamento mais acessada no Brasil, segundo levantamento feito em 2023 pela Folha de S.Paulo na Comscore (empresa de análise de audiência).
Os dados sobre contratações partem de levantamento da própria Gupy. A empresa recebe 15 milhões de inscrições de 1,5 milhão de pessoas todos os meses. Cada pessoa concorre em média a nove vagas diferentes. No fim de 2023, eram cerca de 100 mil contratações mensais.
“Algumas vagas tem 15 mil inscritos, o que espanta quando falamos com plataformas concorrentes do exterior”, diz o cofundador da Gupy e diretor de produto e marketing, Guilherme Dias.
Nesse cenário, as redes sociais estão cheias de relatos frustrados sobre a dificuldade de conseguir um emprego na internet.
A chefe-executiva da Gupy, Mariana Dias, afirma que há três reclamações no LinkedIn a cada mil pessoas cadastradas. Como é 1,5 milhão de inscritos, há cerca de 4.500 desabafos, em geral sobre processos seletivos muito extensos ou falta de feedback.
De acordo com a Gupy, existe um problema estrutural: o cenário de “altíssima concorrência” constante no Brasil, cuja taxa de desemprego atingiu mínima em nove anos de 7,5%, segundo dados divulgados pelo IBGE em dezembro.
Esse patamar fica acima da média global de 5,2%, aferida pela OIT (Organização Internacional do Trabalho).
Dados do Ministério do Trabalho de 2023 indicam geração de, em média, 130 mil postos de empregos mensais, para um volume 8 milhões de desempregados. Ou seja, há cerca de 1,6 vagas para cada cem pessoas.
As plataformas de contratação acabaram facilitando a inscrição de pessoas de outros estados, num efeito similar ao que elevou a concorrência no Sisu e Enem para os cursos de maior procura do ensino superior.
Porém a seleção de um candidato não é um processo com pontuação e nota de corte. Há critérios subjetivos em análise, o que dificulta um retorno objetivo, de acordo com Mariana Dias.
A Gupy disponibiliza de antemão a quantidade de etapas envolvidas no processo seletivo e o número de pessoas inscritas, com o intuito de que o candidato possa se preparar e ajustar expectativas.
Como não pode aumentar o número de vagas, a plataforma de recrutamento divulga nesta segunda-feira (22) 24 compromissos divididos em três pilares: viabilizar candidaturas simples, apoiar seleções responsáveis nas empresas e impulsionar informação e conhecimento dos candidatos.
Dados levantados pela plataforma com base na experiência do usuário mostram que os processos seletivos muito longos, além de tomarem tempo de contratantes e candidatos, diminuem -a cada etapa- o engajamento dos candidatos em cerca de 15%.
Em geral, processos seletivos de grandes empresas para cargos muito concorridos (como trainees) ou técnicos (desenvolvedores por exemplo) têm mais etapas de seleção. As empresas pequenas e médias costumam ter seleções mais simples, mostra o relatório da Gupy.
“Temos informações e experiência para ajudar as empresas a tornarem seus processos mais assertivos, deixem de ter etapas que não contribuem para a seleção”, diz Mariana. Hoje, a Gupy divulga atender 4.000 clientes.
Isso deve ser feito sem abrir mão da responsabilidade: não é permitido, por exemplo, ter perguntas eliminatórias que desrespeitem a LGPD (lei geral de proteção de dados) ou que discriminem candidatos.
No último pilar, de formação, a Gupy se compromete a instruir os candidatos para que consigam ter melhores resultados, entendam melhor a plataforma e o mercado de trabalho brasileiro.
Em média, cada pessoa se candidata a nove vagas, mas tem gente que tenta 200 oportunidades diferentes de emprego, diz Mariana. “Essa é a melhor estratégia?”, questiona.
Candidatos devem prestar atenção nos pré-requisitos da vaga: o primeiro crivo na Gupy é feito por meio de inteligência artificial, que avalia a afinidade do candidato com a vaga, com uma nota de 0 a 100.
“Com nosso algoritmo, garantimos que todos os candidatos tenham alguma avaliação. E não é uma simples seleção de palavras, nossa IA entende sentido e contexto”, afirma Mariana.
Para a executiva, é um desafio construir um currículo aprofundado, o que é essencial para se destacar em vagas operacionais com milhares de concorrentes.
“Candidatos a uma vaga de supermercado precisam entender as habilidades essenciais da profissão e enumerar conquistas que tiveram em trabalhos e cursos anteriores”, diz.
Para Mariana, esse desafio fica ainda mais difícil “em um país com baixo índice de mão de obra especializada”.
PEDRO S. TEIXEIRA / Folhapress