Mercado espera divergência nos votos do Copom após mudanças de cenário

SÃO PAULO, SP, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Recentes mudanças no cenário macroeconômico nos Estados Unidos e no Brasil geram no mercado a expectativa de divergência na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária).

O encontro para definir a Selic –a taxa básica de juros– está previsto para quarta (8). Por cinco reuniões seguidas, o entendimento no Banco Central foi unânime no corte de 0,5 ponto percentual. Hoje, a taxa está em 10,75% ao ano.

Em março, o Copom sinalizou que iria repetir a intensidade da redução na reunião de maio, “em se confirmando o cenário esperado”.

Dificilmente os nove integrantes do colegiado anteviram que a inflação dos EUA ficaria acima do esperado em março e que o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mudaria em abril a meta fiscal de 2025.

Tais mudanças impulsionaram o dólar a bater R$ 5,27 em abril, o que tende a pressionar a inflação. Além disso, a baixa taxa de desemprego e a alta na geração de vagas formais, em meio ao aumento real de renda, podem impactar os preços.

Apesar de o IPCA-15 ter saído melhor do que o previsto, desacelerando para 0,21% em abril, esses fatores acenderam o alerta no mercado financeiro, que já precifica menos cortes na Selic.

Para Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC e consultor da A.C. Pastore, há um risco “considerável” de haver divergência entre os membros do Copom quanto ao tamanho do corte de juro.

“Se houver divergência, vai ser entre os [diretores] mais antigos e os mais novos, muito provavelmente com [Gabriel] Galípolo liderando”, disse.

Ex-número dois do Ministério da Fazenda, o atual diretor de Política Monetária do BC é visto como favorito na corrida à sucessão do comando da instituição ao término do mandato de Roberto Campos Neto, em 31 de dezembro.

Schwartsman é um dos economistas que espera uma mudança na estratégia da autoridade monetária em função da desvalorização do câmbio e da piora do cenário fiscal e da conjuntura internacional, e aposta em corte de 0,25 ponto percentual nas próximas três reuniões (maio, junho e agosto), o que levaria a Selic a 10%.

“Vai ser mais difícil cumprir o compromisso condicional de cortar 0,5 [ponto percentual em maio] do que mudar o ritmo de afrouxamento monetário”, afirmou Schwartsman.

Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria, também recalibrou suas previsões e agora espera um corte de 0,25 ponto percentual na próxima semana e um juro de 10% ao fim deste ano, ante 9,5% esperado anteriormente.

“Há uma mudança no prognóstico. Os dados do mês de abril levaram o mercado a precificar a queda de juros de maneira mais cautelosa”, diz Silvio Neto.

Segundo ele, um dos pesos para a mudança será a força do mercado de trabalho. “Os dados da Pnad [Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua] e do Caged [Cadastro Geral de Empregados e Desempregados] mostram o mercado de trabalho muito aquecido, e o BC vai levar isso em conta. Certamente vai influenciar a decisão de quarta”, afirma.

Em março, o Brasil criou 244.315 vagas formais de trabalho, de acordo com dados do Caged, 25,69% a mais do que no mesmo mês de 2023. Já a Pnad Contínua apontou que a taxa de desemprego ficou em 7,9% no primeiro trimestre, melhor resultado desde 2014.

Já Roberto Padovani, economista-chefe do BV, manteve sua previsão de corte de 0,5 ponto percentual na próxima reunião do Copom, mas agora espera uma votação dividida do colegiado. “A cautela não tem tanto a ver com o Fed, mas com este ano”, diz.

Segundo o especialista, o mercado estava confiante com uma desaceleração da inflação americana, que tem se mostrado mais resiliente que o esperado, o que levou o mercado a mudar as apostas de corte nos juros americanos de junho para setembro, com a taxa no patamar de 5,50% por mais tempo.

“Cortar inflação de 3% para 2% com a economia acelerando é difícil, o que deve deixar os juros americanos mais altos por mais tempo, e isso deve desacelerar a economia americana”, diz Padovani.

Segundo o economista, a perda de força na atividade dos Estados Unidos deve fazer coro ao movimento semelhante na Ásia e na Europa, reduzindo o preço das matérias-primas, o que pode contribuir para uma inflação menor. Porém, pode haver uma pressão de um dólar mais alto. Então, o risco cambial aumentou.

Nesta equação, considerando a expectativa de crescimento da economia brasileira, o economista vê espaço para mais cortes na Selic, com a taxa terminando a 9% neste ano e a 8,5% no próximo.

“O BC está atrasado. A inflação deve se estabilizar em 4% e a Selic está a quase 11%. O nível de juro real no Brasil está muito alto. Então, tem espaço para cortar. Mas, em algum momento, ele precisará ser mais cauteloso nos cortes”, diz o economista.

Luca Mercadante, economista da Rio Bravo Investimentos, também espera um corte de 0,5 ponto percentual na próxima reunião, mas seguido de uma desaceleração maior, com a Selic a 10% ao fim de 2024.

“Toda essa movimentação do Fed gera pressão no dólar, o que impacta a inflação. Creio que o BC mantém ritmo, mas pode ser uma votação dividida”, diz Mercadante.

Suas apostas se assemelham às precificadas pelo mercado. A curva de juros brasileira aponta para um corte de 0,25 na semana que vem e um juro de 10,25% ao fim do ano. Já em relação a 2025, os contratos indicam cautela, sem cortes precificados, e com uma Selic a 10,80%.

De acordo com a pesquisa Focus, que demora mais a mostrar mudanças nas previsões, a Selic terminaria este ano a 9,50% e o próximo, a 9%.

Para o IPCA, a inflação oficial do país, o relatório aponta uma alta de 3,73% em 2024 e de 3,60% em 2025.

JÚLIA MOURA E NATHALIA GARCIA / Folhapress

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