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Meta decide quais publicações são removidas, não as agências, diz CEO da Lupa

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Meta nunca deu aval para que checadores removam conteúdo ou diminuam alcance de publicações, diz a CEO da agência de checagem Lupa, Natália Leal.

“As punições são responsabilidade da Meta. O que fazemos é indicar se um conteúdo é falso”, diz. A big tech, então, decide o que remove ou bloqueia, de acordo com as diretrizes da comunidades. “A Meta nem nos avisa o que faz”, diz Leal.

Além de encerrar a parceria com agências de checagem nos Estados Unidos, a Meta mudou as regras para remoção de conteúdo e abriu exceções para insultos contra pessoas LGBTQIA+ e imigrantes.

Segundo a CEO da Lupa, as agências priorizam “assuntos que viralizem e coloquem em risco a saúde pública, como publicações relacionadas à vacinação durante a pandemia, ou que ameacem instituições ou a própria democracia, como ocorreu no caso das urnas eletrônicas”.

As agências consideram três princípios: quem fala, o que está sendo falado e qual é o alcance dessa fala. Todas as parceiras da Meta no chamado 3FCP (Third-party Fact-Checking Program) eram signatárias dos termos do IFCN (Internacional Fact-Checking Network), entidade que atesta o apartidarismo e o rigor metodológico dos associados.

Segundo Leal, o lançamento do programa em 2016 foi uma forma de a Meta garantir mais informação ao usuário “sem se responsabilizar pela arbitragem do que era verdadeiro ou falso”. A Lupa foi uma das primeiras parceiras locais da Meta, quando a empresa procurou colaboradoras no Brasil em 2018.

De acordo com posicionamento da diretora do IFCN, Angie Holan, publicado no X (ex-Twitter), as parceiras americanas da big tech receberam a informação do fim do programa poucos minutos antes de o CEO da Meta, Mark Zuckerberg, publicar o vídeo sobre as mudanças na política de moderação.

As alterações começaram a valer nos Estados Unidos na terça-feira (7) e, segundo texto assinado pelo vice-presidente de assuntos globais da Meta, Joel Kaplan, serão expandidas para outros países.

Além de encerrar o programa, Zuckerberg criticou o trabalho das agências de checagem. “Os checadores são muito enviesados politicamente e mais destruíram confiança do que criaram, sobretudo nos EUA”, afirmou em vídeo divulgado no Instagram.

Para Leal, o grande receio é que esse discurso reacenda o cenário de ameaças contra profissionais de checagem observado no ano de 2018.

Nesse período, a fundadora da Lupa, Cristina Tardáguila, recebeu mensagens ameaçadoras contra ela e sua família. No mesmo ano, a atual CEO da agência atendeu a um telefonema intimidador, após encerrar a cobertura de um debate eleitoral por volta das 3h.

“Ele disse que nosso trabalho era um lixo e que a gente não deveria ficar surpreso se algum dia, quando a gente saísse de madrugada do escritório, alguém com uma faca estivesse nos esperando”, afirmou.

A Lupa não recebeu informações sobre o fim do 3FCP no Brasil e vai continuar cumprindo o contrato que mantém com o conglomerado de redes sociais. “Nada muda para nós, temos uma posição que sempre foi crítica com relação à Meta, que nunca interferiu editorialmente no nosso trabalho”, diz Leal.

A empresa reconhece que o programa da Meta permitiu que a agência contratasse jornalistas e tivesse acesso a ferramentas de análise do tráfego nas redes sociais, para identificar os conteúdos virais.

“A Lupa é hoje uma empresa financeiramente saudável, que não depende da meta, mas muitas organizações foram fundadas desde 2016 para operar exclusivamente nesse programa e agora estão em risco”, diz a CEO.

“Sem o 3FCP, deve haver uma diminuição no número de atores que fazem checagem no mundo todo, e não sabemos qual será o impacto disso para as democracias e a integridade da informação”, complementa.

O trabalho de identificar potenciais violações às normas da Meta passará a ficar sob responsabilidade dos usuários, em um modelo de notas da comunidade, similar ao que Elon Musk implementou no X (ex-Twitter).

As notas são propostas e redigidas por usuários voluntários, que precisam se inscrever previamente, e não são editadas pelas equipes do X. Outros usuários depois avaliam se o conteúdo é útil e, se o comentário tiver votos o suficiente, passa a aparecer abaixo da publicação sob dúvidas.

“Se a gente tem um programa que vai depender dos usuários, esses usuários vão passar mais tempo nessas plataformas e vão passar por uma maior exposição a publicidade —é uma conta muito simples onde isso vai parar, é uma questão de dinheiro”, diz a gestora da Lupa.

Para ela, falta ainda ao público em geral um treinamento para checar fatos de maneira eficiente. “O usuário tem menos ferramentas, conhecimento digital e educação midiática, além de nenhuma metodologia, para fazer esse trabalho.”

Levantamento da Lupa realizado em 2023 mostra que só 8% das notas da comunidade do X eram exibidas ao restante das pessoas na plataforma.

“A Lupa, através de repórteres e alguns editores, solicitou acesso para poder ranquear e produzir notas da comunidade, entendendo isso como uma contribuição para o ambiente do X e nunca recebemos autorização para contribuir com o programa”, recorda Leal.

PEDRO S. TEIXEIRA / Folhapress

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