SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Meta anunciou nesta terça-feira (7) um conjunto de mudanças em suas práticas de moderação de conteúdo que efetivamente colocariam fim ao seu programa de checagem de fatos de longa data, uma política instituída para conter a disseminação de desinformação em seus aplicativos de mídia social.
Em vídeo no qual comentou a decisão, em sua conta no Instagram, o CEO da empresa, Mark Zuckerberg, também atacou “decisões secretas” de tribunais latino-americanos. Sem citar o STF explicitamente, Zuckeberg diz que governo americano precisa ajudar a combater o que está sendo feito pelo Judiciário na região.
“Países da América Latina têm tribunais secretos que podem ordenar que empresas removam conteúdos de forma silenciosa”, disse ele.
“Os fact checkers foram muito enviesados e destruíram mais verdade do que criaram, especialmente nos EUA. Vamos nos livrar dos checadores”, afirmou ele, definindo a eleição de Donald Trump como um ponto de virada para a liberdade de expressão.
A reversão da política de anos é um sinal claro de como a empresa está se reposicionando para o novo governo Donald Trump, que toma posse em 20 de janeiro.
Em vez de usar organizações de notícias e outros grupos de terceiros, a Meta, que possui o Facebook, Instagram e WhatsApp, dependerá dos usuários para incluir correções ou observaçõe a postagens que possam conter informações falsas ou enganosas.
Mark Zuckerberg, CEO da Meta, disse em uma declaração em vídeo que o novo protocolo, que começará nos Estados Unidos, é semelhante ao usado pelo X (antigo Twitter), chamado Community Notes.
“É hora de voltar às nossas raízes em torno da livre expressão”, disse Zuckerberg, que afirmou que o sistema atual de verificação de fatos da empresa “chegou a um ponto em que há muitos erros e muita censura.”
Zuckerberg observou que “as eleições recentes também parecem um ponto de inflexão cultural para novamente priorizar esse discurso.”
Elon Musk tem confiado no Community Notes para sinalizar postagens enganosas no X. Desde que assumiu a rede social, Musk, um grande doador de Trump e que participará da gestão do republicano, tem cada vez mais posicionado o X como a plataforma por trás da nova presidência.
A mudança da Meta provavelmente agradará a administração de Trump e seus aliados conservadores, muitos dos quais não gostavam da prática da Meta de adicionar avisos ou alertas a postagens questionáveis ou falsas. Trump criticava Zuckerberg há muito tempo, avaliando que o recurso de verificação de fatos tratava postagens de usuários conservadores de forma injusta.
Desde que Trump foi eleito em novembro, a Meta se moveu rapidamente para tentar melhorar a relação com o político e seus aliados conservadores.
No final de novembro, Zuckerberg jantou com Trump em seu clube Mar-a-Lago na Flórida, onde também se encontrou com sua escolha para secretário de Estado, Marco Rubio.
A Meta doou US$ 1 milhão (R$ 6,09 milhões) para apoiar a posse de Trump em dezembro. Na semana passada, Zuckerberg elevou Joel Kaplan, um conservador de longa data e o executivo de mais alto escalão da Meta mais próximo do Partido Republicano, ao cargo mais relevante de política da empresa.
Por fim, na segunda-feira (6), Zuckerberg anunciou que Dana White, chefe do UFC e um aliado próximo de Trump, se juntaria ao conselho da Meta.
Executivos da companhia de tecnologia recentemente avisaram aos funcionários de Trump sobre a mudança de política, de acordo com uma pessoa com conhecimento das conversas que falou sob condição de anonimato.
O anúncio da verificação de fatos coincidiu com uma aparição de Kaplan no programa de televisão “Fox & Friends”, um dos favoritos de Trump. Ele disse aos apresentadores do programa matinal popular entre conservadores que havia “muito viés político” na checagem de fatos, e que as mudanças resultariam em “muito menos aplicação excessiva” de conteúdo.
A mudança põe fim a uma prática que a empresa iniciou havia oito anos, nas semanas que se seguiram à eleição de Trump em 2016. Na época, o Facebook estava sob pressão por causa da disseminação desenfreada de desinformação em sua rede, incluindo postagens de governos estrangeiros tentando semear discórdia entre o público dos EUA.
Como resultado de uma enorme pressão pública, Zuckerberg recorreu a organizações externas como a agência de notícias Associated Press, a emissora de televisão ABC News e o site de verificação de fatos Snopes, juntamente com outras organizações globais avaliadas pela International Fact-Checking Network, para examinar postagens potencialmente falsas ou enganosas no Facebook e Instagram e decidir se precisavam de uma observação ou serem removidas.
Entre as mudanças, Zuckerberg disse que “removerá restrições sobre tópicos como imigração e gênero que estão fora de sintonia com o discurso dominante.” Ele também disse que as equipes de confiança e segurança e moderação de conteúdo seriam transferidas da Califórnia, com a revisão de conteúdo dos EUA mudando para o Texas. Isso “ajudaria a remover a preocupação de que funcionários tendenciosos estejam censurando excessivamente o conteúdo”, disse ele.
Redação / Folhapress