Meu papel não é comentar política fiscal, mas tenho fé no meu amigo Haddad, diz Galípolo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse que “tem fé no seu amigo Fernando Haddad [o ministro da Fazenda]”, ao responder pergunta sobre a recepção negativa do pacote de cortes anunciados pelo governo, refletida no dólar negociado a R$ 5,990 nesta quinta-feira (28).

O atual diretor do BC, no entanto, afirmou que não é seu papel dar sugestão de política fiscal, durante jantar com empresários realizado nesta quinta pelo presidente do grupo Esfera, João Camargo. Participaram do encontro empresários como Joesley Batista, da J&F, Rubens Menin, da MRV, e Luiz Carlos Trabuco Cappi, do Bradesco.

Segundo Galípolo, o BC, em uma reunião com o governo, pode apenas ajudar a entender o comportamento dos agentes do mercado, que determinam os preços dos ativos com base nos fatos. “Fazemos o laudo de um exame feito pelo mercado”, resume.

O diretor do BC, que orientará a política monetária do país a partir de 2025, foi uma das pessoas ouvidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na discussão sobre o pacote de cortes. Ele esteve presente na reunião em que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentou o plano de reajuste fiscal ao mandatário petista, e depois participou de conversa reservada com o ministro e o presidente.

A moeda americana avaliada em quase R$ 6, no maior valor nominal já registrado (a conta desconsidera a inflação), deve, segundo Galípolo, ser um fator para manter os juros elevados por mais tempo. O dólar alto tem efeito inflacionário.

“O Banco Central precisa aplicar o remédio que tem à mão, que é a política monetária.” Diante de uma plateia que reclamava da taxa Selic em 11,25%, ele disse que o mal maior seria não agir, porque o efeito da inflação é mais perverso para a população do que os juros.

A entidade, defendeu, tem independência para cumprir seu mandato. “Isso pode ser feito com mais ou menos custos, mas o Banco Central vai seguir firme nessa direção.”

O BC, de acordo com Galípolo, precisa aumentar a taxa de juros justamente porque a economia está aquecida. “O Banco Central precisa agir como o chato da festa, que pede para abaixar a música evitando a bagunça.”

“Se você quer ser miss simpatia, não vá para o Banco Central”, acrescentou.

O BC, disse Galípolo, reage à expectativa de inflação do mercado financeiro em um horizonte de 18 meses. De acordo com ele, o prêmio do risco nos ativos brasileiros está em uma situação inédita, quando se considera os fundamentos da economia. “Temos reserva internacional para liquidar todas as dívidas e crescimento econômico agendado.”

Ele ainda lembrou de projeções equivocadas de crescimento na casa de 1% para 2024 anunciadas por instituições financeiras no início do ano, quando o país deve ter alta do PIB (Produto Interno Bruto) acima de 3% neste ano.

“É como se eu ligasse o Waze para saber o caminho e recebesse a projeção do tempo de percurso a dez metros do meu destino. Agora eu não preciso mais.”

Porém, ainda segundo o futuro presidente do BC, reclamar do mercado financeiro não adianta. “Como disse Winston Churchill, para um político reclamar de jornalista, é como um marinheiro reclamar do mar. Eu reclamar do mercado é a mesma coisa.”

PEDRO S. TEIXEIRA / Folhapress

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