México se divide entre medo e tranquilidade em centros de votação

CIDADE DO MÉXICO, MÉXICO (FOLHAPRESS) – A Cidade do México é quase um oásis nas eleições deste domingo (2), quando mais de 20,7 mil cargos estão em jogo no México. A capital registra focos de violência, mas em grau não comparável com o de estados como o de Chiapas (sul) ou Michoacán (centro).

As urnas abriram às 11h de Brasília (8h locais), e eleitores compareciam com relativa tranquilidade às chamadas “casillas”, as mesas de votação em espaços públicos e privados, para registrar seus votos em cédulas.

Na capital, vota-se para a chefia do governo local, para a Presidência, a Câmara, o Senado e mais uma porção de cargos locais. O clima é bem distinto do que ocorre em outros regiões do país, onde a população vota sob o manto do medo da violência.

Em um dos centros de votação visitados pela Folha, uma longa fila de pessoas se formava com muitos idosos. Membros da comunidade local convocados para fazer a mesa de votação, como manda o sistema eleitoral local, não haviam comparecido, e por isso o processo não podia ser iniciado.

Por isso, membros do Instituto Nacional Eleitoral (INE) buscavam um “jeitinho” de convencer os que estavam na fila a serem voluntárias por 550 pesos mexicanos (R$ 170) mais alimentação, kits de sanduíches com maça. Mas a disposição era pouca. “Já temos outros planos para este domingo, não nos programamos”, diziam algumas mulheres.

Até este sábado (1º), o INE, órgão autônomo, havia informado que mais de 220 das “casillas” tiveram de ser fechadas por questão de segurança em todo o país. No total, há 170 mil centros de votação, e mais de 99 milhões de eleitores inscritos para votar.

Isso dificulta a participação de quem quer comparecer às urnas, que assim deverá se deslocar para um centro de votação mais distante de sua casa. O voto no país é obrigatório, segundo a Constituição, mas não há punição para quem não comparecer. Na última eleição presidencial, de 2018, a participação foi de 63,5%.

Há justificativas concretas para o temor sobre a insegurança. Dados preliminares divulgados pela Secretaria de Segurança mostram que este maio foi o mês mais violento do ano, com 2.410 assassinatos em todo o país, média de ao menos 77 assassinatos por dia.

Na fila para votar na sede da subprefeitura de Cuauhtémoc, no centro da capital, Maribel Vázquez, 55, diz que se permitiu ter esperança, já que o país terá a primeira mulher presidente.

“Por isso, esperamos que seja mais sensível em algumas coisas”, diz ela. “Mas também fica a incógnita do que vai realmente cumprir.”

Vázquez coloca o combate à violência como prioridade. “Quando os filhos vão para a rua, ‘estás con Jesus en la boca'”, diz sobre a sensação de insegurança e medo. Mãe de três filhas que são mães solteiras, ela também as ajuda a criar os quatro netos e estava apressada para voltar para casa. “Essa é a realidade de muitas mulheres no México.”

Nestas eleições estão em disputa a Presidência da segunda nação mais populosa e da segunda maior economia da América Latina, além de todas as vagas da Câmara de Deputados (ou Congresso da União, como é chamado) e do Senado. Também serão escolhidos nove governos de estados, incluindo a Cidade do México, e milhares de cargos locais.

A favorita presidencial é Claudia Sheinbaum, ex-chefe da capital e apadrinhada do incumbente, o populista Andrés Manuel López Obrador. Ela liderou a maioria das pesquisas de intenção de voto e ostentava uma vantagem de cerca de 15 pontos nas sondagens.

A principal concorrente é a ex-senadora Xóchitl Gálvez, indígena que representa uma coalizão histórica de três partidos tradicionais, PRI-PAN-PRD.

Para muitos dos votantes o desejo era assegurar a continuidade de políticas das quais usufruem hoje, como para Maria Balcas, 83.

Ela é um dos idosos de mais de 68 anos que sob López Obrador recebem o que o governo chama de bolsa de aposentadoria, que paga cerca de 2.400 pesos mensais (R$ 740) em um complemento da Previdência. Trata-se do principal programa social de AMLO.

MAYARA PAIXÃO / Folhapress

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