LISBOA, PORTUGAL (FOLHAPRESS) – As redes sociais brasileiras amanheceram lamentando o resultado da Bola de Ouro. O maior prêmio do futebol mundial foi para o espanhol Rodri, do Manchester City, e não para Vinicius Junior, do Real Madrid. O brasileiro era o favorito após ser eleito o melhor jogador da Champions League, o principal torneio de clubes do planeta. Na disputa vencida por seu time, brilhou com gols decisivos nas semifinais e na final.
A imprensa internacional passou ao largo da polêmica das redes. Para a maioria dos analistas, tanto Vinicius quanto Rodri mereciam o troféu e a glória futebolística pelas temporadas esplêndidas que fizeram em seus respectivos clubes. Outro consenso foi sobre a atitude antidesportiva de Florentino Pérez, presidente do Real Madrid –que decidiu retirar o clube da cerimônia de premiação ao saber que o principal troféu da noite não iria para um jogador do seu time.
Alfredo Relaño, um dos decanos da imprensa espanhola, escreveu no jornal El País que a atitude de Florentino Pérez foi “desproporcional” e “imperdoável”. Para Relaño, o presidente madridista estava estressado com a goleada sofrida na véspera –4 a 0 ante o arquirrival Barcelona– e com a recente proibição para shows musicais no estádio do time, o Santiago Bernabéu, que irá comprometer as receitas do ano. Relaño é autor de um livro que exalta o espírito de luta do Real Madrid em jogos decisivos e foi um dos jurados da Bola de Ouro. Votou em Vinicius Junior, mas acha que o troféu está em boas mãos com Rodri –a quem chama de “meio-campista colossal” e “jogador de enorme rendimento e estabilidade”.
Alguns analistas internacionais escreveram que a militância de Vinicius contra o racismo pode ter influenciado os jurados. Ao longo dos dois últimos anos, Vinicius foi várias vezes vítima de racismo por parte de torcedores e se aliou à Liga espanhola para processar os perpetradores. Conseguiu neste ano uma primeira condenação, que criou uma importante jurisprudência. Vinicius é também o idealizador de um projeto social de educação antirracista em São Gonçalo, município fluminense onde nasceu. Sua luta contra o racismo o levou a ser nomeado embaixador da Boa Vontade da Unesco, divisão das Nações Unidas responsável pela área da cultura.
É difícil provar, no entanto, que houve racismo na atribuição da Bola de Ouro. O prêmio é escolhido por cem jornalistas, um de cada país, que mandam seus votos para a revista France Football, promotora da premiação. Relaño é o representante da Espanha há vários anos. Cada jornalista escolhe dez jogadores, em ordem de preferência, e depois os votos são ponderados e computados.
Para o jornal britânico The Guardian, a vitória de Rodri representa o triunfo de craques que não têm a exuberância dos dribladores ou goleadores, mas são essenciais na criação de jogadas. No City de Guardiola, o espanhol de 28 anos atua na posição que os italianos chamam de “regista”, em que observa desde o campo de defesa os setores onde há mais possibilidade de levar perigo ao adversário, movendo a bola na direção correta. O jornal americano The New York Times, que faz uma cobertura extensiva do campeonato inglês, publicou uma série de gráficos que mostram como o ataque do City gira em torno dos passes verticais e precisos do maestro espanhol.
Se Vinicius foi a estrela da Champions League, Rodri comandou a campanha vitoriosa da Espanha na Euro 2024 –onde foi considerado o melhor jogador do principal torneio de seleções depois da Copa do Mundo. Rodri também venceu o Mundial de Clubes pelo City, ocasião em que foi igualmente coroado o melhor jogador do torneio.
O jornal francês L’Equipe escreveu que prêmios como a Bola de Ouro assumem importância desproporcional num país como o Brasil, que tem a seleção mais bem-sucedida de todos os tempos, mas não conquista a honraria desde 2007. Desvalorizado pelos brasileiros nas redes sociais, o segundo lugar de Vinicius Junior indica uma votação expressiva dos jurados, que o deixaram à frente de ídolos como o também madridista Jude Bellingham, melhor jogador do campeonato espanhol no ano passado, e Harry Kane, maior artilheiro da história da seleção inglesa.
Se o Real Madrid saiu menor da Bola de Ouro depois da atitude antidesportiva de Florentino Perez, o excelente segundo lugar de Vinicius coroa uma temporada vitoriosa –e o jogador de 24 anos, que evolui a cada torneio, tem idade e futebol para conquistar o primeiro lugar em premiações futuras.
JOÃO GABRIEL DE LIMA / Folhapress