Mil reservistas ameaçam cruzar os braços em Israel contra reforma judicial

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em protesto contra os planos de uma reforma judicial, 1.142 reservistas da Força Aérea de Israel divulgaram uma carta nesta sexta-feira (21) ameaçando abandonar os seus deveres de serviços voluntários, um anúncio sem precedentes que pode impactar as operações militares do país.

A carta, que inclui a assinatura de centenas de pilotos, é o mais recente sinal de oposição entre os militares às mudanças legislativas patrocinadas pela coalizão do premiê Binyamin Netanyahu –a mais à direita da história de Israel. As Forças Armadas enfrentam uma onda de reservistas que dizem se negar a servir a um país antidemocrático, de acordo com a mídia local.

Em Israel, aqueles que serviram em unidades especiais geralmente continuam cumprindo suas funções quando vão para a reserva. Por isso, o movimento preocupa –cerca de metade das tripulações enviadas para missões de combate, por exemplo, é de reservistas que se voluntariam após o serviço militar obrigatório, segundo veteranos da Força Aérea.

Em resposta ao manifesto, o ministro da Defesa, Yoav Gallant, disse que tentará adiar uma votação sobre a reforma marcada para a próxima semana e que “está tomando medidas para alcançar um amplo consenso e para garantir a segurança do Estado de Israel”.

Na carta endereçada aos parlamentares, ao chefe do Estado-Maior das Forças Armadas e ao chefe da Força Aérea, os militares pedem acordos amplos sobre a reforma reivindicam que o governo mantenha a independência do Judiciário.

“A legislação que permite ao governo agir de maneira irracional prejudicará a segurança do Estado de Israel, causará perda de confiança e violará meu consentimento para continuar arriscando minha vida –e levará, com profunda tristeza e sem escolha, a uma suspensão do meu dever de reserva voluntária”, escreveram os reservistas.

Em resposta à carta, o ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, afirmou que “recusar o serviço era perigoso para o país”. O advogado já foi indiciado várias vezes por incitação ao racismo e fez parte de um grupo de radicais de extrema direita que rechaça a ideia de tratados com os palestinos.

Já o porta-voz militar, o contra-almirante Daniel Hagari, afirmou que “examinaria os significados de acordo”. “A segurança dos cidadãos do Estado de Israel está nos militares permanentes e de reserva”, disse Hagari em um comunicado.

A reforma que causou uma das maiores crises domésticas na história recente do país altera o processo de nomeação de juízes e reduz o poder da Suprema Corte. Críticos e especialistas afirmam que medidas como tirar do Supremo o poder de vetar leis aprovadas pelo Parlamento ou aumentar a influência do governo sobre a nomeação de juízes removeriam os contrapesos do Estado democrático. Os defensores do projeto, porém, afirmam que a reforma impõe ao Judiciário um limite necessário para restaurar o equilíbrio entre os Três Poderes.

Na semana passada, o trâmite da reforma judicial no Knesset, o Parlamento israelense, avançou após um hiato de três meses, fazendo os protestos massivos que eclodiram no país do Oriente Médio no começo do ano também voltarem às ruas.

Após Netanyahu ensaiar um recuo em alguns pontos da reforma, seus aliados atropelaram as negociações com a oposição e votaram a favor de um texto que proíbe os tribunais de usar o chamado “padrão de razoabilidade” para invalidar decisões do governo. Em janeiro, a Suprema Corte usou esse recurso para ordenar o afastamento de Aryeh Deri, então número 2 do governo e titular das pastas do Interior e da Saúde, por uma condenação por fraude fiscal.

Até mesmo os presidentes dos maiores bancos de Israel se juntaram ao coro de críticas nesta sexta. “Os investidores com os quais conversamos nos últimos meses estão muito preocupados com os últimos acontecimentos. A preocupação deles com a divisão da nação e claro, a nossa, estão interrompendo investimentos e causando danos que podem ser irreversíveis e destrutivos para a economia de Israel”, disse o presidente-executivo do Leumi, Hanan Friedman. Ao seu lado, também se manifestou o CEO do Hapoalim, Dov Kotler.

Redação / Folhapress

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