BUENOS AIRES, ARGENTINA, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em meio ao debate crescente no Brasil entre Elon Musk, o STF (Supremo Tribunal Federal) e o governo Lula (PT), o presidente da Argentina, Javier Milei, encontrou-se com o bilionário no Texas nesta sexta-feira (12), na fábrica da montadora de carros elétricos Tesla.
O governo argentino afirma que, entre uma lista de outros temas abordados, o contexto brasileiro foi mencionado. Milei “ofereceu colaboração neste conflito entre a rede social X no Brasil e o marco do conflito judicial e político no país”, disse a assessoria do argentino.
Não foram dados detalhes de como seria essa colaboração ofertada pelo presidente ultraliberal, que no decorrer da última semana fez um giro pelos Estados Unidos, onde se encontrou com empresários e com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e deu entrevistas.
Dias antes, a chanceler de Milei, Diana Mondino, escreveu no X (antigo Twitter) que a Argentina sempre manteria suas embaixadas abertas para “dar refúgio a todos que são perseguidos por compartilhar valores de liberdade”.
A economista não disse a que se referia, ainda que a publicação tenha sido feita no mesmo momento em que cresciam os debates no Brasil e quando Musk disse que os funcionários do X eram perseguidos. A reportagem questionou em entrevista feita na tarde desta quinta (11).
Mondino respondeu que sua publicação era genérica. No entanto, também opinou sobre o cenário brasileiro. Ela é uma das ministras mais importantes do governo Milei.
“O que penso sobre Elon Musk e o Brasil? Eu desconheço os antecedentes legais que possa haver. Apenas tive a versão que se vê no Twitter [antigo nome do X] e, na verdade, me pareceria terrível se fosse verdade que estão cerceando a capacidade de expressão das pessoas.”
A equipe do X no Brasil tem pouco mais de 30 funcionários, dedicados a vendas e marketing e uma pequena equipe jurídica. A empresa atua em um coworking.
O bilionário demitiu pouco mais de 80 pessoas de um total de 120 em novembro de 2022, logo após comprar a rede social, segundo ex-funcionários ouvidos sob condição de anonimato.
Depois, o antigo escritório da empresa na Faria Lima, em São Paulo, foi desocupado no ano passado. A informação foi confirmada pela HBR Realty, empresa que administra o condomínio HBR Corporate Tower, onde a X Brasil estava instalada.
Os ex-funcionários ouvidos tiveram de assinar um acordo de confidencialidade sobre sua relação com a empresa.
Procurada via assessoria de imprensa, a X Corp respondeu, com mensagem automática, que estava ocupada no momento. Contatado, o escritório Pinheiro Neto Advogados, que defende a rede nacional no Brasil, não retornou.
Também nesta sexta, Buenos Aires comunicou que no encontro o dono do X e Milei acordaram que vão realizar “muito em breve” um grande evento na Argentina para “fomentar as ideias da liberdade”.
Entre outros temas, o magnata americano teria abordado suas ideias sobre como fomentar as taxas de natalidade ao redor do mundo, “enfatizando que o decrescimento das populações pode ser o fim da nossa civilização”.
Ao compartilhar a foto, Musk escreveu na legenda: “Rumo a um futuro emocionante e inspirador!”. Ele e Milei por inúmeras vezes já trocaram afagos. Também um vídeo do encontro com trilha sonora foi divulgado.
Milei esteve acompanhado de uma pequena comitiva. Entre os membros, sua irmã Karina, secretária-geral da Presidência, e o rabino Axel Wahnish, conhecido como uma espécie de “guru” de Milei e que o presidente quer colocar na embaixada do país em Israel.
Musk embarcou na onda de figuras bolsonaristas e atualmente trava uma disputa com o ministro do STF Alexandre de Moraes, a quem tem chamado de ditador. Moraes, por sua vez, determinou a investigação do bilionário, que ameaçou liberar contas bloqueadas na Justiça por fake news.
Na quarta-feira (10), Lula disse que Musk nunca produziu “um pé de capim no Brasil” e defendeu o STF. No dia anterior, o presidente brasileiro havia dito que bilionários do mundo precisam aprender a preservar a floresta, fazendo uma referência indireta ao dono do X.
Moraes incluiu Musk no inquérito que apura a existência de milícias digitais antidemocráticas e seu financiamento.
Apesar de se definir como um “absolutista da liberdade de expressão” e ter protestado contra o que definiu como “tanta censura” de Moraes, Musk tem cumprido, sem reclamar, ordens de remoção de conteúdo vindas dos governos da Índia e da Turquia, como mostrou a Folha de S.Paulo.
MAYARA PAIXÃO E PEDRO TEIXEIRA / Folhapress