Mineração e pecuária fizeram a ‘capital baiana do forró’ ter a maior população quilombola do Brasil

SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – A cidade de Senhor do Bonfim, localizada na região norte da Bahia, é a cidade com maior população quilombola do país, considerando números absolutos. De acordo com o Censo 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), dos 74.490 habitantes da cidade, 15.999 são quilombolas.

Salvador, a capital baiana, aparece na sequência do ranking, com 15,9 mil quilombolas, seguindo de . Alcântara (MA), que tem 15,6 mil. A cidade maranhense também é a que tem a maior proporção de quilombolas do país, com 84,6% da população se identificando dessa forma.

Conhecida como a “capital baiana do forró”, o maior evento cultural de Senhor do Bonfim é a festa junina. O município tem 138 anos, mas a formação de comunidades quilombolas precede a data oficial.

O território quilombola de Tijuaçu, localizado ao sul de Senhor do Bonfim, na divisa com os municípios Filadélfia e Antônio Gonçalves, foi fundado por volta de 1750.

A área engloba 14 comunidades, com 10.000 habitantes ao todo. Dessas, oito estão em Senhor do Bonfim, enquanto as demais estão distribuídas entre os municípios vizinhos.

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DEZ CIDADES COM MAIOR NÚMERO DE QUILOMBOLAS

Número de quilombolas

15.999 – Senhor do Bonfim (BA)

15.897 – Salvador (BA)

15.616 – Alcântara (MA)

15.000 – Januária (MG)

14.526 – Abaetetuba (PA)

14.488 – Itapecuru Mirim (MA)

12.857 – Baião (PA)

12.735 – Campo Formoso (BA)

12.190 – Feira de Santana (BA)

12.057 – Vitória da Conquista (BA)

No Brasil existem 1.696 cidades com população quilombola

Fonte: Censo quilombola IBGE 2022

“Tijuaçu é a única comunidade no Brasil inteiro que todos os quilombolas se autoafirmaram como quilombolas no Censo, todos os moradores da comunidade. Isso para a gente é muito importante e é a prova do nosso trabalho”, diz Valmir dos Santos, 45, líder do quilombo e coordenador-executivo da Conaq (Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos).

A formação dos quilombos em Senhor do Bonfim, bem como nas cidades da região como Jacobina e Campo Formoso, está relacionada ao desenvolvimento da mineração e da pecuária nos séculos 18 e 19, segundo Raphael Rodrigues, historiador da Uneb (Universidade do Estado da Bahia).

“Todos os lugares que têm histórico de mineração tem uma formação com bastantes pessoas negras envolvidas. Os processos de pessoas que vão montar quilombos lá na região de Senhor do Bonfim também é bem grande”, diz.

Ao final do século 16, portugueses organizavam expedições com destino ao rio São Francisco e às minas de ouro de Jacobina, iniciando a ocupação do interior da província e a formação de vias de comunicação com o litoral.

Neste período, a presença de negros e indígenas já era forte. De acordo com o coordenador da comunidade, Tijuaçu também desempenhou um papel semelhante ao do quilombo dos Palmares, abrigando negros escravizados fugidos de regiões próximas.

Por estar situada em uma zona de passagem dessas expedições, a cidade também se tornou ponto de abastecimento e parada para os polos maiores de mineração ativos nos municípios vizinhos.

“Pode se dizer que é uma consequência de uma concentração de pessoas negras e de comunidades negras, tanto para fornecimento de alimentos, como a própria exploração da mineração lá na região. Senhor do Bonfim não tinha mineração de ouro, mas fornecia alimentação para a região de mineração, tanto de ouro como de diamantes, dali próximos”, explica o professor.

Segundo os estudos, a presença dessa população na pecuária também é um fator que contribuiu para a formação dos quilombos na área.

O quilombo é de origem nagô, tendo sido fundado por uma mulher nigeriana, conhecida como Mariinha Rodrigues. “Por volta de 1750, chegou no Morro do Lagarto. Naquele tempo, ela deu o nome da comunidade de ‘lagarto’ devido aos lagartos que viviam na mata”, conta ele.

Futuramente, a comunidade passou a se chamar Tijuaçu, que significa “lagarto grande” em idioma indígena.

O quilombo ainda busca sua titulação no Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), mas já obteve reconhecimento pela Fundação Cultural Palmares desde 28 de fevereiro de 2000.

Tijuaçu faz parte de um dos 494 territórios quilombolas do país que tem alguma delimitação formal, conforme apontou o Censo 2022. Apenas 12,6% da população quilombola do país reside em territórios oficialmente reconhecidos.

O projeto Quilombos do Brasil é uma parceria com a Fundação Ford

MARIANA BRASIL / Folhapress

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