Ministra anuncia memorial da Covid e cita ‘política desastrosa’ com 700 mil mortes

CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) – A ministra da Saúde, Nísia Trindade, anunciou nesta terça-feira (25) que sua pasta e o governo federal farão um memorial para que a Covid-19 e a postura “desastrosa do governo passado” em relação à pandemia não sejam esquecidas.

O anúncio do que ela chama de “política de memória deste triste tempo” foi feito durante sua palestra no Congresso da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, nesta terça-feira (25), em Curitiba.

“Não podemos esquecer esse tempo. Não que nós não consigamos ver que estamos em um outro momento, em uma outra situação. Não é isso. Mas, não só a pandemia, mas a forma como o Brasil abordou, a política de governo absolutamente desastrosa, que nos levou a 700 mil vidas perdidas, não pode ser esquecida”, disse ela, se lembrando de iniciativas como os museus do Holocausto.

Nísia antecipou que a ideia é fazer o memorial da Covid onde hoje é o Centro Cultural do Ministério da Saúde, no Rio de Janeiro. “É hora de ocupá-lo com uma reflexão importante”, disse ela.

Durante sua palestra, a ministra afirmou que a pandemia “desnudou uma série de problemas já presentes na sociedade” e que um dos aprendizados é sobre a necessidade de se investir de forma contínua em ciência, tecnologia e inovação.

“O Brasil fez incorporação de tecnologia, contou com dois institutos para vacinas, mas não chegou a uma vacina gerada nos seus laboratórios de pesquisa, como aconteceu em outros países do Brics, por exemplo”, comentou ela.

Nísia aproveitou para citar os 50 anos do programa nacional de imunizações e o “forte ataque” que ele vem sofrendo por “uma onda de desinformação criminosa nas redes sociais”.

“Nós temos intensificado essas ações de vacinação com esforços de microplanejamento em todas as regiões do Brasil, mas não é uma tarefa só de governo. Acho que tem que ser uma tarefa também de sociedade”, disse ela.

A ministra iniciou sua palestra com uma foto de dois pesquisadores, Adele Benzaken e Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda, que em 2021 tiveram suas condecorações cassadas pelo governo, no auge do negacionismo bolsonarista durante a pandemia.

“Lacerda foi o responsável, entre vários trabalhos que realiza, pelo estudo que se comprovou não só que a cloroquina não tinha nenhuma eficácia em relação à Covid-19, mas, também, todos os efeitos adversos da administração da cloroquina do modo como, infelizmente, foi feita no Brasil”, destacou ela.

Em relação a Adele Benzaken, a ministra fala em “outra faceta das trevas a que fomos submetidos”. Benzaken perdeu a condecoração por defender a diversidade nas campanhas de prevenção a doenças sexualmente transmissíveis.

Sem citar nominalmente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Nísia afirmou que a revogação das condecorações foi um fato abominável e que a comunidade científica precisa permanecer vigilante, fomentando um diálogo democrático também internamente.

“Em muitos momentos tivemos a sensação de estar vivendo uma completa distopia, uma espécie de ‘Conto da Aia’. Nós não nos libertamos destas ameaças e isso é uma reflexão importante. Há muito o que fazer para consolidar uma visão democrática da sociedade”, afirmou ela.

Ao final da palestra, a ministra ainda falou sobre o impacto da pandemia na região Amazônica -“se não chamar isso de genocídio, não sei que nome nós podemos dar”- e do trauma na sociedade como um todo.

“Nós não podemos esquecer. Não só em respeito aos que se foram e às pessoas em luto, que a gente não tem como reparar. Mas, também porque é um trauma para a sociedade como um todo. Ou ao menos para a parte da sociedade que viveu assim. Porque uma parte da sociedade nega que o problema existiu. Por isso não podemos esquecer. Não no sentido do ressentimento, mas no sentido da superação e do avanço”, defendeu a ministra.

CATARINA SCORTECCI / Folhapress

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