SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, pediu nesta quinta-feira (11) a formação de uma comissão independente para investigar as falhas de segurança que culminaram com o mega-ataque do grupo terrorista Hamas no sul do país em 7 de outubro.
O requerimento foi visto como um desafio público ao primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu. Bibi, como o líder é conhecido, rejeita a criação de um inquérito enquanto a guerra contra o Hamas continuar na Faixa de Gaza. O governo é, no entanto, o único com poder para lançar o grupo de trabalho independente que, de acordo com especialistas, seria necessário para levar adiante uma tarefa do tipo.
Gallant fez o pedido em discurso durante uma cerimônia de formatura de cadetes. Segundo relato do jornal The Times of Israel, ele afirmou que a comissão deveria “examinar as falhas de inteligência e operacionais” que tornaram possíveis os eventos de 7 de outubro.
Todos, ele disse, deveriam ser alvos da investigação o Exército e os serviços de segurança, o governo atual e os da última década. “[A comissão deve] examinar a mim, o ministro da Defesa, e o primeiro-ministro, o chefe do Estado-maior e do Shin Bet [agência israelense de segurança interna], o Exército e todos os órgãos nacionais subordinados ao governo”, afirmou sob aplausos.
Gallant disse ainda que o órgão deveria apurar o que chamou de “processo de gestão” do atual conflito. As forças israelenses são amplamente criticadas pela comunidade internacional por promover ataques em áreas da faixa densamente povoadas, o que resulta em números altos de mortes.
Israelenses vêm aumentando a pressão sobre o governo para que ele aponte os responsáveis pelas vulnerabilidades que permitiram a invasão de comunidades israelenses por terroristas liderados pelo Hamas.
Uma pesquisa do Instituto para a Democracia de Israel realizada em abril indicou que 62% da população acreditava que estava na hora desses responsáveis renunciarem a seus postos em razão do episódio. Alguns líderes das Forças Armadas chegaram a fazê-lo, mas a perspectiva de um inquérito que envolva políticos e oficiais de alto escalão parece distante.
As rusgas entre Gallant e Netanyahu datam de muito antes do mega-ataque, no entanto. Em março do ano passado, o ministro da Defesa israelense chegou a ser afastado após criticar publicamente a reforma judicial promovida pela coalizão de ultradireita que apoia Bibi. As mudanças representavam para muitos uma ameaça ao Estado de Direito no país.
Mas a notícia da demissão motivou protestos massivos, e cerca de um mês depois Bibi recuou, sem que Gallant tivesse nem mesmo sido removido oficialmente do cargo.
Alguns analistas acreditam que o ministro da Defesa pode emergir como um adversário político de Netanyahu, especialmente se os Estados Unidos passarem a ver nele uma figura mais palatável do que o atual primeiro-ministro.
A declaração de Gallant se dá no mesmo dia em que o Exército de Israel divulgou um relatório com as conclusões de sua primeira apuração interna sobre os ataques de 7 de outubro.
O documento admite que houve “erros graves e falhas” na defesa do kibutz de Be’eri, cidade na fronteira com Gaza onde a incursão do Hamas deixou 101 mortos um décimo da população do local.
O relatório não responsabiliza individualmente nenhum militar, no entanto. Também deixa sem resposta perguntas importantes, como o motivo de as forças de defesa terem passado horas no portão do kibutz enquanto os habitantes da comunidade eram mortos no interior da propriedade.
Para muitos israelenses, as conclusões divulgadas apenas enfatizaram a necessidade de um órgão independente investigar os fatores que permitiram que as forças de segurança mais avançadas do Oriente Médio tenham sofrido um ataque dessas dimensões.
“Na minha visão, o que eles disseram foi: ‘Nós os abandonamos'”, disse Rami Gold, 70, ao comentar as descobertas ao Washington Post. O morador de Be’eri fazia parte da equipe de defesa do kibutz e tentou defender o local dos terroristas naquele dia.
Redação / Folhapress