BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ministro da Defesa do governo de Jair Bolsonaro (PL), Paulo Sérgio Nogueira, disse que a comissão de transparência eleitoral do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) servia para “inglês ver” e que ele estava em “contato com o inimigo”, em referência às reuniões com a corte eleitoral.
A declaração foi dada em reunião que integra investigação da Polícia Federal sobre atos golpistas. Na ocasião, ele também afirmou que se reunia com as Forças Armadas “quase que semanalmente” para discutir eleições.
A reunião foi revelada após a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), que desencadeou a operação de quinta-feira (8) contra Bolsonaro e militares e integrantes de seu governo.
A gravação foi encontrada no computador do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Barbosa Cid.
Nela, o ministro da Defesa faz um relato sobre as reuniões da comissão criada pelo TSE para dar transparência ao sistema eleitoral e aperfeiçoar as urnas eletrônicas, que eram criticadas por Bolsonaro.
“A comissão é para inglês ver. Nunca essa comissão sentou numa mesa e discutiu uma proposta. É retórica, discurso e ataque à democracia, e eles fazem o que tem que ser feito”, disse.
Depois, ele afirmou que a comissão havia tido cinco reuniões desde setembro e que era “só conversa para boi dormir”.
E prosseguiu: “O que eu sinto, nesse momento, é apenas na linha de contato com o inimigo. Ou seja, na guerra, a gente ‘linha de contato, linha de partido, eu vou romper aqui e iniciar minha operação’. Eu vejo as Forças Armadas e o Ministério da Defesa nessa linha de contato”.
No encontro, o então presidente ordena que seus auxiliares repitam falas, sem provas, sobre fraude nas urnas eletrônicas.
Nogueira, por sua vez, disse que estará “em cada frase pressionando” o TSE. Ele também levanta suspeita sobre a lisura do processo eleitoral.
“Nós vamos ter um sucesso, um resultado, uma transparência, uma segurança, uma condição de dizer: ‘Não, realmente é mínima a chance de fraude, ou é grande a chance de fraude?'”, disse.
Em outro momento, o então ministro da Defesa se dirige a Bolsonaro e afirmou que estava “realizando reuniões com os comandantes de Forças quase que semanalmente”.
“Esse cenário nós estudamos, nós trabalhamos, nós temos reuniões pela frente decisivas para a gente ver o que pode ser feito, que ações poderão ser tomadas para que a gente possa ter transparência”, afirmou.
A comissão com a presença da Defesa foi usada amplamente por Bolsonaro para levantar suspeita contra as urnas eletrônicas.
O convite feito pelo então presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, ocorreu em meio a ataques de Bolsonaro às urnas eletrônicas e a questionamentos de aliados do Planalto contra o sistema eleitoral brasileiro.
As Forças Armadas sempre auxiliaram o TSE na logística dos pleitos, mas pela primeira vez passaram a integrar oficialmente uma comissão dessa natureza.
A atuação das Forças na comissão, porém, levou integrantes de tribunais superiores, inclusive do STF, a considerarem um erro o convite para que militares participassem do colegiado.
MATHEUS TEIXEIRA / Folhapress