Ministro enfrenta desgaste, não é recebido por Lula, mas tem apoio de centrais

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo, vem passando por um processo de desgaste interno no Palácio do Planalto, com críticas nos bastidores de pessoas próximas ao presidente Lula (PT).

Macêdo não é recebido por Lula para uma audiência exclusiva desde o 1º de Maio, de acordo com a sua agenda oficial. Na ocasião, o ministro sofreu críticas do presidente por não ter articulado com o movimento sindical o ato em São Paulo com Lula, que acabou esvaziado.

Levantamento feito pela reportagem com a agenda do ministro mostra 14 reuniões na presença de Lula. Destas, em 3 estavam apenas os dois: todas antes do evento do Dia do Trabalhador.

De acordo com relatos de assessores do presidente, Macêdo não é mais consultado para pautas centrais do núcleo de governo —hoje esses temas ficam mais restritos a Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais).

Procurada pela reportagem, a Secretaria-Geral não se manifestou. Aliados de Macêdo apontam que, mesmo sem reuniões exclusivas com Lula, o ministro costuma ser chamado de última hora para encontros fora da agenda, sem citarem mais detalhes.

Eles também atribuem as críticas a fogo amigo, sobretudo de governistas que atuam no Congresso —foco principal das derrotas do governo nas últimas semanas.

Macêdo é o responsável no governo pela relação com os movimentos sociais. No 1º de Maio, Lula citou nominalmente Macêdo ao criticar que o ato havia sido mal convocado.

E aquela não foi a primeira vez em que Lula o criticou publicamente. No fim do ano passado, o presidente reclamou de Macêdo durante a celebração do Natal dos Catadores. Disse que seu ministro “fala demais”.

“E hoje, Márcio, eu esperava que você e os catadores tivessem feito mais. Eu esperava que a gente tivesse aqui uma pauta de grandes conquistas”, afirmou o presidente, no discurso.

Um mês antes, ele já tinha sido alvo de queixas por ter organizado um encontro sem a participação de todas as centrais sindicais e marcado pela ausência de representantes de movimentos sociais do porte do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto).

Macêdo conta com o apoio das centrais sindicais, cujas lideranças dizem ter pleno acesso a ele. Delas, as queixas estão mais voltadas para o ministro da Casa Civil, Rui Costa.

Além de as sindicais terem poupado o ministro pelo fracasso do 1º de Maio, ele também foi aplaudido durante a posse da nova presidente da Petrobras, Magda Chambriard, pela FUP (Federação Única dos Petroleiros).

Macêdo tem buscado apoio de parlamentares petistas para evitar maior isolamento, mas não tem sido poupado durante jantares com a bancada do PT. Ele foi apelidado, entre correligionários, de Zé Gotinha — uma alusão ao mascote da campanha de vacinação que faz figuração.

Auxiliares de Lula dizem que a crítica pública do presidente, em maio, ampliou um desgaste interno que o ministro já vivia por causa de uma atuação considerada apagada à frente da pasta que outrora mobilizava mais fortemente a sociedade civil e movimentos sociais.

Ainda que admitam a menor capacidade de mobilização da esquerda hoje, eles afirmam que o ministério não tem buscado se aproximar de setores distantes do Executivo. Há uma avaliação de que Macêdo deveria atuar mais na articulação política, não partidária, junto à sociedade.

Eles se queixam de pouca expressividade da Secretaria-Geral em momentos em que o governo precisaria de mais apoio, como no projeto de lei da regulamentação dos aplicativos —uma prioridade para o governo, mas que permanece travado no Congresso. Faltou aproximação com os representantes dos motoboys, categoria ainda não regulamentada.

Auxiliares também citam o PL Antiaborto por Estupro. Apesar de ser uma pauta do Congresso, coube mais ao ministro Alexandre Padilha receber secretárias estaduais e movimentos de mulheres contrárias à pauta –à qual o governo também foi contrário.

A proposta enfrentou uma grande resistência da sociedade, um dos raros momentos em que os setores à esquerda prevaleceram sobre os bolsonaristas, seja nas ruas ou nas redes sociais. A reação, no entanto, se deu de maneira espontânea, sem participação do Planalto ou mais especificamente da Secretaria-Geral da Presidência na mobilização.

Houve também muito desgaste envolvendo a exoneração da então secretária-executiva Maria Fernanda Coelho, bem cotada no PT. Ela pediu demissão no episódio em que Macêdo viajou com outros três servidores para o Carnaval fora de época de Aracaju, capital de Sergipe, base eleitoral do ministro.

Segundo interlocutores, ela teria recusado aprovar a viagem dos servidores. O ministério abriu sindicância interna para apurar o episódio.

O desempenho de Macedo à frente da pasta é apontado como uma das causas pelas quais seu nome deixou de ser cogitado para a presidência do PT, na vaga hoje ocupada por Gleisi Hoffmann (PR).

Durante a montagem do governo, a aposta era de que ele viesse a suceder Gleisi no ano que vem, hipótese que acabou descartada. O ministro também é constantemente citado quando surgem rumores de reforma ministerial.

Macêdo conquistou a confiança do presidente como coordenador das caravanas encabeçadas por Lula, entre outubro de 2017 e março de 2018. Após a prisão do petista, em abril de 2018, Macêdo foi um dos organizadores da vigília em solidariedade a Lula, em acampamento montado diante da sede da Polícia Federal em Curitiba.

É considerado um amigo do presidente e da primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, a Janja, sendo um dos poucos ministros a frequentar sua casa. Foi, por exemplo, o único a passar o Ano Novo com o casal, na restinga da Marambaia.

Ex-tesoureiro do PT, foi também coordenador de finanças da campanha de Lula nas eleições de 2022, relação que pavimentou sua nomeação para a Secretaria-Geral, com apoio de Gleisi.

CATIA SEABRA, MARIANNA HOLANDA E RENATO MACHADO / Folhapress

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