SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No momento em que aumenta a pressão da comunidade internacional para que Israel e o Hamas aceitem o acordo de cessar-fogo apresentado pelos Estados Unidos, membros extremistas da coalizão que mantém o premiê Binyamin Netanyahu no poder ameaçam deixar o governo se Tel Aviv acatar a proposta americana.
O ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, acusou Netanyahu de tentar ocultar o teor do acordo nesta segunda-feira (3), dizendo que ainda não teve acesso ao texto. Ben-Gvir, líder do partido ultranacionalista judeu Otzima Yehudit, afirmou que qualquer plano de cessar-fogo precisa incluir a derrubada do Hamas.
O ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, outro membro extremista do governo de Israel, também disse que deixará a coalizão de Netanyahu se a proposta for aceita. “O acordo perigoso anunciado [pelos EUA] foi feito pelo gabinete de guerra sem autoridade legítima e contra a lei. Ele não é vinculante para o governo e o Estado de Israel”, disse Smotrich.
Como parte da coalizão que permitiu que Netanyahu voltasse ao poder em 2022, uma série de partidos extremistas passaram a fazer parte do governo israelense. Essas siglas têm poucas cadeiras no Knesset, o Parlamento de Israel, mas seu apoio é a única coisa que sustenta a maioria do partido do premiê na Casa e, portanto, sua permanência no cargo.
Entretanto, o principal líder da oposição do país, Yair Lapid, disse que Netanyahu pode contar com seu apoio para formar um governo com o objetivo de aceitar a proposta de cessar-fogo caso os extremistas abandonem a coalizão. “O Estado de Israel não pode ignorar o discurso do presidente Joe Biden. Existe uma proposta e ela deve ser aceita”, afirmou Lapid.
A proposta de cessar-fogo em questão foi apresentada pelo presidente dos EUA, Joe Biden, em um discurso na última sexta-feira (31). Na ocasião, Biden havia dito que o plano partiu de Israel –no domingo (2), um assessor de Netanyahu confirmou que Tel Aviv aceita os termos gerais do acordo, que prevê três fases para que a guerra seja encerrada.
A primeira envolve um cessar-fogo de seis semanas, incluindo a retirada de tropas israelenses de áreas habitadas de Gaza e a soltura dos reféns ainda em poder do Hamas em troca da libertação de centenas de prisioneiros palestinos. Nessa fase, também haveria um rápido aumento da entrada de ajuda humanitária em Gaza, segundo Biden.
Na segunda fase, o Hamas e Israel negociariam um fim permanente para a guerra, e o cessar-fogo continuaria em vigor enquanto durarem as conversas. Esse é o ponto que causa mais polêmica entre os partidos extremistas que integram o governo israelense, uma vez que contraria o objetivo declarado de Tel Aviv de destruir por completo o Hamas e erradicar seu controle político e militar sobre a Faixa de Gaza.
Horas depois do discurso de Biden no qual o plano foi anunciado, o gabinete de Netanyahu disse em uma publicação no X que a proposta “permite que Israel prossiga com a guerra até que todos seus objetivos sejam atingidos, incluindo a destruição das capacidades governamentais e militares do Hamas”, em uma aparente contradição dos termos divulgados pelo presidente americano.
Biden também disse que as negociações levariam a um “dia seguinte” para a Faixa de Gaza sem o Hamas no poder, mas não está claro como isso seria possível. Depois de meses de bombardeios e mais de 36 mil palestinos mortos em Gaza, o Hamas não dá sinais de que perdeu a coesão ou a capacidade de agir como grupo.
A terceira fase consistiria de um plano de reconstrução do território palestino. A proposta já foi entregue ao Hamas pelo Qatar, disse a Casa Branca. Em comunicado, a facção afirmou que vê o plano de forma positiva, e Biden disse nesta segunda que pediu ao emir do Qatar que pressionasse a facção palestina a aceitar.
O acordo também recebeu o apoio do G7, o grupo que reúne as principais economias industriais do mundo alinhadas aos EUA –Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão e Reino Unido, além de Washington. O G7 disse em um comunicado que o plano “apresenta uma solução viável na direção de uma solução de dois estados”.
Redação / Folhapress