Minoritário da Americanas reverte perdas após alta da varejista e usa ações como ‘poupança’ para filho

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O empresário Inácio de Barros Melo Neto, 44, tinha pouco cerca de R$ 12 milhões em ações da Americanas no início deste mês. Nesta segunda (18), ele vai dormir com quase R$ 31 milhões -este é o valor dos 3,24 milhões de ações que mantém da varejista. O papel fechou o dia cotado a R$ 9,52, uma valorização de 174% sobre o preço de 1º de novembro (R$ 3,70).

A ação da Americanas (AMER3) vem registrando alta expressiva desde 14 de novembro, dia seguinte à divulgação do balanço do terceiro trimestre da companhia. Na ocasião, a empresa apresentou um lucro líquido de R$ 10,3 bilhões contra prejuízo de R$ 1,63 bilhão frente ao mesmo período de 2023 -mas o resultado está ligado diretamente à execução do plano de recuperação judicial, não à operação em si, que ainda não é lucrativa.

A oscilação dos papéis, porém, é intensa: nesta segunda, chegou ao pico de R$ 18,14, um salto de 92,77% sobre o fechamento anterior, mas encerraram o dia com alta de 1,17%.

“Acho que já dobrei a posição que eu tinha em julho”, disse Melo Neto à Folha. “Eu acredito nos fundamentos da empresa e na sua recuperação”. Há cinco meses, antes do grupamento de ações, em agosto, ele chegou a se tornar acionista relevante da varejista em recuperação judicial, com 12,5% de participação, depois de investir mais de R$ 10 milhões em ações.

“Hoje comprei mais 13 mil ações”, afirmou. “Também já comprei 67 mil papéis para o meu filho mais velho, de 15 anos. Serve como uma poupança”, diz ele, ressaltando que o mercado de ações não pode ser algo do qual se entra e sai de uma hora para outra. “A gente tem um caminho longo pela frente. Eu vou esperar mais uns 15 dias para o papel estabilizar, e devo voltar a comprar.”

Membro de uma família tradicional de Olinda, Melo Neto é formado em direito e comanda instituições de ensino -é diretor da Faculdade de Medicina de Olinda e do Colégio Ecolar. Foi candidato a vereador em Recife em 2012 pelo PSB, e também administra o Instituto Maria Alcoforado de Barros Melo, voltado ao tratamento de crianças portadoras da Síndrome de Down.

Em entrevista anterior à Folha, Melo Neto afirmou que começou a comprar ações da empresa no ano passado, inspirado por uma entrevista de 2020 com o próprio acionista de referência da Americanas, Jorge Paulo Lemann, em que ele dizia ser um bom negócio adquirir ações de empresas que estavam em crise.

Em agosto, os papéis da companhia chegaram a registrar queda de 77% em 30 dias. No fim do mês, no entanto, a Americanas realizou um grupamento de ações na proporção de 100 para 1, visando reduzir a volatilidade da cotação e, ao mesmo tempo, aumentar seu valor para estimular a negociação na Bolsa.

Questionado sobre se não teme investir em uma companhia que admitiu ter praticado fraudes contábeis por diversos anos, o empresário diz que “problema existe em toda empresa.” “Quero ser lembrado como um homem de coragem”, disse. “Se Lemann, [Marcel] Telles e [Beto] Sicupira quebrarem, o Brasil vai junto, né? Seria uma agressão à economia nacional”, disse ele, referindo-se ao trio de bilionários que são os maiores acionistas da Americanas.

DANIELE MADUREIRA / Folhapress

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