Moda em 2024 teve nova marca de Sasha Meneghel e dança das cadeiras em grifes

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O cenário é contraditório. No panorama global, a moda de luxo enfrentou dificuldades neste ano -de um lado, houve a piora das vendas, com marcas desejáveis como Saint Laurent reportando queda de 12% no faturamento em outubro, por exemplo. De outro, faltou criatividade, como nas coleções genéricas e sem sal de Sabato De Sarno para a Gucci.

Diante das incertezas econômicas e do crescimento lento no setor, houve uma verdadeira dança das cadeiras em algumas das principais grifes. A Chanel, por exemplo, ficou seis meses num grande limbo desde a saída de Virginie Viard de sua direção criativa, em junho. Depois de muita especulação, Matthieu Blazy foi anunciado como o novo diretor no início deste mês. Ex-Bottega Veneta, o estilista assumiu o cargo da mais cobiçada marca de moda global, que já teve Karl Lagerfeld à sua frente.

Outra substituição foi a de Hedi Slimane na Celine. Conhecido por sua estética minimalista e seu talento fotográfico, o estilista consolidou a grife francesa como uma força no mercado de luxo e dobrou suas receitas nos últimos seis anos. Em outubro, no entanto, a marca anunciou sua saída da direção criativa, posto assumido pelo designer americano Michael Rider.

Já na Valentino, Pierpaolo Piccioli deixou a direção da marca depois de 25 anos. Em março, ele foi substituído por Alessandro Michele, que ficou famoso por revitalizar a Gucci com sua estética maximalista e ousada. Na Gucci, por sua vez, Sabato De Sarno tomou o lugar de Michele.

Para além das substituições de seus diretores de criação, houve uma preocupação das marcas em reafirmar sua tradição e relevância na história da moda durante as semanas de moda, como uma forma de manter e conquistar novos consumidores, num cenário de instabilidade.

Mas no Brasil o clima foi o oposto. A Misci, orgulhosa de se apresentar como uma marca nacional de luxo, teve um ano de prestígio e aumento de popularidade, com a visita da apresentadora americana Oprah Winfrey a uma de suas lojas, quando comprou a bolsa Bambolê, e um desfile concorrido em que fãs da etiqueta vestiam as criações do designer Airon Martin dos pés à cabeça.

Além do sucesso local, Martin entrou na lista das 500 pessoas mais influentes da moda no mundo neste ano, compilada anualmente pelo site Business of Fashion, um dos principais do setor. Ele foi o único profissional do Brasil a ser destacado. “O designer não apenas pediu que os brasileiros apoiassem os criativos locais, mas também é franco sobre questões sociais e ambientais”, escreveu o site, ao justificar a escolha do estilista.

O ano teve também a estreia da grife de Sasha Meneghel. Com um diploma da escola de moda Parsons, de Nova York, a filha de Xuxa desfilou em junho a primeira coleção da Mondepars, com looks básicos mas sofisticados e caimentos fluidos, na linha da francesa Le Maire. Meses mais tarde, abriu uma loja temporária num shopping de luxo de São Paulo, mirando quem pode pagar mais de R$ 1.000 numa camisa.

Isso aconteceu no contexto da expansão do comércio de artigos com preços acima de quatro dígitos em São Paulo. A Balenciaga, que havia fechado sua loja no shopping Iguatemi, reabriu o ponto, desta vez com uma área maior. A Tiffany tem, no mesmo centro de compras, uma loja com dois andares que considera a principal da América Latina.

Perto dali fica a Rimowa, que vende malas de viagem por preços a partir de R$ 4.300 e se tornou neste ano a queridinha dos descolados com bastante grana. A empresa alemã tem feito um grande esforço para ser mais do que é -uma marca conhecida pelas suas bagagens de alumínio- e passou a investir em acessórios como capas de iPhone, a partir de R$ 850, e bolsas, por R$ 12,6 mil, numa tentativa de se associar com moda e “lifestyle” mais do que com a rotina entediante e cheia de regras dos aeroportos.

Não é necessário desembolsar uma minifortuna, contudo, para desfilar uma mala nas salas VIP lotadas do aeroporto de Guarulhos. Imitações perfeitas dos produtos Rimowa podem ser encontradas em galerias da avenida Paulista, junto a réplicas de roupas de marcas de luxo como Prada e Hermès, no que foi uma tendência do ano -a proliferação de lojas que vendem pirataria de luxo, feita na China, na principal via da cidade.

As cópias são tão bem feitas que enganam como se fossem originais. Isso parece um sintoma de que o desejo por exibir um logotipo numa bolsa ou numa camiseta enterrou de vez a onda do luxo silencioso, tão forte no ano passado e que prezava a discrição no vestir.

Numa outra ponta do mercado, este ano teve mais expansão do streetwear brasileiro, que vem numa boa fase há quase uma década. Em São Paulo, duas das principais etiquetas de moda de rua, Piet e Pace, abriram lojas próprias depois de anos atuando só pela internet ou com vendas em multimarcas.

Enquanto a primeira traz referências dos hippies para seu vestuário, a segunda aposta numa moda de ar futurista e urbano, acoplando cabos de aço a peças de modelagens amplas. Junto com a Carnan -marca carioca de streetwear que conquistou os paulistanos e também cresceu neste ano-, vestir Piet ou Pace virou sinônimo de estar antenado em roupas que poderiam aparecer nas ruas de qualquer metrópole do mundo.

Outra marca a se consolidar e abrir um ponto de venda foi a Forca, que inaugurou neste mês um galpão na Barra Funda. A grife paulistana tem peças com materiais inesperados, como bermudas e jaquetas de borracha, e aposta no preto em um vestuário com um quê de rebeldia, a exemplo das camisetas puídas e das botas de bico quadrado.

Além disso, vai ser impossível pensar neste ano e não se lembrar de Alexandre Pavão, o designer de bolsas mais original do Brasil no momento. Suas peças carregadas de informação, com cordas e lacres nas alças, são facilmente reconhecíveis, seja na fila do supermercado, usadas por adolescentes comprando cerveja para a balada, ou na primeira fila dos desfiles, no colo dos fashionistas fazendo pose para as redes sociais.

A moda ainda perdeu um de seus nomes mais irreverentes neste ano que chega ao fim. A designer de interiores Iris Apfel morreu aos 102 anos, em março. Ela ficou conhecida pelo estilo único de se vestir, que incluía óculos grandes e de armação pesada, batons vermelhos, bijuterias ostensivas e roupas extravagantes. Ela se tornou um ícone pop, espécie de influenciadora fashion, que se denominava uma “estrela geriátrica” pela fama adquirida quando tinha mais de 80 anos.

JOÃO PERASSOLO E NADINE NASCIMENTO / Folhapress

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTÍCIAS RELACIONADAS