NELSON DE SÁ
PEQUIM
Expectativa é de R$ 1,6 trilhão para estabilizar mercado financeiro e o mesmo valor para cobrir dívidas locais, mas vitória de Trump pode ampliar cifras
(FOLHAPRESS) Em 24/10/2024 23h00
Há um mês, em 24 de setembro, o banco central da China lançou as primeiras medidas de um pacote de estímulos à economia do país, visando reduzir as taxas de empréstimos.
O anúncio mais aguardado, no entanto, sobre o volume de recursos a serem liberados para a estabilização do mercado financeiro e para o resgate das dívidas das províncias, entre outras ações, ainda depende institucionalmente de aprovação do Comitê Permanente do Congresso Nacional do Povo.
Prédio da Bolsa de Valores de Pequim, decorado para o Ano Novo chinês, em 8 de fevereiro 2024 Florence Lo Reuters **** A sessão regular seria neste final de outubro, mas as regras indicam que deve ficar para o mês que vem, após a eleição nos Estados Unidos, no dia 5. Segundo analistas chineses, foi o que ocorreu também no caso das medidas de 24 de setembro: elas vieram logo após o anúncio no dia 18, pelo banco central americano, do primeiro corte significativo nos juros desde 2020, liberando recursos para os mercados globais.
As normas legislativas determinam que a data da sessão do Comitê Permanente seja anunciada com pelo menos sete dias de antecedência, o que ainda não havia sido feito até esta quinta-feira (24). A divulgação das decisões será feita pela agência Xinhua depois dos quatro ou cinco dias da sessão.
Iniciado há meses, o intenso debate econômico em torno do estímulo prossegue, através de plataformas e veículos chineses de mídia, inclusive estatais. Está concentrado agora nos recursos a serem liberados, com valores totais que chegam a 6 trilhões de yuans (R$ 4,8 trilhões).
Esse foi o número destacado pela revista financeira Caixin, de Pequim, que citou fontes anônimas –e buscou conter o que chamou de “especulação desenfreada” sobre o volume de recursos, depois que o ministério das finanças confirmou que haveria ajuda às províncias. Especula-se que, em caso de eleição de Donald Trump, o valor liberado pelo Comitê Permanente ultrapasse 10 trilhões de yuans (R$ 8 trilhões).
Nos últimos dias, houve mais indícios concretos sobre o montante e a destinação do dinheiro. O jornal Pengpai Xinwen (The Paper), de Xangai, noticiou que um relatório do Instituto de Finanças da Academia Chinesa de Ciências Sociais (ACCS) propôs a emissão de 2 trilhões de yuans (R$ 1,6 trilhão) em títulos especiais para criar um fundo de estabilização do mercado de ações.
Segundo o relatório, que saiu na terça (22), o fundo viria em apoio aos cortes iniciais das taxas de juros, de um mês atrás, visando “otimizar o ajuste da estrutura das ações”. O segundo passo será “otimizar a estrutura da dívida pública, com o governo central substituindo a dívida implícita para afrouxar as restrições dos governos locais”.
O jornal em inglês China Daily, de Pequim, publicou que a expectativa no mercado financeiro do país é que, até o final deste ano, o “swap” das dívidas das províncias mobilize um pacote fiscal suplementar de outros 2 trilhões de yuans. Ao longo dos próximos anos, o volume de recursos para essas medidas alcançaria 6 trilhões de yuans.
Li Daokui, diretor do Centro de Prática e Pensamento Econômico Chinês da Universidade Tsinghua, de Pequim, acha pouco. Ele defende que a dívida local alcança 20% do PIB da China, cerca de 30 trilhões de yuans, e deve ser trocada integralmente por títulos de longo prazo.
O economista falou durante fórum na Universidade Central de Finanças e Economia, também de Pequim, ao lado do vice-diretor do Instituto de Finanças da ACCS, que concordou, em linhas gerais. Li também alertou, como reproduzido pela mídia estatal, que “o fracasso em resolver esse problema [dívida das províncias] afetará a sensação de ganho das pessoas, bem como a estabilidade política e social”.
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NELSON DE SÁ / Folhapress