RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Moradores de Copacabana e turistas que frequentam o bairro da zona sul do Rio de Janeiro passaram a adotar hábitos diferentes para evitar roubos, em meio a um aumento da sensação de insegurança na região.
Em um bar, uma caixa de som estava presa a uma cadeira com um cadeado de bicicleta. Na rua, um guarda-sol estava ligado com uma corrente de ferro a um banco. Um taxista disse que a medida era para evitar furtos.
A reportagem visitou alguns pontos de Copacabana neste domingo (10), e ouviu diversos relatos de mudança na rotina.
Uma das medidas mais comuns e evitar sair de noite. “Antes gostava de ir à noite no supermercado, mas agora tento fazer tudo durante o dia, deixo para o final de semana, por exemplo, para repor as compras do mês”, disse a economista Lúcia Rocha Santos, 36.
Os turistas Vinícius Prates, 23, e Jossiano Vieira, 24, estavam sentados no calçadão da praia. Contam que somente souberam da onda de insegurança no bairro ao desembarcarem na cidade, semana passada. “Saímos da rodoviária e o motorista do carro de aplicativo nos aconselhou sobre o uso do celular nas ruas”, disse Prates.
Vieria afirmou que o mais inusitado foi quando um policial abordou os dois. “Estávamos tirando fotos na frente do Theatro Municipal [centro do Rio]. Um policial militar se aproximou e disse para a gente ter cuidado, que ali era uma área um pouca tensa e poderiam roubar o celular”, contou.
Após isso, eles passaram a se deslocar de carro de aplicativo até para pequenos trajetos, de cerca de 800 metros, durante a noite.
Uma moradora da rua Duvivier, rua ao lado do Copacabana Palace, diz que usa três celulares: um que fica em casa, e possui dados da conta bancária principal. Outro, com uma conta bancária secundária, somente para uso de pix na rua. E, um terceiro, que só é possível fazer ligações. Esse último, diz, sem querer se identificar, é para entregar a possíveis assaltantes.
Sidnei Oliveria Sá, 52, é ajudante de cozinha de um hotel da orla. Morador da Penha, na zona norte da cidade, diz que a sensação de insegurança ocorre em toda a cidade. “Pego ônibus às 5h. Hoje mesmo, vi um motoqueiro diminuindo a velocidade e corri para pegar o primeiro ônibus que vi. Tem que ficar esperto para não ser assalto, é sinistro”, disse.
Sá disse que em dias de calor é comum acontecerem arrastões na praia. Por isso, os funcionários do hotel recomendam que hóspedes não usem correntes ou colares na rua.
“Essa semana mesmo vi uma senhora ter um colar arrancado, quase em frente a essa cabine da PM [aponta uma cabine perto]. Foi nesse trecho da praia que mataram um jovem, fã daquela cantora que fez show mês passado. A polícia até pediu as câmeras do hotel”, afirmou.
Ele faz referência à morte de Gabriel Mongenot Santana Milhomem Santos, 25, morto a facadas na madrugada do dia 19 de novembro, vítima de latrocínio. O jovem era fã da cantora Taylor Swift, e estava na cidade para o show dela.
“Aqui é assim: se você não tiver nada para dar, parece que eles levam sua vida. Eu tenho somente um celular, se falarem ‘perdeu’, eu perdi. Pode levar. E isso dá uma revolta, sabe?, disse ele.
Recentemente, imagens de assaltos no bairro passaram a viralizar nas redes sociais. Um dos casos que mais repercutiu no Rio de Janeiro foi o ataque sofrido pelo empresário Marcelo Rubim Benchimol, 67, no domingo (3). Ele foi agredido e roubado no bairro por um grupo de jovens.
A ação foi flagrada por câmeras de segurança. Nas imagens, é possível ver quando ele desmaia após levar um soco. O empresário sofreu os ataques após defender uma mulher de um roubo. Ele passa bem. O homem que deu um soco em Marcelo foi preso na baixada fluminense na sexta (8).
Depois da repercussão do caso do empresário, moradores passaram a formar grupos pelas redes sociais para sair à caça de supostos criminosos.
Um jovem chegou a ser confundido com um assaltante, foi perseguido por 350 metros e espancado. A Polícia Civil investiga o movimento e tenta identificar os agressores.
Índices criminais em Copacabana
Dados oficiais de violência indicam que os números estão em um patamar abaixo do nível pré-pandemia. E, apesar de altos, também estão distantes dos recordes da série histórica.
Em novembro, foram 106 roubos nas ruas do bairro, menos que os 120 registrados no mesmo mês no ano passado. No acumulado dos primeiros 11 meses, foram 1.105 roubos de rua, uma alta de 10,7% em relação ao mesmo período de 2022.
Em comparação com 2019, porém, há uma redução de 15,1% –foram 1.301 casos naquele ano, o último antes da pandemia de Covid. Durante a emergência sanitária, com menos circulação de pessoas, os números sofreram uma redução.
O recorde para o período foi em 2008, com 1.362 casos em 11 meses. A série histórica existe desde 2003.
O indicador de roubos reúne os índices de roubos a transeuntes, a ônibus e de celulares.
BRUNA FANTTI / Folhapress