SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Cerca de cem moradores se concentraram na esquina da rua Mauá com o viaduto General Couto de Magalhães, ao lado da estação Luz do metrô, na tarde desta quinta-feira (9), no centro de São Paulo, para protestar contra a presença do fluxo da cracolândia.
O cordão humano com aproximadamente cem pessoas, entre homens, mulheres e crianças, colocou panos vermelhos e fita zebrada no chão para mostrar onde os usuários não poderiam passar. Alguns reclamaram, mas recuaram.
Segundo representante dos moradores, nesta quinta-feira seria o terceiro dia consecutivo em que a GCM (Guarda Civil Metropolitana) estaria levando os usuários de drogas da rua dos Protestantes para eles passarem a noite na rua Mauá.
“Eles [GCM] vêm gritando, a pé, com armas muito grandes e dizendo as seguintes palavras: ‘Vão tudo pra Mauá’. Eu tenho isso gravado”, afirma a desempregada Ivaneti Araújo, 50, representante do MMLJ (Movimento de Moradia e Luta por Justiça).
“Há uns 12 dias trouxeram eles para cá, mas logo saíram. Anteontem, trouxeram e só tiraram no outro dia. Ontem, a mesma coisa. Nós moramos aqui há mais de 18 anos num prédio ocupado, que hoje pertence à Cohab. São 237 famílias e mais de 100 crianças”, diz Araújo.
Ela explica que fica um grupo de GCMs de cada lado do fluxo, que possui entre 500 e 600 dependentes químicos. E como o prédio ocupado fica bem no meio da rua, os moradores precisam passar por esses bloqueios caso queiram sair e acabam sendo parados pelos guardas, que perguntam para onde vão e o que vão fazer.
“As mulheres têm de jogar lixo e eles não deixam. Eles estão violando nosso direito de ir e vir. Essa não é a política de atendimento para os moradores em situação de rua. Eles estão colocando o povo contra o povo e também jogando os usuários de uma rua para outra”, critica a representante. “Essa é a vida que estamos vivendo aqui, todos os dias. Nós somos vítimas, mas eles são vítimas como a gente.”
A reportagem apurou que essa transferência dos usuários da cracolândia seria uma operação padrão da Polícia Civil para identificar e prender alguns suspeitos de tráfico de drogas.
O inspetor de divisão Paulo Breves, chefe da comunicação da GCM, afirma que a guarda não determina o deslocamento do fluxo, mas, em vez disso, faz o acompanhamento para garantir a segurança dos munícipes, patrimônio público e privado e dos próprios usuários.
Ele afirma que, em muitos casos, os usuários migram para locais onde há menor chance de conflito com moradores ou comerciantes e, ainda, para locais onde há maior chance de conseguir objetos de valor, garimpados no lixo, para trocar pelo crack.
Breves diz que a GCM atua diariamente com 180 homens, em 40 viaturas entre carros e motos, para dar apoio à Polícia Civil. Segundo o inspetor, a operação desta quinta encontrou dinheiro, balança de precisão e pedras de crack, além de um simulacro de arma de fogo.
CLAYTON CASTELANI / Folhapress