PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – Claudio Noronha, 40, aproveitou o sol e a temperatura próxima de 25°C neste domingo (2) para andar de bicicleta em um dos lugares mais conhecidos de Porto Alegre: a orla do Guaíba. O administrador de empresas havia ficado um mês sem ir ao local.
A ausência foi provocada pela enchente de proporções históricas do lago, cuja destruição ainda é sentida na capital gaúcha. A cheia inundou bairros centrais e das zonas sul e norte, onde a água demorou mais para começar a baixar.
Noronha afirma que trabalhou como voluntário ao longo das últimas semanas. Agora, com a redução do nível do Guaíba, tenta retomar atividades cotidianas, como exercícios físicos ao ar livre.
“A gente tem de retomar a vida, mas sem esquecer o próximo. O processo é longo. É um estado de luto em que a gente ainda se encontra.”
A exemplo de Noronha, outros moradores da capital gaúcha aproveitaram o domingo de sol para reocupar espaços de lazer como a orla do Guaíba.
Tradicionalmente, a área costuma receber famílias, casais e amigos em busca de atividades físicas ou rodas de conversa regadas a chimarrão. Não foi diferente neste domingo de recomeço.
O fluxo de pessoas, porém, ainda está aquém de um domingo normal. Pontos comerciais seguiam fechados na região, e quadras esportivas apresentavam uma coloração marrom, reflexo do barro levado pela cheia do Guaíba.
Parques também receberam moradores em busca de momentos de lazer neste domingo. São os casos do Marinha do Brasil, vizinho da orla, e do Farroupilha, mais conhecido como Redenção, um dos cartões-postais da cidade.
As cunhadas Juliana Stella, 42, e Daiana Mattana, 45, aproveitaram o sol para conversar e tomar chimarrão na orla. “A gente estava mais em casa. Não tinha como sair”, lembra Stella.
“O sentimento agora é de alegria e tristeza juntas. Tem a tristeza de ainda ver lama e muitos móveis jogados nas ruas da cidade, mas também tem a perspectiva de que as pessoas possam reviver momentos de alegria”, acrescenta.
Stella mora no bairro Sarandi, um dos mais castigados pela enchente na zona norte de Porto Alegre. Ela diz que não teve a casa afetada pela cheia, mas lamenta que parte da população local ainda apresente dificuldades para retornar para casa.
Mattana, por sua vez, vive no município de Flores da Cunha, na Serra Gaúcha (a cerca de 150 km da capital). Ela visitou o namorado em Porto Alegre.
Conforme Mattana, o deslocamento entre as duas cidades costuma levar em torno de duas horas e meia em períodos normais. Após o desastre das chuvas, o trajeto chegou a durar de seis a sete horas.
“A gente até ficou um tempo sem se ver”, diz.
A tragédia ambiental alagou rodovias, provocou deslizamentos e arrancou pontes em diferentes regiões do Rio Grande do Sul. Tudo isso ainda dificulta o transporte de pessoas e mercadorias após um mês do início das chuvas.
LEONARDO VIECELI / Folhapress