SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A tempestade que atingiu a região metropolitana de São Paulo na noite de sexta (11) causou destruição e um apagão que já dura mais de 24 horas. A soma dos ventos fortes, da queda de árvores e da falta de energia gerou uma série de prejuízos para moradores e comerciantes.
A contadora Melissa Oliveira, 32, conta com tristeza sobre o desfecho que teve seu Renault Clio, ano 2004. O carro, apelidado carinhosamente de Clilson, não resistiu a queda de uma árvore de grande porte e se transformou em uma chapa de ferro retorcido. O automóvel não tinha seguro.
Outros dois carros foram atingidos, mas não ficaram destruídos.
Por volta das 17h deste sábado (12), os moradores da rua Catão, na Vila Romana, zona oeste da capital, acompanhavam os trabalhos de remoção da árvore e de galhos. A fiação também foi atingida.
Segundo eles, a destruição teve início pouco antes das 20h de sexta, depois de uma rajada de vento.
Melissa contou que temia a queda da árvore e por isso não deixava o carro naquele ponto. Quanto começou a ventania, ela tentou sair de casa, mas foi impedida pelo namorado.
“Olhei da minha janela e vi o tempo virando. Se meu namorado tivesse deixado eu sair, eu poderia estar agora sob o carro”.
Melissa disse ter aberto um pedido de poda da árvore em fevereiro e, na mesma data, avisou a central 156 da prefeitura sobre o risco de queda.
Ela afirmou que somente neste sábado soube que o pedido havia sido negado.
O subprefeito da Lapa, José Marcelo Costa, estava presente no local. Segundo ele, o pedido foi indeferido por ausência de informações, que deixaram a solicitação inconsistente.
Ainda de acordo com Costa, uma engenheira agrônoma esteve no local e afirmou que a árvore estava sadia.
Outros moradores que acompanhavam os trabalhos se queixaram de uma possível negligência da Enel e da prefeitura.
A dona de casa Marta Oliver, 46, proprietária de um carros danificados, um Hyundai HB20 ano 2022, criticou o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que esteve anteriormente na rua.
“O segundo turno ainda não foi. Se tivesse ganhado, nem vinha”, disse ela.
Na Barra Funda, um grupo de amigos jogava truco na calçada do bar do Sinval, na rua Doutor Ribeiro de Almeida. A jogatina, que sempre ocorre dentro do estabelecimento, perdeu o lugar por falta de luz.
O dono, Sidnei Guimarães, o Zonga, 49, contava os prejuízos de um sábado sem luz. Ele disse que deixou de vender cerca de 80 refeições. Também tinha medo que caso a falta de energia continuasse, perdesse bebidas e carnes congeladas.
Até a noite deste sábado 1,35 milhões de clientes da Enel na grande São Paulo ainda estavam sem luz.
Uma árvore caída ao lado, na rua Anhanguera, era a causadora do problema no bar.
Sentado na soleira de um comércio fechado de frente para a árvore caída estava o marceneiro Orlando Bind, 78. Diabético, ele necessita de aplicações de insulina, armazenadas em uma geladeira.
“É uma vergonha. Foi às 19h de ontem e até agora, nada. Coloquei a insulina em uma caixa de isopor com gelo. Vou ter que comprar mais gelo”.
Na noite deste sábado alguns moradores do Campo Limpo também sofriam com a falta de energia. Em um condomínio na avenida Professora Nina Stocco, onde um homem morreu após a queda de uma árvore, a luz ainda não havia sido reestabelecida.
A mesma região estava incomunicável na noite deste sábado. A rede de telefonia e de internet sofria com um apagão. A atendente de uma loja contou que desde cedo moradores procuraram o estabelecimento, um dos poucos com energia, para usar o wifi ou carregar o celular.
Pele cidade, alguns semáforos continuavam apagados, como na praça Panamericana, em Pinheiros, e na avenida Eliseu de Almeida, no Butantã, além da avenidas Rebouças e Brasil.
A Enel disse em nota que “reitera seu compromisso com a população em todas as áreas em que atua e seguirá investindo para entregar uma energia de qualidade para todos”. Também destacou que técnicos da companhia seguem trabalhando para reconstruir trechos da rede elétrica danificados e restabelecer o serviço.
PAULO EDUARDO DIAS / Folhapress