RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O terceiro dia de operações das forças de segurança do Rio de Janeiro em comunidades da zona oeste, nesta quarta-feira (17), foi marcado por protestos e confrontos na Cidade de Deus, depois que construções irregulares de comerciantes foram demolidas na região.
Moradores atearam fogo em caçambas de lixo, pneus e outros objetos deixados na rua para bloquear o acesso de policiais às principais da comunidade.
Houve confronto entre os manifestantes e policiais militares. Pedras, garrafas e fogos de artifício foram lançados contra os PMs, que revidaram com tiros de borracha e bomba de gás.
Os moradores argumentavam que não tinham sido autuados ou notificados previamente sobre a ação e que, sem aviso, ficariam sem seu sustento.
Em meio ao tumulto, o ex-secretário municipal da Juventude do Rio e atual pré-candidato a vereador pelo PSD Salvino Oliveira foi agredido.
Nesta quarta, a Secretaria Municipal de Ordem Pública entrou na Cidade de Deus com o auxílio do Batalhão de Choque da Polícia Militar para retirar 30 estruturas de comércio irregulares na comunidade.
A ação faz parte da operação das forças de segurança do Rio, batizada de Ordo, que também mobiliza concessionárias de serviços e órgãos estaduais e municipais.
O ex-secretário acompanhava a atuação dos agentes da Ordem Pública. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram o momento em que Salvino é encurralado enquanto leva tapas, socos e empurrões. Segundo o pré-candidato, a discussão foi provocada por opositores.
“Eu recebi muitas ligações de moradores frustrados e preocupados de estarem perdendo seu ganha-pão por conta de uma operação do governo do estado. Fui lá tentar acalmar e encaminhar a situação”, disse ele em um vídeo postado nas redes sociais, acrescentando que “uma minoria de opositores políticos” incentivou as agressões contra ele.
Imagens divulgadas nas redes sociais mostraram o cenário tenso, com fogo e fumaça densa em diferentes pontos, enquanto a polícia tentava avançar com veículos blindados e moradores corriam pelas ruas.
Um ônibus foi apedrejado, e ao menos nove linhas tiveram os itinerários alterados. Uma unidade de saúde foi fechada, enquanto outras suspenderam visitas domiciliares.
No fim do dia, após a ação, o secretário estadual de Segurança Pública, Victor dos Santos, afirmou que a Cidade de Deus é um “foco importante”. Disse ainda que, apesar da agressão sofrida pelo ex-secretário, a operação irá prosseguir, com ajustes.
“A gente está no caminho certo. A cada dia a gente avalia a ação do dia seguinte”, afirmou Santos, durante entrevista coletiva ao lado do secretário municipal de Ordem Pública, Brenno Carnevale, e do subsecretário interino de Polícia Civil, Alexandre Capote.
Já Carnevale disse que irá registrar ocorrência policial devido às agressões sofridas pelo ex-secretário Salvino Oliveira.
Segundo as autoridades, 60 suspeitos foram presos nos três dias de operação, e sete menores foram apreendidos. O balanço inclui ainda o estouro de uma central clandestina de TV a cabo e a interdição de ferros-velhos. A polícia também fechou uma central clandestina de internet no Morro do Jordão, em Jacarepaguá.
A operação Ordo envolve 2.000 policiais, que atuam nas comunidades por tempo indeterminado. O objetivo, segundo o governo, é identificar, investigar e prender criminosos.
Além da Cidade de Deus, a ação policial foi inicialmente realizada em Gardenia Azul, Rio das Pedras, Morro do Banco, Fontela, Muzema, Tijuquinha, Sitio do Pai Joao, Terreirao e Cesar Maia. Dessas, somente Rio das Pedras tem forte influência da milícia, sendo o berço delas no estado. As outras são dominadas por traficantes da fação Comando Vermelho.
A partir desta quarta-feira, a ação foi ampliada para outras quatro comunidades, todas na zona oeste da capital: Covanca, Santa Maria, Bateau Mouche e Jordão.
ALÉXIA SOUSA / Folhapress