Moradores relatam supostos abusos de policiais em operação na Maré, no Rio

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Moradores do Complexo da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro, relatam que policiais militares do Bope (Batalhão de Operações Especiais) invadiram casas nas comunidades durante a operação que entrou pelo terceiro dia nesta quarta-feira (11).

A Secretaria de Estado de Polícia Militar afirma que o Comando do Bope tomou conhecimento do fato por meio de vídeos publicados nas redes sociais e que as imagens estão sendo analisadas para tentar identificar se houve a participação de agentes da corporação no fato relatado.

Imagens que circulam nas redes sociais mostram uma casa completamente revirada na Vila do João, que é alvo da operação Maré.

Um vídeo que circula nas redes sociais mostra uma casa revirada na Vila do João, que fica no conjunto de favelas. “Para que destruir as coisas dos outros?”, questiona a moradora que gravou a própria residência com roupas no chão e móveis quebrados.

Outra imagem que também circula na internet mostra policiais do Bope apontando um fuzil para dentro da casa de um morador do Complexo da Maré.

Moradores afirmaram que PMs ainda teriam colocado fogo em uma farda de criminosos apreendida durante a ação na comunidade, o que ocasionou o disparo de munição que estava no bolso do uniforme. Segundo as testemunhas, a farda falsa foi apreendida por policiais durante buscas na Baixa do Sapateiro. A munição teria sido detonada com o calor do fogo, atingindo algumas casas, inclusive uma lanchonete.

Os relatos chagaram a deputados e vereadores. A deputada estadual Renata Souza (PSOL) criticou as supostas violações praticadas pelos policiais.

“Esse é o terceiro dia de operação policial na Maré. Já são 3 dias de tensão e medo, com tiroteios intensos e relatos de violações. Os resultados até agora não se mostraram. Enquanto na Barra da Tijuca 47 fuzis foram apreendidos sem nenhum tiro disparado, pra favela sobra o terror”, disse se referindo à uma ação da Polícia Federal que apreendeu fuzis em uma mansão no bairro da zona oeste na noite desta terça (10).

A vereadora Mônica Cunha (PSOL) afirmou, nas redes sociais, que o episódio configura uma violação. “Como se não bastasse o impacto na educação e na saúde, policiais invadiram uma casa e reviraram tudo. Prática antiga, mas não se pode normalizar isso. Porque se trata de uma violação”, escreveu.

Neste terceiro dia de operação na comunidade, houve relatos de intenso tiroteio nas regiões conhecidas como Conjunto Esperança, Vila do João, Vila do Pinheiro, Salsa e Merengue. As ações começaram após o assassinato a tiros de três médicos na Barra da Tijuca e, no dia seguinte, de quatro suspeitos de envolvimento no ataque.

Por causa da operação, 37 escolas municipais suspenderam as aulas no Complexo da Maré. Ao todo, são 15.291 alunos sem estudar nesta quarta-feira.

Nesta quarta, a ação mira a prisão de chefes do TCP (Terceiro Comando Puro), a segunda maior facção criminosa do estado. Pelo menos 12 pessoas foram presas e seis fuzis apreendidos, segundo o governo do estado.

Em coletiva de imprensa, o governador Cláudio Castro (PL) e o procurador-geral de Justiça Luciano Mattos incentivaram a população a denunciar os possíveis abusos cometidos pelos agentes e informaram que a Corregedoria da PM vai apurar cada denúncia.

Castro reforçou que os policiais envolvidos em casos como estes serão punidos. “Nossa corregedoria tem punido muito através do 190, denuncie mesmo, porque um mau policial não terá ninguém que passe a mão na cabeça dele, se ele cometer abusos e erros ele será tão punido quanto criminosos”, disse.

O procurador-geral da Justiça Luciano Mattos disse que os canais do Ministério Público no site estão abertos 24 horas para receber denúncias de moradores.

Para denúncias, a Polícia Militar indica que os moradores entrem em contato através do telefone (21) 2334-6045 ou e-mail [email protected]. A Corregedoria Geral da também pode ser contactada através do telefone (21) 2725-9098 ou ainda pelo site https://www.cintpm.rj.gov.br/. O anonimato é garantido.

ALÉXIA SOUSA / Folhapress

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