BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), homologou neste sábado (9) o acordo de delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Com a decisão, Cid foi solto por volta das 15h, mas passará a usar tornozeleira eletrônica. A informação sobre a homologação foi revelada pela GloboNews e confirmada pela reportagem.
O teor dos relatos e provas que o militar pretende apresentar em seu acordo permanece sob sigilo.
Moraes também determinou o afastamento de Cid do cargo de oficial do Exército e mandou suspender o porte de arma do ex-auxiliar de Bolsonaro. Além disso, vetou o uso de redes sociais e o proibiu de sair do país.
“Obrigação de apresentar-se perante ao Juízo da Execução da Comarca de origem, no prazo de 48 horas e comparecimento semanal, todas as segundas-feiras”, decidiu o ministro.
Na decisão, o ministro afirmou que no atual momento das investigações não é mais necessário manter Cid preso.
“O encerramento de inúmeras diligências pela PF e a oitiva do investigado, por três vezes e após ser decretada sua incomunicabilidade com os demais investigados, apontam a desnecessidade da manutenção da prisão preventiva, pois não mais se mantém presente qualquer das hipóteses excepcionais e razoavelmente previstas na legislação que admitem a relativização da liberdade de ir e vir para fins de investigação criminal”, escreveu.
O magistrado disse, no entanto, que o “descumprimento de qualquer uma das medidas alternativas implicará na revogação e decretação da prisão”.
A delação é um meio de obtenção de prova, que não pode, isoladamente, fundamentar sentenças sem que outras informações corroborem as afirmações feitas. Os relatos devem ser investigados, assim como os materiais apresentados em acordo.
Como a premissa da delação é indicar outros possíveis envolvidos nos fatos apurados, a negociação de Cid tem gerado expectativa no meio político sobre eventuais depoimentos que atinjam Bolsonaro.
Em publicação em rede social, o procurador-geral, Augusto Aras, afirmou neste sábado que a Procuradoria-Geral da República não concorda com acordos de colaboração firmados pela PF, como foi o caso do fechado pelo militar.
“A PGR, portanto, não aceita delações conduzidas pela Polícia Federal, como aquelas de Antonio Palocci e de Sergio Cabral, por exemplo.”
Aras ainda afirmou que o subprocurador-geral da República que se manifestou na delação de Mauro Cid apenas postula “que se cumpra a lei”. O Supremo, no entanto, desde 2018 considera que as polícias têm autonomia para firmar os acordos de colaboração.
Em agosto, o advogado de Cid, Cezar Bitencourt, já havia afirmado que o militar iria confessar ter negociado nos Estados Unidos, a mando de Bolsonaro, as joias recebidas pelo governo brasileiro e que são alvo de investigação da PF.
O advogado afirmou em agosto que o seu cliente apenas cumpriu ordens de Bolsonaro recuou e depois reafirmou, num vaivém confuso. “Ele confessa que comprou as joias evidentemente a mando do presidente. Comprou e vendeu. ‘Resolva esse negócio e venda’, [teria dito Bolsonaro]”, disse Bitencourt em 17 de agosto sobre a venda das joias e relógios.
Mauro Cid foi preso em 3 de maio por suspeita de adulterar o seu cartão de vacinação, o de Bolsonaro, o de sua esposa, Gabriela Cid, e de uma de suas filhas.
Segundo a Polícia Federal, o militar teria colocado a informação falsa de que eles haviam sido vacinados para permitir a ida deles aos Estados Unidos dias antes da posse de Lula.
Moraes recebeu em seu gabinete uma proposta de delação premiada feita pelo tenente-coronel, em audiência na quarta-feira (6) com a presença do próprio Cid e de seu advogado.
Preso há mais de quatro meses no Batalhão do Exército de Brasília, Cid era um dos assistentes mais próximos de Bolsonaro e adotou postura de maior cooperação com autoridades policiais após mudar de advogado, em agosto.
Em julho, ele compareceu a CPI do Congresso sobre o 8 de janeiro e ficou em silêncio, lendo apenas uma manifestação na qual minimizou a importância de sua função na Presidência na antiga gestão.
Na ocasião, ele próprio disse ser alvo de oito frentes de investigação, que incluem o caso das joias presenteadas por autoridades estrangeiras, um plano golpista encontrado em seu celular e transações financeiras suspeitas do gabinete do então presidente.
Na quinta-feira (7), após notícias da negociação do acordo do tenente-coronel, o ex-secretário de Comunicação do governo Bolsonaro Fabio Wajngarten, publicou em rede social: “A quem possa interessar em pleno feriado de 7 de setembro completamente esvaziado: não há o que DELATAR”.
A situação do ex-ajudante de ordens se agravou no último dia 11 de agosto, quando foi deflagrada a Operação Lucas 12:2, sobre a venda de joias presenteadas na gestão anterior. A investigação incluía troca de mensagens de Cid sobre uma “operação resgaste” das peças nos Estados Unidos e atingiu também seu pai, o general da reserva Mauro Lourena Cid, amigo de Bolsonaro.
JULIA CHAIB, CONSTANÇA REZENDE E MATHEUS TEIXEIRA / Folhapress