BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O suposto plano para assassinar o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, o então presidente eleito Lula (PT), e seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), contém um personagem até agora não identificado pela Polícia Federal: “Juca”.
Documento intitulado “Planejamento – Punhal Verde Amarelo”, apreendido com o general da reserva Mario Fernandes secretário-executivo e que chegou a ocupar interinamente a titularidade da Secretaria-Geral da Presidência na gestão de Jair Bolsonaro (PL), traz um esboço de planejamento que assassinatos de autoridades no contexto da execução de um golpe de estado no final de 2022.
Sem citar nomes, há indicativos de que os alvos seriam Moraes, “Jeca”, “Joca” e “Juca”.
Pela descrição, há elementos suficientes para inferir Moraes como o primeiro alvo, “Jeca” como Lula e “Joca” como Alckmin. Já “Juca” permanece uma incógnita, por ora.
“Citado como ‘iminência [SIC] parda do 01 e das lideranças do futuro gov’, o autor indica que sua neutralização desarticularia os planos da ‘esquerda mais radical’. A investigação não obteve elementos para precisar quem seria o alvo da ação violenta planejada pelo grupo criminoso”, escreveu a PF no seu relatório.
O documento Punhal Verde Amarelo, que a PF afirma ter sido criado e impresso pelo general que então auxiliava Bolsonaro, traz a seguinte descrição para a codinome Juca: “Como iminência [SIC] parda do 01 [Lula] e das lideranças do futuro Gov, a sua neutralização desarticularia os planos da esquerda mais radical. Como reflexo da ação, não se espera grande comoção nacional”.
Já em relação a Moraes, apesar de o nome do ministro não ser citado, a PF enumera evidências de que ele seria o primeiro alvo, com base nas inscrições codificadas que dão a entender a necessidade de monitoramento e planejamento de seus passos, com detalhamento da quantidade de agentes e armamento para a ação.
“Considerando todo o contexto da investigação, o documento descreve um planejamento de sequestro ou homicídio do ministro Alexandre de Moraes. Essa afirmação se baseia, além de todas as referências ofensivas ao ministro nos áudios e diálogos mantidos por Mario Fernandes, em alguns detalhes do documento”, diz a PF.
O documento traz indicações que guardam relação com a apuração da polícia de uma provável tocaia contra o ministro realizada em 15 de dezembro.
Entre os itens listados no documento apreendido com o general estão seis celulares com chip da empresa Tim. A ação do dia 15, de acordo com as investigações, de fato empregou seis celulares com chips da operadora, todos habilitados em nomes de terceiros para dificultar a identificação.
A seguir, a PF relata o armamento listado no “Punhal Verde amarelo”.
“A lista com o arsenal previsto revela o alto poderio bélico que estava programado para ser utilizado na ação. As pistolas e os fuzis em questão (‘4 Pst 9 mm ou .40” e “4 Fz 5,56 mm, 7,62 mm ou .338’) são comumente utilizados por policiais e militares, inclusive pela grande eficácia dos calibres elencados. Chama atenção, sobretudo, o armamento coletivo previsto, sendo 1 metralhadora M249 MAG MINIMI (7,62 mm ou 5,56 mm), 1 lança Granada 40 mm e 1 lança-rojão AT4 . São armamentos de guerra comumente utilizados por grupos de combate.”
Sobre Lula (“Jeca”), o documento diz que sua vulnerabilidade de saúde e ida frequente a hospitais possibilitaria a utilização de envenenamento ou uso de químicos “para causar um colapso orgânico”. Afirma que sua neutralização colocaria o país sob tutela do PSDB, possível referência ao ex-partido de Alckmin.
Já em relação ao vice (“Joca”), o texto diz que sua neutralização “extinguiria a chapa vencedora”.
O método de assassinato de Moraes e Lula seria por meio de armas de fogo ou envenenamento. Já para Alckmin e “Juca”, o texto não aponta o método planejado.
A Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão e de prisão nesta terça-feira (19) contra suspeitos de integrarem uma organização criminosa que, segundo as investigações, planejou um golpe de Estado em 2022 para impedir a posse do petista.
Autorizada por Moraes, ela mirou, além de Fernandes, um policial federal e militares com formação nas forças especiais, os chamados “kids pretos”.
RANIER BRAGON / Folhapress